Como
não poderia deixar de ser, o tema mais controverso e preocupante de 2020 tem
sido a crise pandémica. Este fenómeno tem afetado fortemente a economia mundial
e está a devastar setores como o do turismo, porém, o contexto de
distanciamento que surgiu com a pandemia acabou por dar uma oportunidade ao e-commerce.
Segundo um estudo da Group M (grupo de agências de investimento media), realizado em abril do presente
ano, as repercussões da pandemia geraram um crescimento do e-commerce entre
40 e 60%, face aos valores registados no ano anterior 2019, em algumas
categorias como o retalho alimentar.
Ainda assim, e apesar de ser demasiado cedo para inferir o
verdadeiro impacte que a crise sanitária terá neste setor, é expectável que o
crescimento do comércio eletrónico fique aquém de seu potencial pleno, uma vez
que, comparativamente com outros países, grande parte do comércio retalhista
português ainda não tem canais digitais estabelecidos. E, para além disto, o
cenário de adaptação/resposta é vivido por todos nesta situação adversa e,
possivelmente, nem sempre os recursos necessários estiveram disponíveis para
total eficiência.
Sabe-se ainda, através da Sociedade Interbancária de Serviços (SIBS), que o valor médio das compras online aumentou
aproximadamente 18% ao longo do período de estado de emergência. Estes dados, levam-nos
a pensar que, provavelmente, um número considerável de novas pessoas ter-se-á
tornado consumidor neste mercado, e, por outro lado, retiramos também que
aqueles que já optavam pelo comércio eletrónico diversificaram ou reforçaram o
seu “carrinho”.
Para além disto, com o período de confinamento surgiram também
novos hábitos e novas necessidades, deste modo, o comércio eletrónico, que
antes era usado mais na aquisição de bens mais supérfluos, passou a ser mais
usado também na aquisição de bens de primeira necessidade. Assim, o que
anteriormente foi feito por uma questão de necessidade poderá, futuramente, ser
feito por uma questão de comodidade.
Estamos, assim, perante tempos de reconfiguração do panorama
mundial, desde os grandes temas centrais como a subsistência da economia e do
sistema de saúde até à mais pequena interação social entre cidadãos. Tudo isto
irá deixar marca no mundo como o conhecemos, pois todas estas dimensões estão
interligadas e assim será mais suscetível a mudança de comportamentos, onde
temos que incluir os de consumo.
Deste modo, posso dizer que, a meu ver, a crise sanitária pode
muito bem constituir um grande ponto de viragem para o e-commerce em Portugal, sendo que acabou por impulsionar uma
“alfabetização” no que toca à compra on-line
de muitas pessoas que, anteriormente, não se expunham a essa realidade, muitas
vezes por um certo cepticismo não fundamentado.
Agora, creio que o caminho assenta em criar a melhor experiência
possível para o consumidor, tentando passar ao máximo a segurança que está
inerente à compra física para a compra virtual, passando pelo melhoramento de
toda a logística que se exige, inventários, envios, devoluções, reembolsos,
etc.
Tudo isto para que este crescimento se possa tornar cada vez mais sustentável e de maneira a que este canal de vendas tome as devidas proporções no menor espaço de tempo. E, assim, poderemos continuar aquele que é dos poucos legados positivos que a pandemia nos deixa, que corresponde à importância dada ao comércio eletrónico e o alerta para a debilidade que surge associada a quem está meramente dependente de comércio físico. Felizmente, a perspetiva de muitos de nós terá mudado e assim aumentará o leque de oferta on-line, com cada vez mais empresas a acrescentar esta vertente comercial à sua estrutura.
Daniel Pereira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário