segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Volatilidade dos preços dos combustíveis

Perante o cenário de crise e de tensão social que vivemos, o preço dos combustíveis tem sofrido uma  escalada de preços vertiginosa.
Desde a liberalização do mercado de combustíveis em 2004, que a Autoridade da Concorrência (AdC) acompanha de forma regular o mercado dos combustíveis em Portugal. Segundo um relatório da AdC - entidade que assegura a aplicação das regras de concorrência em Portugal - no primeiro trimestre deste ano, as quatro maiores petrolíferas a operar em Portugal (Galp, Bp, Repsol e Cepsa) realizaram no total 63 subidas de preços e 22 descidas, ou seja, por cada três vezes que a gasolina sobe, em média, desce uma vez. Conclui ainda que o preço médio da gasolina e do gasóleo antes de impostos em Portugal foi o terceiro mais elevado entre os 27 países da União Europeia. Estas notícias são preocupantes, porque apesar das descidas que já se verificaram no valor dos combustíveis, a verdade é que os aumentos foram sempre superiores. Uma das causas muitas vezes apontadas para esses aumentos é a redução de “stocks” de petróleo, causada pela instabilidade do Médio Oriente e muitas vezes agravada pela desvalorização do euro face ao dólar.
Um estudo da Associação Portuguesa das Empresas e Distribuição revela que no primeiro trimestre do ano os postos de abastecimento dos hipermercados ganharam quota de mercado, pelo que estes têm sido os mais requisitados nesta altura de crise. Segundo a DGEG (Direcção-geral de Energia e Geologia), o preço médio do litro de gasolina 95, em Portugal, é atualmente de 1,622 euros enquanto o do gasóleo é de 1,464 euros. Em qualquer um dos casos, trata-se de preços de referência, ou seja, na prática os portugueses estão a pagar valores mais elevados para suportar os seus automóveis, visto que estes se alteram de semana para semana.
Dentro da União Europeia (UE), Portugal é um dos países onde as famílias despendem uma maior parte do seu rendimento em combustíveis para o automóvel. Deste modo, as famílias portuguesas são mais vulneráveis às subidas de preços registados nos mercados internacionais de energia. Estes dados trazem graves consequências para o consumo, uma vez que, de acordo com a DGEG, o consumo de combustíveis rodoviários continua a apresentar "uma tendência significativa de redução", com exceção do GPL Auto. Apesar do enunciado anteriormente, o combustível mais vendido em Portugal continua a ser o gasóleo, seguido da gasolina.
O acompanhamento realizado pela AdC da evolução dos preços dos combustíveis tem gerado grande controvérsia. Segundo Pedro Passos Coelho, a AdC "não tem actuado" relativamente à "divergência entre os preços praticados" na venda de combustíveis e as flutuações do valor da matéria-prima nos mercados internacionais. De igual modo, o Automóvel Club de Portugal (ACP) apontou o dedo «à desregulação no sector dos combustíveis», acusando a Autoridade da Concorrência de «inoperância», «maquilhada com relatórios bíblicos sobre tudo menos o que interessa ao bolso dos consumidores». Uma coisa é certa: é importante que a AdC consiga dar uma resposta satisfatória nessa matéria para que, através das possíveis justificações encontradas, possamos tomar medidas de forma a atenuar os efeitos desses aumentos.
Contudo, nem tudo são más notícias, pois pela segunda semana consecutiva, os preços médios dos combustíveis fósseis voltaram a baixar. Esta tendência de queda reflecte a evolução das cotações dos derivados de petróleo nos mercados internacionais.
Apesar da liberalização do mercado de combustíveis em Portugal, o governo português não pode continuar com uma atitude passiva. Os combustíveis representam um custo acrescido para toda a economia nacional, pois os custos energéticos acabam por ter um peso muito elevado na competitividade do país. O governo Português pode tomar medidas no sentido não só de reduzir a carga fiscal como também de promover uma atitude pró-ativa das empresas petrolíferas para que estas não repercutam todo o efeito dos aumentos dos combustíveis nos portugueses.
Nos dias que correm, devido ao custo elevado e à poluição ambiental resultante da produção dos combustíveis fósseis, é importante apostar na eficiência energética (como os biocombustíveis, a electricidade e o hidrogénio). Com isto, o preço do petróleo não teria tanta influência nos preços finais dos combustíveis, reduzindo a nossa dependência externa e atenuando os efeitos do aumento desses nas famílias portuguesas. Por fim e de acordo com a União Europeia, até 2020 prevê-se aumentar para 10% a percentagem de energias renováveis utilizadas nos transportes rodoviários. 
Tânia Raquel Sousa Ferreira 

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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