A crise sanitária que vivemos
encontrou um mundo completamente despreparado para a enfrentar e face a ela temos
observado várias consequências indesejadas, desde consequências a nível da
saúde (como é óbvio) mas também uma recessão económica sem precedentes. Como
tal, ainda é uma grande questão para os especialistas a melhor forma de lidar
com ela. Já existem várias previsões para um crescimento económico no próximo
ano mas até que ponto podemos prever qualquer coisa sendo que esta pandemia
ainda está longe de ser contida?
A pandemia veio mudar completamente os
nossos hábitos, os nossos costumes, a nossa vida. Uma grande parte da população
enfrentou meses em layoff, com
rendimentos significativamente mais baixos. O consumo diminuiu, o turismo caiu,
restaurantes, cafés e muitos outros estabelecimentos de atendimento ao público
viram-se sem poderem abrir as portas durantes meses. Toda esta complicada
situação traduziu-se numa grave contração da economia. Mesmo depois de o lockdown ter começado a ser levantado
aos poucos, a vida nunca regressou ao normal e todas as medidas de contenção
tomadas e o distanciamento social, ainda que necessários, continuam a conter
uma melhoria mais rápida da economia.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê
um encolhimento da economia mundial de 4,4%. É previsto um aumento na
desigualdade e 115 milhões de pessoas na miséria só neste ano, de acordo com o
Banco Mundial. Portugal pode enfrentar uma diminuição do seu PIB de 8,0% mas
esta pode ser até de 9,8%, de acordo com as estatísticas da CE, com perdas
particularmente elevadas nas exportações do país, especialmente no turismo.
Para o ano de 2021, o FMI prevê um crescimento de 5,2% no PIB mundial. Para
Portugal, faz previsões semelhantes, de 5,0% do seu PIB. Este crescimento pode
até ser de 6,3%, de acordo com previsões mais otimistas (OCDE).
Dado o estado de completa incerteza que ainda
vivemos, estas previsões são, na minha opinião, bastante incertas e demasiado
otimistas. Isto porque, infelizmente, a pandemia ainda está longe de ser
contida. Estamos a viver a segunda vaga da pandemia, com um crescimento
exponencial de casos todos os dias. Muito provavelmente, medidas mais
restritivas vão ter de ser implementadas, e com elas virá um agravamento ainda
maior da situação económica e maior dificuldade na recuperação. É possível e
provável que possa haver uma terceira vaga, até uma quarta vaga. Como tal, é um
trabalho extremamente difícil tentar prever consequências certeiras e
perspetivas de recuperação quando ainda estamos tão longe de compreender
inteiramente o vírus, e sem certezas de uma vacina.
Apesar de serem necessárias e úteis para
podermos ter uma noção do estado da economia e das consequências que a pandemia
causou até agora, é importante termos a noção de que estas estatísticas possam
estar bastante aquém do impacte que a pandemia possa ainda vir a ter. Além
disso, não devemos animarmo-nos demasiado com as expectativas de crescimento
para o próximo ano quando não temos qualquer indicação do que acontecerá na
luta contra o vírus, que ainda está longe de ser vencida. E enquanto a
contenção deste não for alcançada, é extremamente improvável que exista uma
melhoria satisfatória na economia. Como tal, só quando já existir uma perspetiva
real do que vai acontecer em relação ao vírus poderão ser feitas previsões mais
realistas.
Raquel Silva Novais
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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