quinta-feira, 29 de outubro de 2020

A Emigração Portuguesa dos Anos 60 aos Nossos Dias

 

O século XX ficou marcado pela emigração. Entre os anos 20 e a década de 50, a região do mundo que mais atraiu os portugueses foi o Brasil, devido à facilidade linguística e cultural. A partir dos anos 60, os destinos prediletos dos portugueses passaram a ser a França e a Alemanha.

Apesar da emigração já ocorrer de forma massificada desde a segunda metade do século XIX, continua a ser um tema do século XXI, onde a população mais jovem continua a não encontrar oportunidades no seu país. Portugal é o país da União Europeia com mais emigrantes em termos relativos, uma vez que os seus 2 milhões de emigrantes representam 20% da população portuguesa.

Uma análise temporal das derradeiras seis décadas permite-nos concluir que houve duas grandes vagas que impactaram o país a nível socioeconómico.


Os picos da emigração verificaram-se em 1966 e 2014, com a saída de 120.239 e 134.624 portugueses, respetivamente. A partir do último assistiu-se a um gradual decréscimo do número de emigrantes, culminando com 77.040 em 2019, a que não será alheio o facto de Portugal ter vindo a registar um crescimento económico após a crise financeira que exigiu a intervenção da “troika”.

Ao contrário do segundo pico de emigração, o primeiro é explicado sobretudo pelo regime ditatorial salazarista, que embora registasse algum crescimento económico era caracterizado por uma enorme desigualdade entre uma elite urbana e uma empobrecida “província”, a que se associavam a falta de liberdade de expressão, a guerra colonial e as perseguições por motivos políticos e religiosos. Este conjunto de fatores levaram à fuga clandestina de muitos jovens, evitando o cumprimento do serviço militar obrigatório, e procurando fugir à situação de carência que observavam nas casas dos seus pais. Em 1960, a população emigrada era, portanto, caraterizada por uma população com baixo nível de qualificação académica, que procurava trabalho na área da construção, participando desse modo na reconstrução de países que se haviam envolvido na 2º Guerra Mundial.

Ao longo dos anos, a emigração portuguesa foi evoluindo, tornando-se mais diversificada, tanto a nível dos países acolhedores, como de perfil da própria população que emigra. No contexto histórico da crise económica de 2008/2009, os jovens voltavam a ser o grupo etário mais prejudicado, confrontando-se com taxas de desemprego jovem insustentáveis, como a de 40%, em 2012.

 


É de salientar que esta segunda grande vaga já não se carateriza por uma baixa educação, como a de 60. Trata-se de indivíduos qualificados e competentes, destinados a contribuir para o desenvolvimento do seu país, mas sem uma oferta de emprego condizente com a preparação académica proporcionada pelos cursos universitários obtidos, devido à imensa instabilidade económica vivida, que afetou particularmente os jovens que ainda não tinha entrado no mercado de trabalho.

Paul Krugman, economista americano, na sua análise sobre os impactes da emigração na economia portuguesa destaca o conceito de “espiral de morte demográfica” e a queda da população ativa em Portugal, em parte explicada pela saída de centenas de milhares de jovens, a que se adiciona a baixa natalidade.

Concordo com o autor visto que, se um país regista um elevado endividamento e a sua mão-de-obra diminui por efeito da emigração, terá de aumentar os impostos sobre os que permanecem no país, de forma a poder gerir a dívida. Este cenário pode originar um descontentamento da população residente e aumentar a saída de pessoas do país, criando um ciclo vicioso de emigração e impostos. Por outro lado, tendo Portugal uma estrutura etária desproporcional entre jovens e idosos, antecipa-se problemático o pagamento de reformas.

O sistema de reformas nacional adotado é o “Fully Funded System”, onde é a população ativa quem financia as pensões da população idosa. Se a população jovem, já demograficamente reduzida, emigrar sistematicamente, torna insustentável o custo da educação dos jovens, que irão criar riqueza para outros territórios, para além de não contribuírem para o financiamento das pensões.

Na minha opinião, a emigração massificada deve ser contrariada através da criação de políticas macroeconómicas que tentem debilitar as principais vicissitudes da economia portuguesa. Destaca-se o combate à corrupção, de modo a que os fundos europeus sejam devidamente aplicados na formação e na criação de postos de trabalho, ao invés de se concentrarem em grupos económicos influentes.

É ainda urgente um melhoramento na justiça e diminuição da burocracia, com o intuito de captar mais recursos externos para o investimento produtivo.

 

Marta Gomes Ribeiro

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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