quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Influência da Economia no Futebol

A indústria do futebol envolve pessoas e empresas das mais variadas áreas de negócio. Uma competente gestão e organização desportiva e financeira é um dos principais argumentos para a obtenção de resultados positivos.
Para algumas pessoas, o futebol é a atividade com mais sucesso em Portugal. "É uma mais-valia, gostaria que outras áreas fossem tão competitivas como é o nosso futebol", comenta João Pinto, salientando o facto de o desporto-rei português conseguir competir de igual com os que se "consideram os melhores".
Embora com problemas estruturais evidentes, muitos deles partilhados por algumas das maiores ligas europeias de futebol, os clubes portugueses conseguem ainda assim apresentar algumas soluções no que diz respeito à capacidade em gerar receitas. Assim como na maioria das ligas na Europa, a transferência de jogadores é a maior fonte de receitas dos clubes, por outro lado, os adeptos são o alimento base de todos dos clubes. O associativismo juntamente com venda de bilhetes e de lugares anuais é decisivo no equilíbrio financeiro dos clubes.
Para conseguir gerar receitas torna-se então importante investir em sectores que no curto ou longo prazo possam trazer benefícios para as economias dos clubes. É necessário ponderar em vários aspetos de tais investimentos para que se reduza o risco de se perder capital. Em Portugal temos exemplos de sucesso no que diz respeito a investimentos.
A Academia do Sporting é hoje uma das mais conceituadas academias mundiais no que diz respeito à formação de jovens jogadores. Há já algumas décadas que a formação do Sporting produz alguns dos melhores futebolistas do mundo: Futre, Figo, Simão, Quaresma, Cristiano Ronaldo, Nani, etc… Nas últimas décadas, o clube tem beneficiado financeiramente da venda dos seus melhores jogadores e com a implementação pela FIFA do sistema de compensação a clubes formadores, o clube tem continuado a gerar receitas nas transferências entre outros clubes de jogadores formados em Alvalade.
Quando a parte da formação termina, entra em cena a capacidade de negociação que cada clube possui. Hoje, qualquer grande clube europeu que deseja reforçar o seu plantel tem a Liga Portuguesa como uma das melhores montras mundiais de jogadores. No aspeto da negociação e venda de jogadores, o FC Porto destaca-se consideravelmente, tendo gerado através deste meio mais de 380 milhões de Euros nos últimos 10 anos, constituindo desta forma um recorde a nível mundial. No patamar dos clubes com menos recursos, mas também digno de referência, está o excelente trabalho dos dirigentes do SC Braga, que nos últimos 5 anos geraram cerca de 25 milhões de Euros na venda de jogadores.
Em termos de associativismo, Portugal tem exemplos de sucesso: a campanha “Kit Novo Socio” tomada a cabo pelo Benfica levou o clube para o topo da lista mundial de clubes com mais sócios, conseguindo gerar só aqui 10 Milhões de euros.
No que diz respeito aos “três grandes” do futebol português, o valor dos ativos tem vindo a aumentar, contudo o valor dos seus passivos aumentou a um ritmo superior. O Benfica é o clube que apresenta o maior passivo, no entanto, o ativo também é enorme. Já no caso do Sporting, chegamos a observar um capital próprio de 75,5M negativos. A nível europeu, o sistema de gerar receitas é semelhante e tal como em Portugal a maioria dos clubes, apesar de gerar boas receitas, apresenta passivos superiores aos ativos.
Na Europa, a preocupação por altos salários no futebol é constante. O medo do fracasso e das derrotas para os principais rivais fazem os clubes pagar salários demasiado elevados às principais estrelas. O resultado aparece no balanço financeiro de grande parte das instituições: dívidas cada vez maiores numa fase de crise global.
O endividamento europeu vem sendo constatado pela própria UEFA. Em janeiro, a entidade controladora do futebol europeu divulgou um balanço das finanças e constatou que o prejuízo dos clubes europeus aumentou em 36%.
                Com o endividamento dos clubes europeus e a conjuntura económica atual na Europa, torna-se importante ver de que maneira a economia pode “mandar” no desporto rei da Europa.
                Com a crise que se vive, a capacidade de gerar receitas por parte dos clubes diminui, seja pela falta de investidores ou até mesmo pela falta de sócios a aderirem aos jogos. No entanto, a promessa de salários elevados e de transferências milionárias continuam bem presentes e a agitar o mercado. Obviamente, isto traduz-se em ativos inferiores aos passivos, ou seja, em clubes endividados.
                Devido à má gestão que alguns clubes e ligas europeias estão a praticar, o campeonato espanhol e italiano já estiveram em risco. Afundados em dívidas, os dois países viram a crise económica tomar conta do futebol e ameaçar duas das mais importantes ligas do mundo. Algumas decisões por parte dos governos que pretendem aumentar o valor arrecadado com o futebol é uma das razões que levam à insatisfação dos jogadores.
Além da derrocada financeira do país, a Espanha sente o reflexo do modelo deficitário de distribuição de renda. Barcelona e Real Madrid recebem cerca de metade de todo o dinheiro pago pela TV para transmitir as duas primeiras divisões da liga. E enquanto a dupla crescia as outras equipes endividavam-se. A bolha estourou com a chegada da crise.
Na minha opinião, o futebol tem de ser algo que influencie a economia e não o contrário. Penso que os clubes deveriam apostar na formação de atletas em vez de efetuaram compras de valores astronómicos. Uma redução do valor dos lugares anuais e preços dos bilhetes poderiam levar a uma maior adesão aos estádios e permitiam obter uma maior receita. A fixação de um teto salarial pode também ser uma solução para que os clubes não paguem salários astronómicos a alguns jogadores. Este conjunto de medidas permitiria aos clubes equilibrar a balança entre ativos e passivos e superar de forma mais fácil esta crise que a Europa atravessa.

Rui Leite

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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