A emigração é um fenómeno cada vez mais recorrente nos tempos atuais. Mas o que é que pode levar um jovem a emigrar? Será que são o desemprego, a precaridade laboral, a situação financeira pessoal ou mesmo do país os principais fatores?
Os jovens portugueses são dos mais predispostos a mudar de país em busca de mais estabilidade. Segundo um estudo efetuado pelo Eurostat, cerca de 70% dos jovens portugueses, na faixa etária dos 20 aos 34 anos, que se encontravam desempregados, puseram a hipótese de mudar de país. Quando olhamos para a média europeia, este valor situa-se nos 50%. Portugal é referenciado como um dos países com a taxa de emigração mais elevada nos jovens.
A crise económico-financeira que Portugal viveu no final de 2007 e início de 2008 levou a que muitos jovens, principalmente recém-formados, não conseguissem encontrar um posto de trabalho adequado às suas formações. Foram necessários quase 10 anos para que Portugal começasse a ver melhorias nestes números. A taxa de jovens desempregados (até aos 25 anos) desceu de 28% para 23,9%, segundo o PORDATA. No entanto, as opiniões divergiam no porquê desta diferença. Verificar uma melhoria na taxa de desemprego não quer dizer que as condições de trabalho tenham melhorado. A maioria dos jovens qualificados limitava-se às ofertas disponíveis, na expectativa de ganhar experiência profissional e obter um rendimento.
Maria Filomena Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Demografia, admitiu que a taxa de desemprego na camada jovem continua a ser preocupante. Este valor deve-se muito ao facto das precárias condições no mercado do trabalho, às desigualdades de salário e montantes inferiores às expectativas de muitos.
Vitor Sérgio Ferreira, sociólogo no ICS (Instituto de Ciências Sociais) da Universidade de Lisboa, constatou que muitos jovens emigram na esperança de encontrar um emprego que corresponda às suas qualificações. Os jovens querem ser devidamente recompensados, remunerados, por todos os estudos que fizeram quando encontram um trabalho adequado ao esforço e gastos que tiveram. Porém, em Portugal ainda é difícil conseguir juntar todos os fatores num só trabalho.
Muitos jovens decidem ir para a universidade, continuar a estudar na esperança de encontrarem um bom emprego, porém, quando o próprio país não consegue oferecer a estabilidade necessária para um recém-licenciado, muitos não pensam duas vezes antes de pôr a hipótese de emigrar. Este fenómeno não é só caraterístico de Portugal, sendo que 16% dos jovens desempregados estão dispostos a mudar de emprego dentro da União Europeia.
No século XXI, é “normal” alguém pôr a hipótese de emigrar. Os jovens já não se sentem somente cidadãos de um país, mas sim cidadãos europeus ou mesmo cidadãos do mundo. Desde muito cedo é incutida na educação dos jovens a ideia de ir além-fronteiras. É no secundário e na universidade que o incentivo é maior.
No meu contexto, os jovens têm de pesar os prós e contras de ficar ou sair do país. Muitas vezes as ofertas são teoricamente “favoráveis”, contudo é necessário analisar o que podem obter no final da experiência, ver se conseguem atingir as expectativas e assim tornarem-se pessoas realizadas.
Portugal perdeu uma grande parte dos seus jovens, não esquecendo que foi o
estado português que “pagou” a formação e os tornou autodidatas. Hoje, Portugal
tem a necessidade de reverter a tendência e apelar aos jovens que regressem. As
vantagens fiscais e monetárias são algumas das iniciativas do Estado, porém será
isso o suficiente para garantir melhores condições de trabalho, salários mais
justos, serviços mais eficazes e expectativas de aumento de carreira realistas,
entre outros? Será que as iniciativas que temos hoje podem garantir que os
jovens de amanhã não passem as mesmas dificuldades que os jovens de ontem?
Olivia Isabel Coelho
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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