A poupança é a parcela de rendimento disponível
que não se gasta em consumo imediato, ou seja, corresponde a uma variável
económica que depende do nível de rendimentos e do nível de despesas de
consumo.
Nas
últimas décadas precedentes à crise financeira internacional, a redução da taxa
de poupança em Portugal foi um facto amplamente desacreditado por parte dos
especialistas e decisores políticos, o que conduziu a economia portuguesa para
uma situação deveras preocupante, visto que teve como reflexo o aumento
exponencial do défice e da dívida externa.
Recuando
até à década de 70, constata-se que Portugal ostentava uma taxa de poupança que
rondava os 20%, indicando uma garantia de alguma solidez à economia. No
entanto, os desenvolvimentos sucedidos nas décadas subsequentes conduziram a
taxa de poupança portuguesa para uma tendência decrescente. A adesão de
Portugal à Comunidade Económica e Europeia está associada a essa tendência da
taxa de poupança, uma vez que, com esta integração, a economia portuguesa presenciou
um forte crescimento económico, um melhoramento do nível de vida, uma
estabilização nominal como resultado da redução das taxas de juro e inflação,
um desenvolvimento do sistema financeiro e do estado social, e uma supressão de
restrições no acesso ao crédito. Estas alterações na economia portuguesa
geraram choques positivos nas expectativas da população, provocando um aumento
do consumo em Portugal para níveis até então nunca alcançados. Como resultado
deste crescimento do consumo, assistiu-se ao agravamento do endividamento,
gerando vastos problemas na sociedade, sobretudo nos níveis de poupança, que se
reduziram para cerca de metade (10%). Desde então, a taxa de poupança
testemunhou uma redução contínua até aos dias de hoje (exceptuando o período 2005-2008),
acompanhada por um sistema de repartição da segurança social e pelo incentivo
ao consumo por via da facilitação do acesso ao crédito, provocando o
crescimento do endividamento das famílias de 40% em 1990 para 140% em 2007.
Associada
a esta problemática dos baixos níveis de poupança, Portugal ainda exibe uma
elevada concentração da poupança. Na prática, a economia portuguesa depara-se
com uma situação em que um quinto das famílias é responsável pela grande
maioria da poupança feita no país. Ou seja, 90% da poupança das famílias
portuguesas é realizada apenas por 20% dos agregados familiares. Contudo, por
outro lado, verifica-se que 30% das famílias ostentam uma taxa de poupança
negativa, isto é, gastam mais do que ganham, o que incita o aumento do
endividamento.
Como
consequência desta reduzida taxa de poupança, os portugueses vivem momentos
críticos, pois vêem em risco as suas reformas, a estabilidade dos seus padrões
de consumo ao longo da vida e o financiamento de consumo em períodos de quebra
incerta do rendimento.
Assim,
para se solucionarem os problemas que derivam destas questões, Portugal precisa
de estimular o aumento da poupança. Com esse intuito, a economia portuguesa
terá de promover a literacia financeira dos portugueses e colocar à sua
disposição produtos simples e acessíveis que benfeitorizem da inércia que
caracteriza os consumidores. Conjugando com estas medidas, o Estado deverá
participar na economia, dando importância ao impacto das medidas de política
económica sobre a poupança e defendendo a estabilidade e previsibilidade das
políticas de promoção de poupança adoptadas.
De
uma forma geral, para que a poupança se torne num hábito desejado e
consolidado, capaz de coexistir em equilíbrio e complementaridade com o consumo,
será essencial uma estratégia consequente e duradoura, assente na educação e na
participação dos agentes económicos e financeiros.
Referências:
Alexandre, Fernando; Aguiar-Conraria, Luís;
Bação, Pedro; e Portela, Miguel (2011), “A poupança em Portugal”, NIPE (working paper), EEG/UMinho, Braga..
Márcio
David Gonçalves Bermudes
[artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e
Europeia” do 3.º ano do curso de Economia (1.º ciclo) da EEG/UMinho]
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