sábado, 17 de novembro de 2012

Críticas ao Orçamento de Estado 2013

Nas últimas semanas, o Primeiro-Ministro, Passos Coelho, avançou com a possibilidade de uma refundação do Estado. Ninguém sabe ainda o significado de ‘refundação’, contudo algumas ideias que assumiram maior relevância no Orçamento de Estado (OE) para 2013 foram os cortes nas funções sociais do Estado e aumento da carga fiscal.
                O corte na despesa de quatro mil milhões de euros pela via da despesa social tem sido fortemente criticada. O líder do maior partido da oposição, António José Seguro, afirmou-se disponível para discutir a reforma do Estado mas não nesta direcção, e os sindicatos dos trabalhadores queixaram-se da carga fiscal estar a ser feita à custa dos salários e das pensões, o que implicará um aumento da pobreza no país e da exclusão social.
                O Governo tem tomado medidas que nem ao diabo lembra, ou não fosse disso exemplo a diminuição de escalões no IRS, que diminuem a progressividade do imposto, gerando uma inconstitucionalidade, e o aumento do valor deste e de outros impostos quando é do conhecimento geral que todos os aumentos dos impostos têm proporcionado menores receitas fiscais e um crescimento da economia informal, que deveria ser combatida através de uma fiscalização mais alargada e eficaz.
                A União Geral de Trabalhadores (UGT), após analisar o documento, veio, por intermédio de João Proença, pedir a fiscalização preventiva da constitucionalidade deste Orçamento ao Presidente da República, Anibal Cavaco Silva, para eventuais alterações no âmbito do corte nas despesas noutras questões, como eventuais cortes nas PPP’s. Mas de preferência que esses cortes não fossem em funções sociais do Estado como a educação, a saúde e as prestações sociais, pois impediriam uma dinâmica de crescimento da economia doméstica, degradariam a saúde e o sistema de saúde e aumentariam a pobreza e a exclusão social no país.
                A pretensão do Estado em continuar a aplicar ultra-austeridade é notória no OE para o ano 2013, pois os valores acordados com a Troika são inferiores aos apresentados, injustificando as medidas e descredibilizando o governo que apenas está a empobrecer o país e não toma alguma medida que fomente o crescimento económico.
Se o objectivo é que as previsões das receitas fiscais, em percentagem do PIB, anunciadas a 15 de Outubro, se reflictam na realidade, acredito que o Estado conseguirá atingi-las, não pelo aumento do valor absoluto destas mas sim pela diminuição de riqueza, que é medida pelo PIB. Isto terá implicações futuras na economia porque o governo, ao dar preferência a uma nova “tranche”, apenas apressará a chegada de um novo resgate, dada a inviabilidade do país experimentar alguma crescimento económico com estas políticas.
                Dá para concluir que a refundação do Estado é uma matéria sensível e fundamental, de carácter urgente, sendo necessário que o Primeiro-Ministro venha clarificar o alcance da pretensão de reforma do Estado para que esta possa ser discutida sem tabus entre as forças politicas e pelos parceiros sociais, porque uma coisa é certa; a despesa do país tem que diminuir para combater o endividamento público alcançado e isso só se conseguirá se houver consenso. Caso contrário, instalar-se-á uma enorme instabilidade social.
                Tal como o governo português, outros governos de estados-membros da União Europeia (UE) que se encontram em recessão têm a sua quota-parte de culpa na realidade actual, mas um dos principais culpados é a própria EU, que tem fintado sorrateiramente a sua responsabilidade neste problema uma vez que falhou na fiscalização e incentivou a um aumento dos gastos dos Estados, aumentando os endividamentos públicos, aquando da diminuição dos investimentos privados.

Rui Miguel Ribeiro Sampaio

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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