sábado, 5 de outubro de 2019

AS RENDAS GALOPANTES

O aumento exponencial das rendas tem sido um tema muito discutido nestas eleições, trazendo protestos e reclamações por parte de estudantes e famílias que afirmam que a situação está a tornar-se insustentável.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou os dados relativos às rendas para o primeiro semestre deste ano, no qual podemos verificar que as rendas subiram 9,2%, em relação ao mesmo período do ano passado. Desta forma, o preço médio nacional por metro quadrado é de 5€. É notável que as rendas mantêm uma tendência interrupta de subida a nível nacional desde 2017, primeiro ano em que o INE divulgou estatísticas em relação a este tema.
Houve 37 municípios em que o preço por metro quadrado ficou acima da média nacional, sendo a maioria destes localizados na Área Metropolitana de Lisboa ou no Algarve – os dois maiores pontos turísticos em Portugal. O Porto encontra-se também entre os 5 distritos mais caros do país, encontrando-se com uma média de 8,33€ por metro quadrado.
É fácil perceber a influência que o turismo tem neste aumento galopante das rendas. Com um fluxo de turistas quase constante e cada vez maior, é mais vantajoso para os senhorios tornarem as suas habitações alojamentos locais ou alugarem-nas a imigrantes e estudantes internacionais, com mais poder de compra, por rendas superiores àquelas que os portugueses conseguem suportar. O aumento muito significativo da procura derivado do turismo e da ascensão de Lisboa e Porto às zonas com maior oferta de emprego resultou num aumento ainda mais significativo das rendas e numa diminuição da qualidade de vida destas populações.
É interessante verificar que uma das subidas mais expressivas encontra-se no norte do país, especialmente em Braga, onde as rendas registaram um aumento de 16,4% em relação ao mesmo período no ano anterior. Tal deve-se à procura de muitas famílias de saírem da Área Metropolitana de Lisboa, que continua a ser a mais cara do país. Verificamos que muitos dos imigrantes que tem afluído para Portugal procuram estabelecer-se em áreas menos turísticas e com um menor custo de vida.
No concelho de Lisboa, o preço por metro quadrado atinge os 11,71€, o que significa que nesta região uma casa com 50 metros quadrados terá uma renda mediana de 585€. Valores insustentáveis como este levaram a que o número de novos contratos celebrados caísse drasticamente, em relação ao mesmo período do ano passado, em 10,5%. Esta situação verificou-se em todo o país, não havendo nenhuma região que demonstrasse um padrão contrário.
Números como estes são a prova que as famílias em Portugal não têm capacidade para suportar as rendas que estão a ser praticadas. O aumento galopante das rendas está a levar à diminuição da qualidade de vida da população portuguesa, que gasta grande parte do seu rendimento em renda e menos em atividades lúdicas, que tão importantes são para o equilíbrio. Provoca também uma dificuldade cada vez maior nos estudantes de conseguirem ir estudar para a universidade que desejam, uma vez que as suas famílias não conseguem suportar rendas destas proporções.
Concluo apontando o óbvio - algo precisa de mudar. Algo precisa de ser feito para estabilizar as rendas e devolver às famílias o direito a uma habitação cuja renda seja proporcional ao seu rendimento.

Maria José Costa Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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