Desde
a campanha eleitoral, o défice comercial com a China tem sido uma das
principais preocupações do presidente Trump. Não demorou muito para seu
discurso se tornar ações que eclodiram em uma guerra comercial entre as duas
maiores economias do mundo. A guerra comercial tem um nome muito explicativo e
consiste no ataque às exportações de um país através de tarifas, a implementação
de tarifas é retaliada e o processo se repete.
Os
argumentos de Trump contra as práticas de comércio da China são
surpreendentemente válidos, tendo em vista a incapacidade do presidente
americano de compreender o que os efeitos destas práticas representam. O
presidente americano acusa o governo Chinês de artificialmente desvalorizar sua
moeda, aumentando a competitividade dos produtos chineses no mercado
internacional. Além disso, empresas chinesas são acusadas de roubar propriedade
intelectual de seus competidores americanos. Outro problema é o fato de o
governo chinês manter relações especiais com empresas nacionais, o que tende a
dificultar a entrada de empresas internacionais no mercado local. Todas estas práticas
levam de fato a uma competição injusta no mercado internacional e devem ser combatidas
por qualquer país que se sentir lesado. Entretanto, as ações de Trump são
incoerentes com suas preocupações e os efeitos de uma guerra comercial são
dificilmente justificáveis.
As
preocupações são duas: o crescente défice na balança comercial entre Estados
Unidos e China e trazer os empregos de volta para os Estados Unidos.
Primeiramente, o défice tem crescido, especialmente desde a entrada da China na
OMC. Esta persistente diferença aponta que os EUA têm perdido produtividade em
relação aos chineses. Além disso, assim como diversas economias desenvolvidas,
a americana tem migrado para o setor terciário. Caso a intenção do presidente seja
realmente reduzir o défice, uma solução eficaz, ainda que possivelmente
desnecessária, seria estimular o investimento nos setores que vêm perdendo
competitividade. Segundo, os empregos são a questão mais bizarra a ser
levantada, isso porque os Estados Unidos têm encontrado taxas de desemprego que
vem diminuindo desde a administração anterior e atualmente se encontram
historicamente baixas, em 3,6%. A impressão é que o foco não são os empregos
mas sim uma intenção motivada por nostalgia de ressuscitar indústrias
moribundas, como a do carvão.
Diferente
das preocupações do presidente, os efeitos da guerra comercial são extremamente
reais e nocivos, não só para a economia americana mas como para a economia
global. As tarifas aumentam não só o preço dos produtos taxados mas também de
toda a cadeia de produção que os utiliza como insumos. Este aumento de preço
atinge o consumidor final, reduzindo o consumo. O problema é que em economias
tão grandes como a China e os Estados Unidos esse encarecimento de produtos e
insumos atinge níveis globais, enfraquecendo o comércio no resto do mundo.
Outro impacto acontece no valor do dólar: devido às tarifas, a oferta da moeda
no mercado internacional se reduz, isso porque está sendo captada pelo governo.
Esse processo leva à apreciação do dólar, o que serve justamente contra o propósito
de Trump, que é reduzir o défice da balança comercial. Provavelmente por isso o
presidente tenha demonstrado seu interesse na redução de taxas de juros com
intuito de estimular a economia, externando críticas muito fortes ao presidente
do FED.
Em
meio a declarações polêmicas e práticas protecionistas, se dá a política
internacional norte americana. O fato é que Trump tem comprado brigas em
diversas frentes e tomado ações que muitas vezes prestam um desserviço aos seus
propósitos. Por fim, é difícil prever como vai se dar a resolução dessa guerra
comercial uma vez que os dois países não estão interessados em ceder. A única
certeza é que a economia global, que caminha para uma crise, aguarda
ansiosamente o fim dessa disputa.
Gabriel Costa Mendes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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