Como todos sabem, o ano
de 2020 tem vindo a ser um ano bastante atípico em todos os setores económicos,
mas este artigo pretende dar a conhecer como a indústria automóvel está a viver
este momento diferente. Além da crescente pressão para cumprir critérios cada
vez mais rigorosos ao nível ambiental, a crise Covid-19 vem agora impor um
desafio maior para este setor.
Em primeiro lugar, num
contexto em que não se previa uma crise como a atual, a Associação Europeia de
Fabricantes de Automóveis (ACEA) acreditava que o setor poderia sofrer um
decréscimo de 2% nas entregas neste ano. O que se se verificou até ao último
mês em que existem dados publicados (setembro) foi um decréscimo muito maior do
que o previsto e a nova previsão para o que resta do ano também não é muito
animadora para as empresas desta indústria, sendo esperada uma queda de 25% nas
entregas, apesar de neste mês de setembro existirem fabricantes, como a Volkswagen,
que registaram números positivos. Convém realçar que setembro foi o primeiro
mês onde se registaram os melhores valores desde o início da crise, provocados
por medidas de estímulo governamentais adotadas em certos países europeus.
Num contexto diferente, a
fabricante espanhola SEAT optou por não ficar parada e decidiu contribuir com
várias ações solidárias, tais como a produção de ventiladores e mascaras e a
doação dos mesmos. Obviamente que com estas ações não obtiveram lucro, mas
contribuíram solidariamente num momento frágil e necessário e, como não ia
deixar de ser óbvio também, registaram perdas incríveis neste ano tão estranho.
A diretora de marketing e comunicação da empresa em Portugal acrescentava em
entrevista ao “Observador” que para esta marca esperava-se um 2020 bastante positivo,
sobretudo com o lançamento de um novo modelo, mas o que aconteceu foi um
impacto negativo enorme, com o mercado a cair 42% até ao mês de agosto.
Já em relação ao
investimento na indústria automóvel, a Associação de Fabricantes para a
Indústria Automóvel (AFIA), acredita que é necessária ação urgente e acelerar o
investimento nesta indústria em Portugal. Apesar da retração causada pela
pandemia de Covid-19 e de este ser um momento delicado para o pensamento a
médio e longo prazo, o presidente da AFIA acredita que este é o momento certo
para ser feita uma forte aposta no setor. É apontada ainda a necessidade de
manter o perfil competitivo da indústria para continuar a ser uma opção para os
principais fabricantes mundiais num momento em que se definem novas tendências,
num momento em que aumentam as apostas em carros com menor consumo de
combustíveis fósseis e elétricos. O mesmo presidente afirma que é importante
que o governo tenha soluções que não passem pelo endividamento das empresas no
curto prazo, porque para este setor é preciso o financiamento de muito longo
prazo, de ajudas que não signifiquem um aumento de endividamento imediato e que
permita às empresas sentirem-se despreocupadas com a dívida no seu planeamento;
é então vital um reforço de capital, afirmou. José Couto, o atual líder desta
associação, afirma-se também preocupado com o Brexit, pois o Reino Unido é um importante parceiro de negócios e, com
a aplicação de novas tarifas, o efeito poderá ser catastrófico.
Em suma, pode dizer-se
que este setor, que está a passar por um período de reestruturação com novas
tendências de uma geração preocupada, vê-se, neste contexto que temos vivido,
num momento difícil. Num país, como Portugal, que tem vindo a ser aposta na
produção de vários componentes e modelos de marcas estrangeiras e cujo volume
de negócios registou aumentos na ordem dos 81% nos últimos 10 anos, enquanto a
produção automóvel na União Europeia apenas aumentou 6%, é importante, na minha
opinião, como discutido anteriormente, serem adotadas medidas como as referidas
antes para que Portugal continue a ser aposta para certos fabricantes de renome
e que o próprio setor continue a apostar numa renovação das suas estratégias para
continuar a atrair clientes das novas gerações.
Tiago Figueiredo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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