No dia 1 de março de
2020, foi decretado pelo Presidente da República de Portugal o estado de
emergência nacional, face à ameaça que a evolução da atual pandemia representava
para a saúde pública nacional. O decreto do Estado de Emergência levou a que
fossem tomadas medidas excecionais face a uma ameaça com proporções nunca antes
vistas, como a paragem das atividades não essenciais. Como consequências da
crise sanitária e destas medidas necessárias para evitar a propagação em massa
da doença, a grande maioria dos setores económicos foram afetados
negativamente. Neste trabalho vou dar ênfase às consequências da pandemia nas
atividades noturnas.
A economia noturna pode
ser definida através do conjunto das atividades económicas desenvolvidas em
horário noturno (das20h até às 6h), tais como: bares, cafés, discotecas,
restaurantes de comida rápida, espetáculos, concertos e eventos. A atividade
noturna e a vida noturna como um todo são uma parte significativa da economia e
antes da pandemia eram dos setores que mais cresciam no país, não só devido ao
grande numero de atividades que este setor engloba mas também devido à mudança
do nosso estilo de vida, uma vez que as pessoas e especialmente os jovens de
hoje em dia têm uma maior qualidade de vida e buscam mais atividades de lazer
que lhes proporcionem prazer e que lhes permita sair da monotonia e do stress do dia-a-dia, e grande parte
dessas atividades estão concentradas em horário noturno.
Além disso, as atividades
noturnas estão ligadas cada vez mais ao turismo, uma vez que destinos como
Lisboa e, principalmente, o Algarve são dependentes de atividades de lazer e
associadas a caraterísticas normalmente associadas à noite, como a diversão,
alegria e aventura. Além disso, o desenvolvimento de atividades noturnas tem
dado “vida”, em especial, ao centro das cidades, que muitas vezes apresentam
pouco dinamismo e que são espaços que, além de degradação social, dado o facto
de serem espaços na maioria habitados por pessoas com menores rendimentos e
minorias sociais, apresentam também degradação física de prédios e infraestruturas,
o que contribuí para o declínio destas áreas.
Assim, o impacto que esta
crise está a exercer sobre os negócios e atividades ligadas à noite não causa
apenas consequências nas atividades deste setor, como o desemprego e o
encerramento de diversos espaços, muitos de vez, dada à incapacidade de manter
custos associados a estarem encerrados e devido à incerteza daquilo que seriam
os meses após o fim do estado de emergência e à falta de apoio do Estado, mas
também a perdas económicas no setor do turismo e perda de dinamismo como um
todo, já que muitos bares e discotecas, por exemplo, têm-se tornado mais
empresariais e representados por marcas, bem como o agravamento do processo de
degradação de espaços e do centro das cidades, já que não existe incentivo à
reabilitação de prédios e atribuição de novos usos aos mesmos.
Com o decorrer dos meses
e consequente evolução da pandemia, a economia foi-se abrindo e voltado “ao
normal”, processo este que não tem sido nada fácil para as atividades e
negócios noturnos. As regras impostas, como a limitação de pessoas em espaços
como bares, discotecas, espetáculos, o uso obrigatório de máscara em espaços
fechados, o distanciamento social e a adoção de medida higiénicas, tem
produzido tensões enormes nas contabilidades dos negócios, em especial naqueles
de menor dimensão e que não estão protegidos por fundos de investimento
imobiliário ou grupos empresariais do setor do lazer. Note-se que a maioria do
tecido dos negócios noturnos não possui liquidez nem capacidade financeira para
aguentar este cenário por um grande período de tempo, pelo que alguns negócios
que conseguem seguir em frente e prosperar são obrigados a reinventar-se.
Concluindo, depois
daquilo que se constatou, penso que o próximo cenário pós-pandemia deveria
identificar a vida noturna e todos os negócios e espaços que esta engloba como
parte intrínseca das políticas autárquicas e nacionais, pois a noite constitui
um mecanismo de bem-estar sócio-emocional, construção de comunidade e inclusão
e vai ao encontro de uma das caraterísticas naturais do ser humano, que é a
união e socialização e que após um período longo de confinamento e restrições
constitui uma rede de segurança emocional que permite às pessoas seguir em
frente e começar de novo.
Augusto
Bernardes Espinosa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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