A presença e impacte da
pandemia na vida de milhões de pessoas é inegável, assim como nos atuais e
futuros rendimentos dos milhões de portugueses que constituem a população ativa,
quer no mercado de trabalho, quer na formação de PIB e criação de riqueza, quer
no contributo para a economia. Desta forma, o confinamento, pelo qual passamos
ainda este ano, prejudicou toda a atividade e todo este ciclo: gerou adiamentos
nos pagamentos, revisão de prazos, suspensão do processo produtivo, moratórias
aos créditos, incerteza, e, como seria de esperar face a todos estes fatores e
muitos mais, a perda de postos de emprego – sendo nesta problemática que me vou
centrar, ela que é responsável pela maioria das fontes de rendimento dos
portugueses ou de qualquer cidadão que resida em Portugal.
De facto, os efeitos do
confinamento e encerramento de estabelecimentos comerciais e do comércio local
não foram imediatos, muito devido a medidas prontamente tomadas pelo Governo
Português em relação aos apoios às empresas, nomeadamente, o lay-off
(quer total, quer parcial, que manteve rendimentos e ajudou a subsistir
famílias por vários meses) e ainda as linhas de crédito às empresas,
principalmente para as PMEs com incapacidade para suportar os custos do lay-off
e de atividade produtiva reduzida ou até mesmo inexistente.
Tendo, como exemplo, a
região do Minho, que, à data de fevereiro de 2020 registava 30 160
desempregados, esta perdeu 8 207 empregos até setembro deste ano. Representou
então um crescimento do desemprego em 27% na região. Acresce ainda que, de
acordo com os dados do Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério de
Economia revelados a 16 de outubro de 2020, o número de desempregados inscritos
no IEFP registava em agosto 409 331, contabilizando um aumento de 103 844 (face
aos 305 487 registados no 4º trimestre de 2019, antes da pandemia). São números
preocupantes e que se refletem numa taxa de desemprego de 8,1% no mesmo mês de
agosto e que nos remetem para os valores de outros períodos, nomeadamente,
final de 2017.
Apesar dos indiscutíveis
números descritos acima, a variação no emprego não é igual, embora seja transversal
a todos os setores da economia. Desta forma, de entre atividades como o setor
primário, indústria transformadora, construção, entre outros, a maior perda
regista-se previsivelmente no setor terciário, associado aos serviços de
turismo e lazer, portanto o comércio, restaurantes e hotéis, em que, face ao
período homólogo, sofreram um decréscimo nos postos de trabalho em 9,6% no 2º
trimestre de 2020.
Relativamente a números e
previsões para o fim do presente ano, os dados do Banco de Portugal apontam
para 7,5%, ligeiramente inferior ao verificado em agosto (8,1%), o que assinala
uma ligeira tendência de recuperação, que posteriormente comentarei em mais
detalhe. É um número previsto em baixa, comparativamente ao divulgado em junho
(10,1%), e é graças a políticas extraordinárias e temporárias de proteção ao
emprego que foram postas em prática, com especial destaque para o ‘lay-off’
simplificado e outras medidas provenientes do Programa de Estabilização
Económica e Social do Governo.
No momento atual,
atravessamos a realidade da segunda vaga, que veio em maior peso e intensidade
do que a primeira, muito provavelmente devido à continuidade da atividade
económica, em sentido contrário ao confinamento geral de março e abril. E é
neste contexto de incerteza vivido pelas empresas e pelas famílias, quer pela
sombra de um novo encerramento da economia que se tenta evitar, ou pela
indefinida situação pandémica que parece depender de uma possível vacina no ano
de 2021, que o Governo apresenta também as suas previsões para os números do
desemprego nesse mesmo ano de 2021 – 8,2% da população ativa. A meu ver, as
previsões do Executivo são bem mais pessimistas, por exemplo para 2020, do que
as do BdP, isto é, de acordo com o Governo, o desemprego deverá atingir este
ano 8,7%, já o Banco de Portugal prevê 7,5%.
Tudo são números e
previsões, mas a certeza está na recuperação da economia e do emprego de que os
próximos anos têm de acontecer, dado que as decisões de contratação das
empresas continuarão condicionadas sempre que o contexto de incerteza na
perspetiva de procura e de existência de recursos persistir. Penso que a
utilização adequada e acertada dos valores a fundo perdido destinados a
Portugal e provenientes da Comissão Europeia estará na base da recuperação e do
programa apresentado pelo Primeiro-Ministro, aliás, como referido pelo mesmo, e,
portanto, o retorno aos indicadores macroeconómicos de 2019 e anteriores à
pandemia demorará bem mais do que o esperado; possivelmente, até dez anos.
Será essencial para
Portugal, tal como tem sido nos últimos anos, procurar criar e manter emprego
através do investimento nos setores público e privado e, em especial, no setor
do Turismo (particularmente afetado nas circunstâncias atuais) que foi a base
da recuperação económica eficientemente operada na última década.
Gabriel Costa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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