terça-feira, 27 de outubro de 2020

Evolução da poupança e endividamento das famílias durante a crise Covid-19

De entre as várias alterações a que temos assistido neste ano diferente, convém olhar para o lado das famílias e como estas se têm comportado. Sabe-se que estas estão a optar por renovar certos hábitos de consumo e a olhar para o futuro de maneira diferente, mas o que será que tem vindo a acontecer à poupança, mesmo sabendo-se que apesar de a taxa de poupança ser muito afetada por efeitos sazonais convém analisar estes dados neste contexto pandémico. Sabe-se também, através de vários estudos, que a taxa de poupança costuma relacionar-se de maneira positiva com a atividade económica e negativamente com a taxa de desemprego, ou seja, uma taxa de poupança maior é associada a maior atividade económica e a menores valores de desemprego. Neste caso, aquilo que acontece não é bem isso, já que a atividade económica tem estado em baixo e a taxa de desemprego registou uma subida, estando situada nos 8,1%, segundo estimativas do INE. Como se tem comportado, então, a taxa de poupança?

De acordo com dados divulgados em meados de setembro pelo INE, constata-se que as famílias têm vindo a poupar mais do que em períodos anteriores, chegando a 10,6% no segundo trimestre deste ano, valor mais alto registado desde o segundo terço do ano de 2013.

Este valor advém de uma taxa de consumo que diminuiu em quase 4% face ao período anterior e que mais que compensou a queda no rendimento disponível bruto de 0,4%. O impacte da pandemia nestes dados é então óbvio, devido aos vários encerramentos que aconteceram, bem como as restrições à circulação, que resultou em quebras abruptas no consumo.

Além de Portugal, também a zona euro registou uma subida na taxa de poupança das famílias, situando-se nos 24,6% entre os meses de abril e junho. Este foi o valor mais alto alguma vez registado desde a criação desta zona, em 1999. Ao mesmo tempo, a Eurostat dá conta que a taxa de investimento das famílias atingiu o valor mais baixo desde a constituição desta zona, com 7,9%, contra os 8,9% registados no primeiro trimestre de 2020.

Já ao nível do endividamento das famílias, a associação de defesa do consumidor (Deco) recebeu cerca de 14 mil pedidos de aconselhamento financeiro entre o período desde que foi decretado o estado de emergência, em março, e o final do mês de setembro. A maior parte destes casos vem de pessoas desempregadas ou com uma grave quebra de rendimentos.

De forma a não agravar este problema do endividamento, é proposto um agravamento de 50% nas taxas de imposto de selo no âmbito do crédito ao consumo, isto de forma a desincentivar o endividamento, mas que é ao mesmo tempo uma proposta contraditória, pois neste momento a economia necessita de se reerguer e muitas vezes esta é a única maneira de os cidadãos terem capacidade de investir e ajudar nesse processo de recuperação económica.

A própria Deco lançou algumas medidas que podem ajudar neste problema, que apesar de terem sido discutidas noutras fases económicas, não deixam de continuar a ser importantes. Numa fase de prevenção, devem ser promovidas campanhas de informação ou a clarificação de algumas informações financeiras. Depois, para certos casos já com mais problemas, são propostas criações de certos departamentos que possam ajudar, bem como medidas mais leves que ajudem estas famílias mais endividadas.

Esta crise trouxe uma clara diferença nestes dois indicadores económicos face ao que tem vindo a acontecer em anos anteriores, atingindo até valores recorde em alguns planos. Em termos da poupança, a variação desta está claramente relacionada com o menor consumo realizado pelas famílias, e contrasta com vários estudos feitos que dizem que tempos com menor atividade económica levam a taxas menores. E ao nível do endividamento, este ganha mais relevo em casos extremos, como os desempregados ou pessoas com graves quebras de rendimento, mas não deixa de ser algo preocupante existirem 14 mil pedidos de ajuda.

Concluindo e de acordo com a minha opinião, creio que devem ser estabelecidas medidas que ajudem as famílias a informarem-se melhor financeiramente e a ganharem melhores hábitos de consumo de forma a conseguirem não só poupar mais bem como não correrem o risco de se endividarem. É também importante ajudar os casos que por vezes há onde as pessoas não sabem bem o que fazer ao seu dinheiro e acabam por se endividar. Para além de a ajuda anterior ser importante, se o caso for grave, estas pessoas devem ter medidas menos penalizadoras e que no futuro elas mudem os seus hábitos.


Tiago Marques Figueiredo 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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