quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A euforia do Ouro

Nos últimos tempos têm-se tornado comum ouvir expressões do género “Cotação do ouro bate recordes” ou “Preço do ouro volta a subir”. O facto é que desde o rebentar da atual crise, em 2008, a cotação do ouro teve uma tendência positiva acentuada (ver gráfico). A instabilidade financeira, a crise Grega, a crise do Euro têm levado a uma crescente insegurança e volatilidade nos mercados, o que em parte pode explicar a crescente procura de ouro, como uma saída “segura”.
Uma questão fundamental surge: a elevada cotação deste metal é fruto da interação entre a oferta e a procura, ou estamos perante uma bolha? A resposta comum é “O Ouro é sempre o ouro”, mas não será irracional supor que a sua cotação se irá no futuro manter elevada?
Associada a esta tendência de subida de preços, têm surgido negócios de compra e venda de ouro. Segundo o jornal Público, entre janeiro e março de 2012 abriram em média dois estabelecimentos deste género por dia. Para obter uma licença ou matrícula junto da Imprensa Nacional da Moeda, basta vender diretamente ao público artigos de ouro, preencher um formulário, enviar fotocópias da documentação pessoal e da atividade, e pagar. A INCM emite a autorização, mas refere não ter qualquer poder de fiscalização. De entre as matrículas registadas no final 2011, a sua maioria estava localizada em Lisboa (1118), Porto (1095) e em Braga (422).
É um facto que os portugueses vivem tempos difíceis e que se um idoso vender a sua aliança para poder pagar a conta da farmácia ou a venda por parte das famílias de classe média de artigos de joalharia para pagar as contas mensais não é um absurdo. Contudo, a facilidade em abrir estes negócios e a pouca fiscalização não poderá fomentar condutas menos corretas? Pessoalmente, eu acredito que a facilidade da conversão de ouro em dinheiro fomenta e facilita o roubo.
Ainda a título pessoal, em Monção, um pequeno concelho no norte de Portugal com cerca de 19.179 habitantes, em 2009 não existia nenhum estabelecimento de compra e venda de ouro (excluindo as ourivesarias tradicionais) e atualmente existem pelo menos três. Assim sendo, concluo que os comportamentos acima citados provavelmente não serão sustentáveis a longo prazo e o ouro, à semelhança de qualquer ativo, não é isento de risco. Deve por isso haver uma reflexão antes de se investir em ouro. Contrariamente ao que se possa pensar, é menos arriscado apostar na diversificação de ativos (desde que estes não sejam correlacionados), em vez de apenas investir num ativo com pouco risco. De realçar ainda que uma maior fiscalização/regulação dos estabelecimentos acima referidos deveria ser considerada pelas entidades competentes.

Mariana Gonçalves Trancoso

Bibliografia
Publico. (s.d.). Obtido em 8 de novembro de 2012, de http://www.publico.pt/Economia/preco-do-ouro-e-sustentavel-ou-esta-a-beira-de-uma-bolha1514709

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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