O
endividamento das famílias tem dilatado muito nas economias europeias e
Portugal não é exceção, sendo ainda considerado um dos países com maior nível
de endividamento. Este paradigma é sinistro e acarreta consequências
financeiras graves. O elevado nível de
endividamento das famílias tem como principais causas os empréstimos, a taxa de
juro, o rendimento, o consumo e a taxa de inflação.
A
temática do endividamento é muito complexa e requer um estudo intensivo, no
entanto, o meu foco irá centrar-se essencialmente na intensificação do consumo
e na massificação dos empréstimos para habitação a que temos assistido ao longo
das últimas décadas.
Temos
endividamento quando existe um desequilíbrio entre o que um indivíduo ganha e
aquilo que gasta. A meu ver, o endividamento é um problema quando há
incumprimento das famílias quanto aos prazos de pagamento do empréstimo.
Nos
últimos anos, o nível médio de consumo dos indivíduos aumentou bastante, e muitas
pessoas passaram a viver acima das suas possibilidades. É aqui que entra o
papel dos empréstimos, pois apesar de não terem orçamento para tal nível de
vida as famílias acabam por recorrer a créditos. Deste modo, aquilo que gastam
é maior do que aquilo que, de verdade, têm disponível. Obviamente um consumo
desenfreado cria um ciclo vicioso. Inicialmente, obtém-se um crédito para
consumir, depois surgem situações de falta de liquidez e contrai-se um novo
empréstimo, e muitas vezes são efetuados créditos para pagar outros. Assim,
surge o chamado “efeito bola de neve” que pode conduzir a um cenário dramático,
arriscando no limite que possam ocorrer situações de sobre-endividamento.
Em
Portugal, o crédito à habitação é uma das principais fontes de endividamento
das famílias. Este fenómeno deve-se à maior acessibilidade que as famílias têm
em contrair empréstimos, muito impulsionada pela redução das taxas de juros e
da sua volatilidade, e pelo aumento da oferta de créditos.
As avultadas prestações que as famílias têm de fazer todos os meses a fim de pagar os empréstimos contraídos representam uma colossal parcela do endividamento. A facilidade de contrair um empréstimo acaba por influenciar a crescente evolução deste fenómeno.
Figura 1: Empréstimos concedidos às pessoas pelos bancos, para
habitação ou consumo e outros fins
Fonte: Pordata, https://www.pordata.pt/Portugal/Montantes+de+empr%c3%a9stimos+concedidos+no+ano+a+particulares+total+e+por+tipo+de+finalidade-2844 , 26 outubro 2020.
A
figura 1 representa claramente a dimensão que os empréstimos assumem para as famílias.
Além disso, verificamos que os créditos para habitação e consumo têm uma
trajetória semelhante. No período da crise financeira de 2007, o recurso a
créditos disparou, pois perante a crise e as medidas de austeridade muitas famílias
viram-se sem rendimento para fazer face às suas necessidades. Nos anos
subsequentes, assiste-se a uma redução significativa muito impulsionada pelas
regras impostas. Recentemente, verifica-se uma tendência crescente e acredito
que esta irá prolongar-se em 2020 e nos anos subsequentes devido à crise de
COVID-19 que enfrentamos.
Na
minha opinião, o endividamento é um tema atual e, principalmente, neste momento
de pandemia mundial, pois será de esperar um maior grau de endividamento das
famílias no pós-crise. Apesar de não haver ainda informação científica e dados
quanto a esta minha antevisão, acredito que a tendência será esta pois,
historicamente, quando há uma crise, os empréstimos aumentam, o risco de
incumprimento dispara, as insolvências surgem e tudo isto contribui para o
incremento do endividamento das famílias.
Perante
isto, concluo que o endividamento é um panorama evidente no contexto económico
e financeiro português e deve-se em grande parte ao aumento do consumo
impulsionado por estilos de vida mais modernos e urbanizados e à intensificação
dos créditos para habitação. Respondendo à questão inicial, considero que os
créditos tornam-se uma ameaça à estabilidade financeira quando as famílias
entram em incumprimento pois, como diz o ditado, “A divida é o primeiro
herdeiro” e no cenário mais pessimista podem perder todos os seus bens.
Contrariamente, se as dívidas forem bem geridas e contraídas com a
contrapartida de investimentos seguros, os créditos podem ser identificados
como impulsionadores da atividade económica.
Patrícia Novais
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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