Em
junho de 2019, o Facebook anunciou
que desenvolveria uma nova moeda digital chamada Libra, que reinventaria o bitcoin dez anos após o seu lançamento. Seu
objetivo é criar uma forma alternativa de pagamentos que possibilitaria que
indivíduos realizassem transações a taxas negligenciáveis, sem a necessidade de
uma conta bancária. As criptomoedas já existentes ainda não são consideradas
grandes ameaças às moedas tradicionais devido à sua alta volatilidade de preços
e custos de transação. Mas as alterações propostas pelo Facebook acompanhadas de seus mais de 2 mil milhões de usuários
obrigaram os bancos centrais de todo o mundo a repensarem seu papel na revolução
da moeda digital.
O
Facebook pretende fazer algumas
alterações em relação ao bitcoin para
solucionar seus diversos problemas. Para diminuir a volatilidade de preços, o Facebook anunciou que a Libra será
lastreada por uma reserva constituída por ativos de baixíssimo risco
denominados em diferentes moedas (50% em dólares e 50% dividido entre euro,
libra esterlina, yen e dólar de Singapura). Além disso, todo o dinheiro usado
para compra de Libra também será colocado na reserva, evitando os efeitos
negativos de uma possível “corrida aos bancos” que é observada no sistema de
reservas fracionárias. A empresa também
promete que as transações serão praticamente gratuitas e extremamente fáceis,
enquanto uma transação de bitcoin
pode custar vários dólares.
Se
a Libra conseguir alcançar esses objetivos, uma moeda digital como essa pode
ser extremamente benéfica para o sistema financeiro global, em que 1,700
milhões de pessoas não possuem uma conta bancária e precisam se submeter a
taxas obscenas para realizar qualquer tipo de pagamento, segundo dados do World
Bank.
No
entanto, uma possível proliferação da Libra levanta grandes preocupações. A
principal preocupação é a regulamentação dessa nova moeda. As leis que estão
sendo utilizadas para as criptomoedas existentes não são suficientes para
proteger os investidores e consumidores de uma moeda digital da dimensão que o Facebook propõe. Assim como outras
criptomoedas, será possível comprar e transacionar Libras a partir de usuários
pseudônimos, possibilitando o uso da moeda para a realização de crimes
financeiros, como evasão de impostos e lavagem de dinheiro. Para que a moeda
possa ser aceite, é necessário que sejam implementadas medidas extremamente
rígidas contra esses tipos de crimes. Por esse motivo, a empresa tem
apresentado dificuldades em realizar parcerias com bancos. Para além disso,
caso a Libra alcance uma dimensão similar a outras moedas tradicionais, é
possível que a nova moeda digital limite o poder de bancos centrais de
implementar política monetária por meio da alteração da oferta de moeda.
Certamente,
existe uma procura de moedas digitais que facilitem transferências e
pagamentos, mas essas preocupações levantam dúvidas de se esse movimento
deveria ser liderado por empresas privadas. Mark Carney, governador do Banco da
Inglaterra, declarou que está de “mente aberta”, “mas não de portas abertas”
para o projeto Libra, e sugere que seja criada uma moeda digital global
controlada por bancos centrais. Um projeto como esse poderia trazer os
benefícios da Libra e evitar que empresas privadas adquiram um poder financeiro
indesejável.
Uma
moeda global poderia eventualmente, também, substituir o dólar como moeda de
reserva. A importância do dólar no sistema monetário internacional atual faz
com que vários países fiquem reféns de flutuações da moeda americana, mesmo que
não sejam grandes parceiros comerciais dos EUA. Isso obriga os países a criarem
grandes reservas de dólares como prevenção a uma possível fuga de capital,
criando um excesso de poupança e baixos níveis de crescimento. Ao extinguir a
importância do dólar, esses problemas acabariam. A Libra pode não ser a
resposta para o sistema monetário mundial, mas ela abriu uma discussão para uma
solução melhor.
Lucas Guimarães
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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