Sendo o mercado de transferências no Mundo do Futebol uma
atividade que movimenta um volume de negócios cada vez com maior significado,
inclusive “desconhecendo-se” o relativo aos mercados asiáticos, associado à sua
importância social e ao carácter crescente dessa atividade, trata-se de um
objeto de estudo que, além de atual, parece vir a ter cada vez mais significado
do ponto de vista económico.
A forma semelhante com que eram definidos os períodos
cronológicos de transferências tornava este mercado regulado pela procura e
pela oferta. As variáveis existentes eram seguramente comuns na maioria das
transações. Introduzida a variação na variável cronológica ao nível apenas de
uma federação e sendo a mesma de importância marcante, verifica-se que o
mercado geral sofreu alteração com essa mesma medida, apesar de unilateral.
Os clubes da Premier
League (Liga Inglesa) tomaram a iniciativa: a partir de 2018 ,o período de
transferências passou a encerrar mais cedo, antecipando agora o último momento
possível para consumar uma transferência para a quinta-feira que antecede o
início do campeonato e não o final de agosto, como acontecia anteriormente.
Esta medida foi tomada após se verificar um consenso
entre os clubes, que afirmaram que uma janela expandida como a anterior
provocava instabilidade na equipa e no campeonato. Não obstante, continua a ser
permitida a venda/transferência de jogadores da Premier League para outro clube que atue em qualquer outro campeonato,
desde que este tenha o mercado aberto. Assim sendo, o objetivo desta medida é
acabar com a possibilidade de um jogador alinhar numa equipa e na jornada
seguinte alinhar noutra, na terra de Sua Majestade.
Tendo o mercado de transferências de jogadores de futebol
um fator especulativo associado, a possível redução do período de
negociação/transferência poderia vir a retirar parte desse valor meramente
especulativo, obrigando o negócio a ser mais objetivo, mais predefinido, mais assertivo
da parte do comprador, tornando o vendedor menos influenciável a rumores. Esses
rumores, por vezes, fazem com que o clube não desça a exigências que podem ser
irrealistas tendo em vista a possível chegada de "concorrência" na
compra do jogador, ou pode em simultâneo haver no mercado global uma
transferência "louca" de 100 milhões, o que aumentaria os valores
propostos, tentando assim concretizar o que pela dilatação do tempo possa
ultrapassar a dita janela e assim impossibilitar a efetivação do negócio.
Recentemente, foi pública uma tentativa de contratação de
Bruno Fernandes ao Sporting por parte do Tottenham a rondar os 65 milhões de
euros. Essa transferência acabou por não se dar pelo facto do Sporting fomentar
nos media a notícia da transferência
e ao mesmo tempo atrasar a decisão, na expectativa de ter mais propostas e de
maior montante.
A expectativa do aparecimento de ofertas noutros mercados
acabou por gorar-se sobretudo porque, habitualmente, nesses mercados de outras
ligas as transferências pautam-se por valores inferiores. Assim, o facto do
mercado inglês encerrar mais cedo acabou por tirar o efeito de procura que
existia até essa data e que naturalmente não foi contrabalançado por propostas
de outras ligas, apesar de cronologicamente ainda ser possível realizar
transferências.
O que aparentemente é um mercado com maior número de
ofertas, atendendo ao desfasamento cronológico, acaba por se traduzir em
momentos em que a procura é menor e, portanto, em termos de procura e oferta esse
valor acaba por cair.
A sincronia cronológica parece ser necessária para que
exista um modelo padrão, e as equipas possam programar e negociar com base no
presente, atenuando uma maior imprevisibilidade associada ao desfasamento de
prazos internacionais. Assim, talvez o Sporting tivesse aceitado a oferta de 65
milhões por um jogador avaliado no Transfermarkt
em 55 milhões (7/06/2019).
André
Vila Mendes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia
Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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