O sistema de segurança
social português é predominantemente público, consistindo, portanto, num
mecanismo de repartição baseado na solidariedade intergeracional - os
trabalhadores no ativo financiam as pensões de reforma dos mais velhos.
Atualmente, o país
enfrenta uma problemática que está de igual forma a causar enorme preocupação a
nível internacional: o envelhecimento progressivo da população. Esta realidade
deve-se essencialmente a dois fatores: o aumento da esperança média de vida; e
a diminuição da taxa de natalidade.
Qual é o perigo associado? Logicamente, se o
número de seres humanos que efetivamente nasce é menor e se o número de idosos
está a aumentar, isso significa que, no futuro, existirão menos contribuintes
para mais pessoas a necessitar do benefício da reforma.
Ora, nesta fase, a
questão que se coloca surge de modo espontâneo: Como será possível garantir a
sustentabilidade da segurança social? O governo já idealizou estratégias de
combate à eventual crise na proteção social: em primeiro lugar, tomar medidas
que incentivem o aumento da natalidade, sendo que, para este efeito, o PS
anunciou, no seu programa eleitoral, que iria reforçar as deduções fiscais em
função do número de filhos; em segundo lugar, construir políticas que induzam
ao aumento da imigração, pelo que o primeiro ministro defende que pretende
acabar com as quotas para contingentes laborais para quem vem de fora da União
Europeia, com o objetivo de alargar a população empregada no país que realiza
contribuições para as pensões da geração mais velha. De facto, estes nudges são essenciais para amenizar o
negativismo dos impactos económicos inerentes ao colapso do sistema social uma
vez que travam o esforço financeiro exigido pelo ritmo de envelhecimento
demográfico.
Para além destas
soluções, o antigo ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social
afirma que a possibilidade de entrar num sistema de capitalização está completamente
“fora da mesa”. É certo que o domínio público continuará a ser fundamental para
estabelecer a justiça redistributiva no país, na medida em que os subsídios de
doença, subsídios de sobrevivência, pensões de invalidez e mesmo algumas pensões
de velhice terão de ser gastos suportados pelo Estado de modo a evitar o
crescimento da pobreza/exclusão social e continuar com uma cultura equitativa.
Agora, porque não incentivar, sobretudo os jovens, a poupar para a sua reforma?
Isto permitiria reduzir os encargos do Estado para com os seus cidadãos e aumentar
substancialmente os níveis de poupança em Portugal, que são muito baixos.
Logo, estender as fontes
de financiamento a planos de reforma privados complementares é na verdade
bastante vantajoso, pois acaba por ter em consideração este entrave da economia
portuguesa. Por exemplo, os EUA têm um sistema designado por 401(k), no qual o
trabalhador investe uma parte do salário numa aplicação financeira,
principalmente em fundos mútuos constituídos por um portfolio diversificado de ações e obrigações. Para gerir estas
carteiras de investimento, as empresas contratam sociedades de investimento
especializadas de forma a otimizar a poupança. Assim, Portugal deveria tentar começar
a replicar este género de proteção social de modo mais expressivo, fornecendo
recompensas fiscais a quem enveredasse pela opção de Planos de Poupança Reforma
individual, com o intuito de desenhar um sistema de segurança social mais
autónomo.
Chegou a hora de mudar! É
hora de criar uma ligação mais firme entre o público e o privado. Todos temos
responsabilidades sociais e é crente aquele que acredita que só o Estado o tem.
E digo isto principalmente para os jovens, futuro elemento potenciador do
crescimento económico, que devem preocupar-se crescentemente em distribuir o rendimento
ao longo do ciclo de vida de modo a assegurar um valor indispensável para
consumo na reforma.
A privatização do sistema
de segurança social em Portugal será um processo complexo de implementação, no
entanto, em qualquer prática de longo-prazo tem de existir um ponto de partida,
no sentido de reformar estruturalmente o seu funcionamento. Se assim não
acontecer, como serão suportados os gastos com as pensões associados ao aumento
progressivo da população idosa? Ou o governo decide contrair ainda mais dívida
pública, ou ocorrerá um aumento de impostos para a nova geração, o que
compreensivelmente não é aconselhável pela dimensão de confiança, credibilidade
e retração económica que apresenta para o país.
Deste modo, é
imprescindível que cada um se torne o principal responsável pela sua
independência financeira, enquanto que o Estado continua a exercer a sua função
nesta batalha ligada ao desafio demográfico.
Tiago Almeida Ribeiro
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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