sábado, 31 de outubro de 2020

Covid-19 – Turismo-20: um Presente…, Futuro

 

Sendo o Turismo um dos setores económicos com maior atividade exportadora no nosso país, com décadas de existência e um crescimento contínuo, é aquele que, neste momento, está a sofrer um maior impacte negativo na sua atividade, devido à pandemia Covid-19. De acordo com os dados fornecidos pelo Turismo de Portugal, este setor foi responsável, em 2019, por 52,3% das exportações de serviços e por 19,7% das exportações totais nacionais. Consequentemente, verificou-se um aumento de emprego no setor, com um peso de 6,9% na economia nacional. Desta forma, as receitas turísticas registaram um contributo de 8,7% para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Por estas razões, o Turismo tem sido considerado o “petróleo” da economia portuguesa.

O surgimento de uma pandemia à escala mundial, em inícios de 2020, obrigou ao encerramento de fronteiras e a confinamentos regionais e nacionais, parciais ou totais. Esta circunstância que provocou uma imobilidade humana sem precedentes e uma crise social e económica ainda por contabilizar em todo o seu espectro, impactou de forma significativa a situação económica e financeira do sector e do país. As receitas turísticas tiveram um impacte negativo superior a 50% e, segundo o Banco de Portugal, o défice orçamental, em 2020, deverá chegar aos 7% do PIB, e a dívida pública aos 134,4%.

Entre janeiro e maio deste ano, as viagens de turistas tiveram um impacte negativo de 320 mil milhões de dólares, o que representa um valor três vezes superior ao registado na Grande Recessão de 2007-2009, segundo a análise da Organização Mundial do Turismo (OMT).

Destarte, observando o gráfico abaixo, podemos verificar que o Turismo é, de forma significativa, o setor mais penalizado com esta crise, apesar dos restantes também estarem a sofrer com esta pandemia.

 

Segundo as mais recentes estatísticas, publicadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), uma redução de 25% na atividade turística levará à redução de 2,9% do PIB anual em Portugal. Acresce que, de acordo com a OMT, estiveram em risco 120 milhões de empregos relacionados a esta atividade, pois 56% das empresas deste setor encerraram temporariamente, como se pode observar no gráfico abaixo.


Apesar de o país continuar com as mesmas caraterísticas atrativas para o Turismo, como aliás o Primeiro Ministro afirmou, nos próximos meses teremos a presença de fatores de grande imponderabilidade, uma vez que a pandemia é global e mundial, o que impossibilita o governo português de controlar todas as variáveis relacionadas com o Turismo em Portugal, designadamente o fluxo de turistas estrangeiros que, neste período, visitarão o nosso país.

De forma a tentar minimizar os impactes da redução temporária dos níveis de procura na atividade turística, o Turismo de Portugal delineou uma estratégia assente em três pilares: Confiança, Esperança e Reinvenção. A criação do selo “Clean & Safe”, que distingue empreendimentos turísticos, empresas de animação turística e agências de viagem que asseguram o cumprimento dos requisitos mínimos de segurança sanitária recomendados pela Direção Geral de Saúde (DGS), e a criação da campanha de Awareness para o tema do distanciamento social, transformando a assinatura Can't Skip Portugal em Can’t Skip Hope, são dois dos exemplos dessa estratégia.

Considero que estas estratégias terão um impacte positivo no turismo interno, pois as pessoas procuram segurança e confiança, quer por parte dos empreendimentos quer por parte das pessoas. Consequentemente, há uma crescente valorização deste tipo de turismo e dos bens e serviços nacionais, fazendo com que haja um retomar de atividades e, por consequência, uma melhoria na balança corrente e na balança de pagamentos.

Tendo em consideração tudo o que foi referido, reputo que é fundamental: por um lado, continuar a aplicar estratégias, como as mencionadas, para mitigar o impacte negativo provocado pela pandemia COVID-19, designadamente através da aplicação de medidas preventivas, objetivas e sem ambiguidades, que sejam efetivamente cumpridas, com o objetivo de que, com o controlo eficaz do surto pandémico, se consiga, a médio prazo, contribuir para um decréscimo do número de infetados; e, por outro lado, tentar ao máximo que a economia nacional se mantenha em funcionamento, assegurando a produção e a comercialização de bens e serviços e a manutenção de o maior número de postos de trabalho.

Só com medidas eficazes, que permitam voltar ao “normal”, a economia nacional e a economia mundial retomarão a trajetória de crescimento no setor do turismo, permitindo construir o presente e perspetivar o futuro.

Inês Morais

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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