terça-feira, 20 de novembro de 2012

Será que modo um corte nos horários de trabalho poderá diminuir o desemprego?

Com vista a reduzir a taxa de desemprego em França, a partir do ano 2000 reduziram-se os horários de trabalho dando oportunidade aos trabalhadores desempregados, que preencheriam esse restante horário, de terem uma fonte de rendimento, no entanto com salários mais baixos. Esta medida foi bem-sucedida durante algum tempo (até 2008).
Em Portugal, Sócrates, implementou esta medida, no entanto, no caso português, não teve tanto sucesso e a taxa de desemprego não diminuiu, bem pelo contrário.
Esta medida não ia de encontro aos interesses nem dos trabalhadores nem dos empregadores.
Para todos os trabalhadores, trabalhar é um sacrifício, uma vez que o objectivo deles é pagar os bens e os serviços que querem consumir. Quanto maior o sacrifício maior a quantidade de bens que poderá consumir de bens ou serviços. No entanto, a exaustão também será maior.
As variáveis que distinguem as pessoas que trabalham mais das que trabalham menos são:
- a riqueza (quanto maior a riqueza implica trabalhar menos)
- o salário horário (mais salário horário implica trabalhar menos)
- a taxa de juro (maior taxa de juro implica trabalhar mais)
Aos portugueses interessa-lhes um horário de trabalho maior, uma vez que se atravessa uma crise em Portugal. Tudo indica que as pessoas querem trabalhar mais porque:
- houve uma perda da riqueza das famílias (os imóveis e os ativos financeiros desvalorizaram muito nos últimos anos);
- antecipa-se uma diminuição dos salários;
- as taxas de juro aumentaram muito.
Pelo lado dos empregadores, temos que as empresas consideram que os turnos e os empregos não são divisíveis, por exemplo, nunca seria possível fazer um turno de uma hora ao fim do dia: as pessoas desempregadas não saberiam executar as tarefas, primeiro porque uma pessoa não é facilmente substituída, as pessoas não são dotadas das mesmas capacidades nem têm a mesma prática, segundo, porque os primeiros a perder o emprego são os menos eficientes pelo que a substituição levará a perda de produção, e, terceiro, porque o desemprego é um problema de re-estruturação da economia em que uns sectores têm que diminuir para que outros possam aumentar pelo que os desempregados não têm capacidades e saberes para rapidamente substituírem quem está empregado.
Esse processo leva tempo e tem custos: as empresas são equipas. Não se podem substituir uns trabalhadores rotinados das empresas competitivas por outros porque cada um já sabe qual a sua função. As equipas das empresas demoram muitos anos a criar (a resolver conflitos pessoas, a determinar qual a função de que cada pessoa é mais capaz de executar, a aprender a fazer as coisas) não sendo possível meter atuais desempregados a substituí-las.
Concluindo, em Portugal deve aumentar-se o horário de trabalho mantendo os salários e não diminuir o salário diminuindo o horário de trabalho. Os desempregados serão absorvidos pelo mercado de trabalho para se juntarem a equipas, no entanto esse será um processo demorado pois não podem trabalhar a salários mais baixos tendo em conta as leis laborais. Não existe uma maneira instantânea de acabar com o desemprego, no entanto diminuir a TSU dos empregadores, aumentar o horário de trabalho e a alargar o conceito de “capacidade diminuída de trabalho” seriam um bom ponto de partida para atenuar este fenómeno.

Carolina Fonseca de Oliveira

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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