Dados
que fazem referência a anos entre 1996 e 2019, mostram que o saldo da balança
comercial portuguesa tem vindo a ter evoluções bastante positivas, passando de
um saldo de -6.685,4 milhões de euros em 1996 para um excedente igual a 817,9
milhões de euros em 2019.
Comparando com outros países europeus,
verificamos que, mesmo atingindo um saldo da balança comercial positivo,
Portugal ainda apresenta valores muito baixos.
O saldo da balança comercial é obtido através do
resultado da diferença de exportações e importações de bens e serviços. Ao
analisarmos ao pormenor as transações de bens e serviços, observamos que, ano
após ano, em Portugal, são importados muitos mais bens do que aqueles que
exportamos. Deste modo, conseguimos facilmente retirar a conclusão que a
componente dos serviços é a que impulsiona o saldo da balança comercial para
valores positivos. Através desta análise, conseguimos perceber que o país tem
caminhado a passos largos para a terciarização da sua economia, uma vez que o
setor dos serviços é predominante.
Durante imensos anos, muitos entendidos da
matéria afirmavam que a terciarização das economias era o caminho certo e que
os países que o fizessem iam ter taxas de crescimento maiores. Não vou negar
tal afirmação, mas a situação pandémica que vivemos, que obrigou a uma
imobilização populacional, levantou imensas questões quanto à viabilidade do
discurso anterior. Atualmente, assistimos a debates diários sobre o tema
“Terciarização vs Industrialização”, pois analisando os dados do primeiro
semestre de 2020 fornecidos por agências de estatísticas dos países e OCDE,
constatamos que os países que não abdicaram da industrialização, como é o caso
da China, conseguiram mais facilmente atenuar os efeitos negativos da pandemia
COVID-19, atuando como uma espécie de “fornecedor” do mundo.
Atendendo aos dados apresentados e tendo em
conta a situação delicada que vivemos, na minha opinião, Portugal deve
estabelecer como objetivo o aumento do peso da indústria no PIB. Isto, naturalmente,
implica um reindustrialização do país. Não podemos esperar que este seja um
processo simples. Portugal tem de ser capaz de atrair capital estrangeiro para
financiar os projetos e para isso é importante que tenha condições físicas e
regulamentais atrativas e estáveis. Devem ser tomadas medidas capazes de atrair
jovens para o setor, e está nas mãos de quem governa criar um contexto
económico ideal que promova a emergência de projetos liderados por estes
jovens.
É
importante também estabelecer parcerias entre empresas com altos níveis de
tecnologia e empresas mais tradicionais de forma a retirar maior produtividade
da diversidade de manufaturas existentes no nosso país. Através desta relação
entre empresas com diferentes níveis de tecnologia, é de esperar que mesmo as
empresas mais tradicionais sejam capazes de se adaptar ao novo contexto dos
mercados e que consigam transportar parte ou a totalidade das suas ações para o
digital.
Apenas desta forma conseguiremos voltar a colocar a indústria no centro da nossa atividade económica e, consequentemente, tornar Portugal mais competitivo nos mercados globais.
Ricardo Araújo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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