Em janeiro deste ano,
segundo o primeiro ministro António Costa, “Nós hoje dizemos, com muito
orgulho, que, finalmente, temos a geração mais bem preparada de sempre, mas há
outra história que é preciso começarmos a contar, é que nós estamos a preparar
a geração que ainda vai ser melhor preparada que a atual”.
Deveras, em Portugal, ao
longo dos últimos anos, tem-se verificado um crescente número de inscrições no
ensino superior. Registando-se um aumento do número de inscritos de 4% no
primeiro semestre do ano letivo 2019/2020 em comparação com o mesmo período do
ano anterior, segundo o relatório da Direção Geral de Estatísticas de Educação
e Ciência. Contudo, apesar de Portugal apresentar taxas de inscrição no ensino
superior acima da média da OCDE, apresenta também o dobro dos jovens entre os
18 e 24 anos que se encontram fora do mercado de trabalho e fora das
instituições educacionais, e que procuram emprego há mais de um ano, ou seja,
os chamados jovens “nem-nem”.
Surpreendentemente, apesar
de estes dois fenómenos parecerem inconcordáveis, estes na verdade são uma
realidade entre os jovens. Em termos gerais, 41% dos jovens com idades
compreendidas entre os 19 e 20 anos estão matriculados numa universidade ou numa
outra instituição educacional (sendo a média da OCDE de 37%) e cerca de 15,2%
dos jovens entre os 18 e 24 anos enquadram-se na categoria de jovens “nem-nem”
valores estes significativamente superiores à média de 14,3% da OCDE.
O aumento do desemprego
jovem é um sinal claro da degradação sofrida pelo mercado de trabalho. Em
regra, são os jovens trabalhadores os primeiros a ingressarem nas listas de
despedimentos dadas as fragilidades dos seus vínculos laborais: contratos a
prazo, recibos verdes, período experimental. De fato, em julho deste ano, cerca
de 45 mil trabalhadores com idade inferior a 24 anos estavam inscritos nos
centros de emprego, mais 58% do que no mesmo mês do ano passado.
O economista e
ex-presidente do Instituto do emprego e formação profissional (IEFP), Francisco
Madelino, prevê que vá ser difícil mudar este panorama uma vez que considera
que não só as ofertas de trabalho por partes das empresas serão mais escassas
dada a fragilidade das mesmas como também poderão ser menos os jovens que
procuram emprego, quer seja por falta de expectativas ou devido à situação
sanitária que está a bloquear os canais normais de divulgação de trabalho.
Relativamente à educação
e formação dos jovens, o Education at a Glance, da OCDE, mostra que ter um curso do ensino superior ainda
continua a ser vantajoso quer no acesso no mercado de trabalho que no chamado
“prémio salarial”. Todavia, esta vantagem tem vindo a decrescer uma vez que uma
licenciatura é cada vez mais desvalorizada hoje em dia. Juntam-se o fato de que
apenas 30% dos estudantes portugueses são capazes de terminar a sua
licenciatura nos 3 anos previstos e o desajustamento de muitos dos planos
curriculares.
Assim sendo, não basta
chamá-los “a geração mais bem preparada de sempre”, é igualmente necessário fornecer-lhes
ferramentas para que lhes seja possível não só desenvolver as suas capacidades mas
também opções para que estes sejam capazes de empregá-las.
Uma dessas possíveis
ferramentas passa pela chamada Garantia Jovem, que procura aumentar as
qualificações dos jovens, facilitar a transição para o mercado de trabalho e
reduzir o desemprego jovem. Destina-se a indivíduos com menos de 30 anos, que
não trabalham, nem se encontram a estudar ou a realizar qualquer tipo de
formação ou estágio. Trata-se de um compromisso de 4 meses em que, gradualmente,
o jovem é capaz de sair do sistema de ensino ou mercado de trabalho e é-lhe
feita uma oferta de emprego, continuação dos estudos, de formação profissional
ou de estágio.
Com esta iniciativa e
implementação de mais do género, teremos sim todas as condições para chamar aos
nossos jovens “a geração mais bem preparada de sempre” e estes serem de facto
capazes de fazer jus ao seu nome.
Joana Mendonça Dias
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário