quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Desafios do setor automóvel no contexto pandémico


Como todos sabem, o ano de 2020 tem vindo a ser um ano bastante atípico em todos os setores económicos, mas este artigo pretende dar a conhecer como a indústria automóvel está a viver este momento diferente. Além da crescente pressão para cumprir critérios cada vez mais rigorosos ao nível ambiental, a crise Covid-19 vem agora impor um desafio maior para este setor.

Em primeiro lugar, num contexto em que não se previa uma crise como a atual, a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA) acreditava que o setor poderia sofrer um decréscimo de 2% nas entregas neste ano. O que se se verificou até ao último mês em que existem dados publicados (setembro) foi um decréscimo muito maior do que o previsto e a nova previsão para o que resta do ano também não é muito animadora para as empresas desta indústria, sendo esperada uma queda de 25% nas entregas, apesar de neste mês de setembro existirem fabricantes, como a Volkswagen, que registaram números positivos. Convém realçar que setembro foi o primeiro mês onde se registaram os melhores valores desde o início da crise, provocados por medidas de estímulo governamentais adotadas em certos países europeus.

Num contexto diferente, a fabricante espanhola SEAT optou por não ficar parada e decidiu contribuir com várias ações solidárias, tais como a produção de ventiladores e mascaras e a doação dos mesmos. Obviamente que com estas ações não obtiveram lucro, mas contribuíram solidariamente num momento frágil e necessário e, como não ia deixar de ser óbvio também, registaram perdas incríveis neste ano tão estranho. A diretora de marketing e comunicação da empresa em Portugal acrescentava em entrevista ao “Observador” que para esta marca esperava-se um 2020 bastante positivo, sobretudo com o lançamento de um novo modelo, mas o que aconteceu foi um impacto negativo enorme, com o mercado a cair 42% até ao mês de agosto.

Já em relação ao investimento na indústria automóvel, a Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), acredita que é necessária ação urgente e acelerar o investimento nesta indústria em Portugal. Apesar da retração causada pela pandemia de Covid-19 e de este ser um momento delicado para o pensamento a médio e longo prazo, o presidente da AFIA acredita que este é o momento certo para ser feita uma forte aposta no setor. É apontada ainda a necessidade de manter o perfil competitivo da indústria para continuar a ser uma opção para os principais fabricantes mundiais num momento em que se definem novas tendências, num momento em que aumentam as apostas em carros com menor consumo de combustíveis fósseis e elétricos. O mesmo presidente afirma que é importante que o governo tenha soluções que não passem pelo endividamento das empresas no curto prazo, porque para este setor é preciso o financiamento de muito longo prazo, de ajudas que não signifiquem um aumento de endividamento imediato e que permita às empresas sentirem-se despreocupadas com a dívida no seu planeamento; é então vital um reforço de capital, afirmou. José Couto, o atual líder desta associação, afirma-se também preocupado com o Brexit, pois o Reino Unido é um importante parceiro de negócios e, com a aplicação de novas tarifas, o efeito poderá ser catastrófico.

Em suma, pode dizer-se que este setor, que está a passar por um período de reestruturação com novas tendências de uma geração preocupada, vê-se, neste contexto que temos vivido, num momento difícil. Num país, como Portugal, que tem vindo a ser aposta na produção de vários componentes e modelos de marcas estrangeiras e cujo volume de negócios registou aumentos na ordem dos 81% nos últimos 10 anos, enquanto a produção automóvel na União Europeia apenas aumentou 6%, é importante, na minha opinião, como discutido anteriormente, serem adotadas medidas como as referidas antes para que Portugal continue a ser aposta para certos fabricantes de renome e que o próprio setor continue a apostar numa renovação das suas estratégias para continuar a atrair clientes das novas gerações.

 

Tiago Figueiredo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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