terça-feira, 8 de outubro de 2019

Fugir do ninho é difícil

Os jovens portugueses cada vez mais alargam a sua estadia na casa dos pais. Muitos pensam que é por conforto ou falta de vontade, mas será sustentável viver sozinho com níveis de rendimento baixos no início de carreira e rendas elevadas?
A empregabilidade dos jovens não é de todo uniforme, com contratos irregulares, sem segurança no emprego ou salários razoáveis, onde muitas vezes as habilitações de nível superior não são valorizadas. A entrada no mercado de trabalho, para inúmeros jovens, é marcada por uma fase onde predomina o desemprego, a precaridade e a insegurança, à qual está associada a dependência económica por um período incerto. Neste contexto, a instabilidade financeira dos jovens surge como um dos motivos para o prolongamento da juventude, permanecendo cada vez até mais tarde na casa dos pais, adiando a sua independência.
Ao mesmo tempo, o preço das habitações é cada vez mais elevado e desproporcionado quando comparado com o valor médio dos rendimentos. Tudo isto leva a que a autonomia dos jovens seja adquirida cada vez mais tarde.
Segundo dados publicados pela Eurosat, Portugal é dos países onde os jovens abandonam a casa dos pais mais tarde, em média aos 29 anos. Este valor é superior à média de 26 anos da União Europeia. A Suécia é o país onde os jovens saem mais cedo do lar, em média aos 18,5 anos, sendo seguido pelo Luxemburgo e Dinamarca, com valores entre os 20 e os 21 anos. Por outro lado, jovens de Malta e Croácia são os que permanecem mais tempo em casa dos pais, aproximadamente até aos 32 anos. 


Existe também uma significativa diferença entre a saída de homens e mulheres, sendo que, por norma, as mulheres abandonam mais cedo a habitação familiar. No caso de Portugal, a diferença é de quase dois anos (28 anos para as mulheres e 29,9 para os homens).
Estas condições incentivam os jovens a procurar outras oportunidades, sendo a opção de emigrar a melhor escolha para a maioria deles. Em sete anos, o país perdeu mais de 158 mil jovens entre a mão-de-obra empregada.
É por isso que é cada vez mais importante existirem apoios que ofereçam aos jovens alguma possibilidade de estabilidade no início de carreira. Alguns desses apoios estão relacionados com o empreendedorismo jovem, como o FINICIA, Empreender+, Programa Investe Jovem e o Programa de Apoio ao Empreendedorismo e à Criação do Próprio Emprego. Estes programas focam-se em jovens entre os 18 e os 35 anos que tenham alguma ideia de negócio e a quem são fornecidos meios de investimento, bolsas, parcerias científicas e inovação para impulsionarem o seu negócio.
Em termos de apoio ao arrendamento, o mais conhecido é o Programa Porta 65 Jovem. Este programa apoia o arrendamento jovem de habitação para residência permanente, atribuindo uma percentagem de valor da renda como subvenção mensal. O objetivo é garantir uma maior equidade e eficiência do apoio público ao arrendamento por jovens.
Mas estas são medidas que poderão não bastar para manter jovens no emprego nacional e que consigam tornar-se independentes num país onde os salários líquidos se mantêm baixos. Por isso, o melhor caminho passa seguramente por melhorar os rendimentos do trabalho para quem está a iniciar uma carreira profissional e por apoios às famílias jovens.

Sílvia Dias



[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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