domingo, 18 de março de 2012

Competências Produtivas

A modernização da economia portuguesa nos últimos 26 anos implicou algumas consequências territoriais profundas. As transformações verificadas em campos como as infra-estruturas de mobilidade e as condições de habitação, induzidas pelo grande volume de fundos estruturais e de coesão, contribuíram para uma relativa concentração da actividade económica. De forma similar mas muito atrasada em relação aos parceiros europeus, os contextos urbanos portugueses ganharam terreno como espaços de novos processos de competitividade, ainda que as dinâmicas e políticas subjacentes tenham marginalizado localizações tradicionalmente centrais e consolidado territórios difusos e desestruturados, até então periféricos. Tais processos viram-se reforçados pela emergência de novas economias de aglomeração, associadas à diversificação produtiva e à terciarização sectorial.
Se, na Europa a que passamos a pertencer, o desenvolvimento dos estados providência coincidiu com um período de crescimento económico significativo, acompanhado por um grande dinamismo do mercado de trabalho e por condições sócio-demográficas favoráveis, em Portugal o mesmo processo ocorreu num contexto de enorme pressão orçamental e com um mercado de trabalho em depressão.
A evolução do mercado de trabalho ao longo destes anos, embora favorável, registando-se um aumento do nível médio de escolaridade da população e uma redução na desigualdade da sua distribuição, não eliminou o fosso entre Portugal e os países da fronteira tecnológica. Hoje, tal como há 26 anos, a quantidade e qualidade do capital humano condicionam o nosso potencial de desenvolvimento. Num contexto de mudança, o caminho para concretizar a convergência com as economias desenvolvidas passa pela formação de capital humano capaz de adoptar rapidamente as melhores tecnologias.
A persistência de uma taxa natural de desemprego elevada ou o seu aumento continuado revelam uma baixa capacidade do mercado de trabalho de reafectar os trabalhadores ou pelo menos uma redução da sua eficiência. As estimativas disponíveis para a área do euro apontam para uma diminuição desta taxa seguida de uma estabilização em cerca de 8%. Em Portugal, depois de ter permanecido entre 5 e 6% por um período prolongado, a taxa natural de desemprego aumentou na última década para perto de 7%. Esta evolução distinta reflecte o facto de em Portugal as reformas no mercado de trabalho terem sido muito recentes, enquanto em muitos países da área do euro foram implementadas diversas reformas ao longo da última década com o objectivo de melhorar o funcionamento desse mercado.
Importa ainda salientar que a economia portuguesa foi particularmente afectada pela concorrência de economias de mercado emergentes com baixos custos de produção, o que determinou perdas significativas de emprego em sectores de baixa tecnologia para além de limitar a criação de emprego em sectores de média e alta tecnologia. A reafectação de desempregados a novos sectores deverá ser particularmente difícil num contexto de fraca procura, dado o baixo nível de capital humano, um padrão de progresso técnico fortemente baseado em trabalho qualificado e um sistema de subsídio de desemprego que induz durações de desemprego longas.
Em suma, considero ser necessário um aumento da escolaridade média da população e da sua formação profissional, bem como uma convergência no esforço de investigação para a saída desta crise. O comércio internacional e o investimento directo estrangeiro também são duas dimensões que importam impulsionar de forma a alcançar o desenvolvimento de uma pequena economia aberta.
Cláudia Santos
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3.º ano da Licenciatura em Economia da EEG/UMinho]

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