De entre as várias
alterações a que temos assistido neste ano diferente, convém olhar para o lado
das famílias e como estas se têm comportado. Sabe-se que estas estão a optar
por renovar certos hábitos de consumo e a olhar para o futuro de maneira diferente,
mas o que será que tem vindo a acontecer à poupança, mesmo sabendo-se que
apesar de a taxa de poupança ser muito afetada por efeitos sazonais convém
analisar estes dados neste contexto pandémico. Sabe-se também, através de
vários estudos, que a taxa de poupança costuma relacionar-se de maneira
positiva com a atividade económica e negativamente com a taxa de desemprego, ou
seja, uma taxa de poupança maior é associada a maior atividade económica e a
menores valores de desemprego. Neste caso, aquilo que acontece não é bem isso,
já que a atividade económica tem estado em baixo e a taxa de desemprego
registou uma subida, estando situada nos 8,1%, segundo estimativas do INE. Como
se tem comportado, então, a taxa de poupança?
De acordo com dados
divulgados em meados de setembro pelo INE, constata-se que as famílias têm
vindo a poupar mais do que em períodos anteriores, chegando a 10,6% no segundo
trimestre deste ano, valor mais alto registado desde o segundo terço do ano de
2013.
Este valor advém de uma
taxa de consumo que diminuiu em quase 4% face ao período anterior e que mais
que compensou a queda no rendimento disponível bruto de 0,4%. O impacte da
pandemia nestes dados é então óbvio, devido aos vários encerramentos que aconteceram,
bem como as restrições à circulação, que resultou em quebras abruptas no
consumo.
Além de Portugal, também
a zona euro registou uma subida na taxa de poupança das famílias, situando-se
nos 24,6% entre os meses de abril e junho. Este foi o valor mais alto alguma
vez registado desde a criação desta zona, em 1999. Ao mesmo tempo, a Eurostat
dá conta que a taxa de investimento das famílias atingiu o valor mais baixo
desde a constituição desta zona, com 7,9%, contra os 8,9% registados no
primeiro trimestre de 2020.
Já ao nível do
endividamento das famílias, a associação de defesa do consumidor (Deco) recebeu
cerca de 14 mil pedidos de aconselhamento financeiro entre o período desde que
foi decretado o estado de emergência, em março, e o final do mês de setembro. A
maior parte destes casos vem de pessoas desempregadas ou com uma grave quebra
de rendimentos.
De forma a não agravar
este problema do endividamento, é proposto um agravamento de 50% nas taxas de
imposto de selo no âmbito do crédito ao consumo, isto de forma a desincentivar
o endividamento, mas que é ao mesmo tempo uma proposta contraditória, pois
neste momento a economia necessita de se reerguer e muitas vezes esta é a única
maneira de os cidadãos terem capacidade de investir e ajudar nesse processo de
recuperação económica.
A própria Deco lançou
algumas medidas que podem ajudar neste problema, que apesar de terem sido
discutidas noutras fases económicas, não deixam de continuar a ser importantes.
Numa fase de prevenção, devem ser promovidas campanhas de informação ou a
clarificação de algumas informações financeiras. Depois, para certos casos já
com mais problemas, são propostas criações de certos departamentos que possam
ajudar, bem como medidas mais leves que ajudem estas famílias mais endividadas.
Esta crise trouxe uma
clara diferença nestes dois indicadores económicos face ao que tem vindo a
acontecer em anos anteriores, atingindo até valores recorde em alguns planos.
Em termos da poupança, a variação desta está claramente relacionada com o menor
consumo realizado pelas famílias, e contrasta com vários estudos feitos que
dizem que tempos com menor atividade económica levam a taxas menores. E ao
nível do endividamento, este ganha mais relevo em casos extremos, como os
desempregados ou pessoas com graves quebras de rendimento, mas não deixa de ser
algo preocupante existirem 14 mil pedidos de ajuda.
Concluindo e de acordo com a minha opinião, creio que devem ser estabelecidas medidas que ajudem as famílias a informarem-se melhor financeiramente e a ganharem melhores hábitos de consumo de forma a conseguirem não só poupar mais bem como não correrem o risco de se endividarem. É também importante ajudar os casos que por vezes há onde as pessoas não sabem bem o que fazer ao seu dinheiro e acabam por se endividar. Para além de a ajuda anterior ser importante, se o caso for grave, estas pessoas devem ter medidas menos penalizadoras e que no futuro elas mudem os seus hábitos.
Tiago Marques Figueiredo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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