É
do conhecimento comum que a crise sanitária que vivenciamos constitui um problema
global, todavia existem países, como é o caso da China, que não foram tão
gravemente afetados pela COVID-19. A China foi o país onde ocorreu o primeiro
caso da doença pelo que teria mais dificuldade em controlar o vírus e,
consequentemente, os efeitos mais graves nas diversas dimensões. Mas, surpreendentemente,
é um dos países com menos impactos negativos, sendo que pode terminar 2020 com
um evolução do PIB positiva.
O
FMI prevê que, em 2020, o PIB chinês irá crescer 1,9%, que apesar de ser menor
relativamente aos anos anteriores, é positivo, facto que a generalidade dos
outros países do mundo não apresenta. De acordo
com o Gabinete Nacional de Estatísticas chinês, a China tornou-se o primeiro
grande país a retomar o crescimento económico desde o início da pandemia, alcançando
uma expansão inesperada de 3,2% no segundo trimestre.
O
período atual é de elevada incerteza, no entanto, não há dúvidas que o COVID-19
se trata de um fenómeno de elevada gravidade dadas as suas bastas
consequências, quer na esfera social e da saúde, quer na economia, agravadas no
horizonte temporal devido à dificuldade em controlar a pandemia, dado que há
uma grande mobilidade de pessoas entre diferentes países causada pela
globalização. Assim, analisando o panorama global, é difícil perceber a razão
pela qual a China terá um crescimento positivo em 2020. A verdade é que a escala
dos impactos do COVID-19 varia entre os países do mundo, consoante a sua
dependência em relação a alguns setores e dependendo das medidas tomadas com
vista a solucionar a crise sanitária.
A
China, apesar de todos os efeitos devastadores do vírus atual, teve um bom
desempenho, pelo que defendo que a sua estratégia deve ser seguida pelos outros
países fortemente afetados pelo vírus, em que as suas economias não conseguiram
suportar os impactos desta crise.
Por
um lado, as exportações da China resistiram aos efeitos prejudiciais da
pandemia que vivenciamos. As medidas tomadas com o intuito de solucionar a
pandemia atual originaram necessidades, como a compra de equipamentos
hospitalares, de máscaras e de desinfetantes. Com a globalização, a maioria dos
países do ocidente optaram pela estratégia de desindustrializar-se e focaram-se
no fornecimento de serviços, pelo que estes produtos requeridos não estão
disponíveis nesses países. Deste modo, têm de importá-los da China, pois
tornou-se no principal fornecedor de produtos transformados.
Por
outro lado, à medida que o número de infetados de COVID-19 aumenta ao redor do
planeta, a China regista cada vez menos casos. Assim, para além da razão
anteriormente enunciada, a China também conseguiu, através de diversas medidas
tomadas pelo Estado, controlar o contágio, o que permitiu que quase todo o país
deixasse de estar em confinamento mais cedo do que o esperado e contribuiu para
o crescimento positivo da sua economia.
Assim
sendo, o facto desta crise conectar diversas dimensões reforça a necessidade de
uma reconfiguração das estratégias anteriores à crise nos países mais afetados.
Mais concretamente, considero que os países devem refletir sobre a recolocação da
indústria no centro da atividade económica, nomeadamente o fabrico de produtos
competitivos, de modo a evitar esta forte dependência de fornecedores externos.
Além disso, penso que poderá também ser necessário um abrandamento do processo
da globalização ou até mesmo alguma desglobalização, de forma a repensar a
forma de organização das cadeias de produção e contribuir para um maior
controlo do contágio do atual do vírus.
Catarina Vieira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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