Os mercados financeiros
são uma estrutura de transações, quer de compra quer de venda de valores
mobiliários, tais como ações, obrigações, moeda, mercadorias, commodities, para além de outros bens,
títulos e contratos de futuro. Desta forma, podemos então contextualizar
dizendo que o mercado financeiro é o local onde ocorrem operações entre aqueles
que possuem recursos para investir e aqueles que necessitam desses mesmos
recursos para se financiar.
A crise sanitária que
estamos a viver devido à pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2 está a ter
impacto no desempenho dos mercados financeiros, contudo esse mesmo impacto que
se faz sentir na generalidade dos países varia de acordo com as medidas mais ou
menos restritivas tomadas de forma a controlar a propagação do vírus,
estabelecendo assim um trade-off
entre os cuidados de saúde e a economia.
O sentimento das
principais bolsas europeias acusa, por um lado, o crescimento do número dos
novos casos de contágio, naquela que é denominada como segunda vaga, e que está
a levar os diversos países a tomarem novamente medidas de contenção mais duras
e que podem vir a causar um agravar do problema económico que vemos no horizonte.
Por outro lado, os investidores sentem-se confiantes a operar no mercado dado
que as taxas de juro estão próximas de zero, e vemos pacotes de ajuda económica
a serem aprovados na maioria dos países. Estes pacotes de ajuda económica estão
a ser operacionalizados na maioria dos casos por injeção económica, isto é,
recorrendo à forma mais direta de introduzir dinheiro, ou seja, compram ativos
financeiros diretamente de forma a aumentar a liquidez, muitas vezes sem ter em
atenção a qualidade e o risco envolvido.
1- Gráficos do índice PSI-20 e do Euro Stoxx 50 a 1 ano - Data:22/10/2020
Enquanto esta política desenvolvida através de estímulos, embandeirada nos EUA, e tendo em conta o desincentivo à poupança convencional (taxas de juro próximas de 0%), fez aumentar em muito o preço dos ativos, quer seja das ações, obrigações, imobiliário, e todos as outras formas que as pessoas têm de acumular riqueza, denotando-se atualmente um “desligamento” entre a economia e a realidade, chegando ao ponto em que a economia americana enquanto contabilizava números recordes de desempregados e os indicadores eram tudo menos positivos, por exemplo a produção e os lucros caiam, a bolsa de valores registava valores mais altos que aqueles antes da pandemia. Podemos olhar com especial atenção para a empresa Tesla, conhecida pelos carros elétricos, que desde o início da pandemia triplicou o seu valor, num crescimento quase inexplicável.
2- Gráficos do índice S&P500 e das ações TESLA a 1 ano - Data:22/10/2020
E é aqui que deixa de ser
importante perceber de economia, pois esta não acompanhou a valorização de
mercado, e estamos perante um momento que é visto por muitos como uma bolha
prestes a explodir. As economias em todo o mundo estão próximas daquela que
pode ser a pior recessão em muitas décadas, contudo o preço dos ativos em nada
retrata esse acontecimento. A única forma de fazer sentido é pensar que as
taxas de juro continuarão próximas de zero e os estímulos económicos, tal como
a “Bazooka” que se espera na Europa e o quantitive
easing dos EUA, se manterão por muito longo de tempo.
Desta forma e olhando quer os acontecimentos quer à indefinição presente no momento face à pandemia, entre as quais a perspetiva de descoberta da vacina, vemos que a economia poderá sofrer naquele que é o trade-off com a saúde. Mas a questão que prevalece é: até quando a saúde permitirá que os mercados financeiros se mantenham saudáveis?
Luís
Filipe Rodrigues Martins
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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