segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Salário mínimo em Portugal: devemos aumentar ou não?

Nos últimos tempos, em Portugal, para além da crise sanitária pela qual estamos a passar devido à Covid-19, o aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN) para o próximo ano tem sido um dos pontos em discussão. Nesta situação de incerteza, insegurança e assimetria, devemos ou não aumentar o SMN?

Atualmente, Genebra, um dos 26 cantões suíços, tem o salário mínimo em 3700€, o mais alto do mundo. Relativamente à União Europeia, nota-se uma diferença enorme entre o salário de certos membros. No topo da tabela temos o Luxemburgo, com um salário mínimo de cerca de 2142€, e em último lugar a Bulgária, com cerca de 312€.

Em Portugal, desde o primeiro dia deste ano, o salário mínimo encontra-se em 635€, que, segundo o governo, o aumento de 35€ relativamente ao ano passado afetou cerca de 720 mil trabalhadores. Para o próximo ano, 2021, a sugestão é passar para 670€, uma proposta que com a queda do PIB e o aumento o desemprego pode dificultar as negociações entre as partes. Na história portuguesa, o aumento do salário mínimo com a economia a cair apenas aconteceu 4 vezes nos últimos 46 anos: em 1985, 1994, 2004 e 2010. E tendo presente a crise financeira, o salário mínimo manteve-se congelado nos 485€ entre 2011 e 2014.


O Banco de Portugal, na sua previsão publicada a 6 de outubro, estima que Portugal tenha uma queda no PIB de 8,1% e que o desemprego suba para 7,5%. Apesar deste fenómeno sanitário que apresenta uma trajetória de incerteza, o governo de António Costa mantém o seu objetivo de atingir os 750€ de retribuição mínima mensal até 2023, fim da legislatura.

No âmbito do combate ao vírus SARS-CoV-2, nota-se um claro abrandamento ou mesmo uma queda no desenvolvimento de certos setores, o que leva a um desempenho negativo para a economia, na generalidade. As medidas tomadas para controlar a sua propagação vieram fragilizar várias empresas e setores, muitas das quais viram as suas receitas a cair drasticamente e os seus custos a manterem-se. Com este ambiente de insustentabilidade, o governo viu-se forçado a dar apoios para que pelo menos algumas empresas conseguissem sobreviver. Estes apoios, mais os gastos no sistema de saúde, mais o fecho da economia, são medidas que se notam na subida da dívida portuguesa de 117% do PIB, em 2019, para 137,2% do PIB, este ano, segundo a previsão do FMI.

Logo, dada a situação atual de incerteza e insegurança, a decisão do aumento do salário mínimo tem que ser bem ponderada, uma vez que tanto pode ter um efeito positivo na economia, como por exemplo o facto dos trabalhadores auferirem de um melhor salário, como pode ter efeitos negativos. Apesar de este aumento não afetar todas as empresas de igual forma, e dado que as empresas mais produtivas, em regra geral, já pagam um salário superior ao salário mínimo, para outras este não é o cenário recomendável. O aumento do salário mínimo vai aumentar os custos de produção, e não tendo capacidade de transferir parte destes custos para o preço do produto, as margens de lucro da empresa diminuem, o que pode conduzir à saída destas do mercado, contribuindo assim para o aumento de pessoas sem emprego. Pessoas estas que, normalmente, têm baixos níveis de educação, o que se torna mais difícil para elas encontrarem outro emprego.

Mas, tomando outro ponto de vista, será que com o aumento do salário mínimo, obrigando as empresas menos eficientes que não conseguem suportar os custos a sair, não torna o mercado mais eficiente?

Assim sendo, não sabendo quando tempo mais esta pandemia vai durar, e sabendo que as consequências se vão sentir para além do momento presente, para 2021 a decisão de aumentar o salário mínimo deverá ser mais ponderada do que em anos anteriores, devido ao atual estado de incerteza e à falta de informação na economia. Posteriormente, dependendo da evolução da economia, devemos planear aumentos maiores do salário mínimo se tivermos uma recuperação económica maior, mas caso a recuperação não seja tão favorável, os aumentos devem ser menores.


Manuel José Barbosa Nogueira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: