quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Setor Têxtil: Impactes e Oportunidades em Tempos de Covid-19

Nos últimos anos, a indústria têxtil em Portugal atingiu novos recordes de exportações. Como resultado, o país virou destaque no segmento têxtil, ganhando mais visibilidade na economia que se recuperava de uma crise, servindo de referência mundial. Contudo, este setor viu-se confrontado este ano (2020) com uma ameaça de um inimigo desconhecido e teve de resistir a novas dificuldades. Assim, teve de se reinventar e apostar em novos métodos para se diferenciar dos seus concorrentes de mercado, tanto pelo preço quanto pela qualidade.

O impacte da Covid-19 no setor têxtil e vestuário português tem vindo a refletir-se a vários níveis, sendo o mais generalizado e preocupante a quebra na procura, com a anulação, redução ou adiamento de encomendas e o atraso no pagamento das que já foram entregues e/ou realizadas. Uma outra dimensão do impacte da crise sanitária que atravessamos é a incerteza que ameaça os mercados mais relevantes para o setor têxtil. Nestas circunstâncias é difícil planear a atividade neste setor, que é sazonal, e que tem uma cadência muito própria em termos de lançamento de produtos e coleções. É ainda mais difícil neste contexto de incerteza económica as empresas adotarem medidas que tragam mais endividamento. Tendo em conta a situação que encaramos, a meu ver, no que respeita às empresas, é fundamental o equilíbrio entre o ajudar agora e o ter de suportar elevadas taxas de desemprego que poderão durar muito mais que a crise sanitária.

Do ponto de vista da retoma e da recuperação económica, Portugal não poderá trabalhar sozinho, visto que estamos integrados na União Europeia e, consequentemente, dependentes da economia europeia. Assim, as medidas que forem tomadas noutros mercados europeus terão também influência na nossa economia e, sobretudo, neste setor que exporta 82% do total para o mercado comunitário.

Para tentar combater e arranjar soluções para enfrentar esta crise, o setor do têxtil e vestuário está a reinventar-se e aquelas empresas que não têm criatividade para tal, no período da primeira vaga em Portugal, mantiveram-se em “ponto morto”, ou seja, encontraram-se em funcionamento mas com a máxima ajuda financeira possível e na expetativa de este setor ver dias melhores o mais rápido possível, através do aumento das exportações por parte dos países europeus, os principais clientes das empresas têxteis e de vestuário portuguesas.

Contudo, este setor enfrenta, também, esta crise como algo positivo que os ensinará a produzir de forma mais sofisticada e com outros padrões de exigência, nomeadamente na área da saúde, no que diz respeito à matéria-prima e aos cuidados a ter na forma de produção, visto que muitas empresas adaptaram o seu processo produtivo à produção de equipamentos de proteção individual para suprir as necessidades do país, mas também exportar para países europeus onde há falta desses equipamentos para o combate ao Covid-19.

Sobre as medidas tomadas para apoiar as empresas, considero que o que está a ser feito é bem feito, mas não é suficiente, apesar de ter a plena consciência de que os recursos de apoio são finitos. O lay-off é uma boa medida de ajuda financeira às empresas, ajudando os empresários a pagar 70% do salário do funcionário (tendo sido adotado por cerca de 50% das empresas deste setor, durante a primeira vaga da pandemia), porém existe a hipótese da impossibilidade das empresas cumprirem o pagamento ao trabalhador dos 30% que lhes cabe se não faturarem, dificuldade essa que se atravessou durante a primeira vaga e que implicou o fecho de várias empresas.

Perante a situação atípica que vivenciamos, na minha opinião, a solução passará sobretudo por mecanismos de solidariedade europeus, através da delineação de uma estratégia para a retoma da economia europeia apoiando as empresas e os setores da sociedade que geram a riqueza destes países. Deste modo, a Europa tem de tentar adotar uma política comercial e industrial que regule a globalização de uma forma equilibrada, procurando não continuar refém da produção dos países asiáticos, nomeadamente da China.


Joana Gonçalves Faria

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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