quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Mais Avós e Menos Netos

             A população está constantemente em mudança, não crescendo ao mesmo ritmo ao longo do tempo e nem da mesma forma em todos os locais do mundo. A população mundial rondaria os 1650 milhões de habitantes em 1900 e os 6000 milhões em 1999; actualmente estima-se que existam cerca de 7 biliões de pessoas em todo o mundo.
         Portugal sofreu nas últimas décadas rápidas e profundas mudanças demográficas: taxas de crescimento populacionais reduzidas, estrutura etária envelhecida, baixos níveis de fecundidade e de mortalidade infantil e ainda um crescente aumento do número de estrangeiros que tornam o saldo migratório na principal componente da dinâmica populacional (em 1970 estes valores eram de -34,7 para o saldo total, 87,6 para o saldo natural e -122,3 para o saldo migratório; em 2011 o saldo total era de -30,3 milhares de indivíduos, sendo composto pelo saldo natural de -6 milhares e pelo saldo migratório com valores a rondar os -24,3 milhares).
            O índice de natalidade em Portugal atingiu no ano passado um valor mínimo, acentuando ainda mais a tendência de envelhecimento populacional (Taxa Bruta de Natalidade atingiu os 9,2% em 2011, sendo que por exemplo em 1960 era de 24,1%). A baixa fecundidade das mulheres portuguesas não assegura a renovação das gerações e o número de idosos (mais de 65 anos) ultrapassa já o número de crianças (até 14 anos). Dados do INE revelam que o índice sintético de fecundidade (número de filhos por mulher em idade fértil) está já abaixo dos 1,4. É de salientar que há cerca de 30 anos, este índice era de 2,1 filhos por mulher, sendo este o valor mínimo para a renovação das gerações acontecer.
Mas porque está isto a acontecer? O aumento do número de “avós” deve-se essencialmente ao aumento da esperança média de vida à nascença. Se em 1960 as mulheres esperavam viver até aos 66,4 anos, em 2010 elas vivem em média até aos 82,3; já para os homens tínhamos uma esperança média de vida de 60,7 anos em 1960 e de 76,4 anos em 2010.
No caso da redução dos “netos”, temos várias razões possíveis para tal acontecimento. Por exemplo, a idade da mulher quando tem filhos: dados revelam que as mulheres até aos 30 anos têm cada vez menos filhos, sendo que a idade média da mulher ao nascimento do primeiro filho era de 29,2 anos em 2011 e, por exemplo, em 1960 era de 25 anos. Isto deve-se essencialmente à crescente participação da mulher no mercado de trabalho, onde cada vez mais aposta na sua carreira profissional e só depois pensa em ter filhos. Outros factores explicativos são a queda do número de casamentos e o aumento do número de divórcios, que levam à quebra das condições para que as mulheres tenham mais filhos (o rácio do número de divórcios por 100 casamentos era de 1,1% em 1960, passando para 74,2% em 2011). Não quero com isto dizer que as mulheres necessitem de estar casadas para ter filhos, mas é certo que é muito mais fácil ter um filho num ambiente familiar onde pai e mãe partilham todos os encargos a ter com os bebés. Podemos ainda atirar as culpas para a situação económica mundial. As pessoas hoje em dia, em especial os jovens, não se sentem com poderes monetários para criar uma criança. Por mais estabilidade que tenham, nunca se sabe o dia de amanhã e o resultado disto é sempre adiar o nascimento do filho para o ano seguinte, quando a situação estiver melhor.
            Estas características da população portuguesa têm efeitos tanto no presente como no futuro. A consequência do futuro mais evidente será a insustentabilidade da Segurança Social, pois haverá cada vez menos trabalhadores a realizarem descontos de modo a ser possível efectuar o pagamento de todas as reformas e pensões para os idosos. Já no presente, para além de termos creches vazias e lares de idosos cheios, temos cada vez menos alunos matriculados nas escolas primárias, o que levará ao fecho de várias instituições de ensino. Principalmente nas regiões do interior do país, registam-se casos de localidades apenas com idosos, onde não existem crianças. Esta situação deixa-me particularmente triste pois não consigo imaginar o dia-a-dia de pessoas idosas isoladas de tudo e de todos, sem sequer poderem ouvir o riso e as brincadeiras de uma criança.
            Concluindo, a pirâmide demográfica portuguesa é neste momento invertida e tende a continuar assim ou até mesmo a agravar-se. É certo que os avós irão continuar a viver por mais tempo pois as condições de vida tendem a melhorar, com os cada vez melhores cuidados de saúde. E isto é bom. Não podemos atirar culpas aos idosos pela pirâmide estar assim. O problema em Portugal está no facto de que não há bebés suficientes para repor o equilíbrio. Se em 1970 os jovens representavam cerca de 30% da população e os idosos apenas 10%, hoje em dia os valores rondam os 15 e os 20%, respectivamente.
É necessário implementar medidas de incentivo à natalidade no sentido de permitir às mulheres ter os seus filhos em plenas condições e de seguida regressarem ao mercado de trabalho sem complicações. Como se costuma dizer, “o melhor do mundo são as crianças” e, caso não alteremos a tendência, teremos um futuro menos risonho pois os que vão fazer o país levantar-se e desenvolver-se ainda estão por nascer. O futuro está nas crianças!

Cristiana Rodrigues da Silva

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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