Nos últimos tempos têm-se tornado
comum ouvir expressões do género “Cotação do ouro bate recordes” ou “Preço do
ouro volta a subir”. O facto é que desde o rebentar da atual crise, em 2008, a cotação do ouro
teve uma tendência positiva acentuada (ver gráfico). A instabilidade
financeira, a crise Grega, a crise do Euro têm levado a uma crescente
insegurança e volatilidade nos mercados, o que em parte pode explicar a
crescente procura de ouro, como uma saída “segura”.
Uma questão fundamental surge: a
elevada cotação deste metal é fruto da interação entre a oferta e a procura, ou
estamos perante uma bolha? A resposta comum é “O Ouro é sempre o ouro”, mas não
será irracional supor que a sua cotação se irá no futuro manter elevada?
Associada a esta tendência de subida de preços, têm surgido negócios
de compra e venda de ouro. Segundo o jornal Público, entre janeiro e março de
2012 abriram em média dois estabelecimentos deste género por dia. Para obter
uma licença ou matrícula junto da Imprensa Nacional da Moeda, basta vender diretamente ao público artigos
de ouro, preencher um formulário, enviar fotocópias da documentação pessoal e
da atividade, e pagar. A INCM emite a autorização, mas refere não ter qualquer
poder de fiscalização. De entre as matrículas registadas no final 2011, a sua maioria estava
localizada em Lisboa (1118), Porto (1095) e em Braga (422).
É um facto que os portugueses vivem
tempos difíceis e que se um idoso vender a sua aliança para poder pagar a conta
da farmácia ou a venda por parte das famílias de classe média de artigos de
joalharia para pagar as contas mensais não é um absurdo. Contudo, a facilidade
em abrir estes negócios e a pouca fiscalização não poderá fomentar condutas
menos corretas? Pessoalmente, eu acredito que a facilidade da conversão de ouro
em dinheiro fomenta e facilita o roubo.
Ainda a título pessoal, em Monção, um
pequeno concelho no norte de Portugal com cerca de 19.179
habitantes, em 2009 não existia nenhum estabelecimento de compra e venda de
ouro (excluindo as ourivesarias tradicionais) e atualmente existem pelo menos
três. Assim sendo, concluo que os comportamentos acima citados provavelmente
não serão sustentáveis a longo prazo e o ouro, à semelhança de qualquer ativo,
não é isento de risco. Deve por isso haver uma reflexão antes de se investir em ouro. Contrariamente
ao que se possa pensar, é menos arriscado apostar na diversificação de ativos
(desde que estes não sejam correlacionados), em vez de apenas investir num
ativo com pouco risco. De realçar ainda que uma maior fiscalização/regulação
dos estabelecimentos acima referidos deveria ser considerada pelas entidades
competentes.
Mariana Gonçalves Trancoso
Bibliografia
Economist, T. (s.d.). Obtido em 8 de novembro de 2012, de
http://www.economist.com/blogs/freeexchange/2011/07/bubbles?zid=295&ah=0bca374e65f2354d553956ea65f756e0
Kitco.
(s.d.). Obtido em 8 de novembro de 2012, de
http://charts.kitco.com/KitcoCharts/?utm_source=kitco&utm_medium=banner&utm_content=20110407_iCharts_chdata&utm_campaign=iCharts
Publico. (s.d.). Obtido em 8 de novembro de 2012, de
http://economia.publico.pt/Noticia/abriram-duas-novas-ourivesarias-por-dia-entre-janeiro-e-marco1544938
Publico. (s.d.). Obtido em 8 de novembro de 2012, de
http://www.publico.pt/Economia/preco-do-ouro-e-sustentavel-ou-esta-a-beira-de-uma-bolha1514709
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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