O
desemprego é um ponto muito sensível e muito importante em qualquer sociedade,
mas a conjunctura económica pela qual a UE está a passar tem agravado
seriamente este indicador.
Em Janeiro de 2012, a UE registou uma
taxa de desemprego de 10,1%, Mais 0,4% que no mesmo período homologo de 2011.
Este aumento foi impulsionado por alguns países de leste, como a Lituânia ou a
Letónia, mas também pela Espanha e pelos países que foram alvo de um resgate
financeiro por parte do FMI. Se analisarmos estes países, veremos que todos
eles tiveram um aumento significativo na taxa de desemprego de Janeiro de 2011
para Janeiro de 2012, sendo o caso mais preocupante a Grécia, que neste período
viu este indicador aumentar dos 10,7% para os 19,9%.
Se observarmos estes dados segundo o
sexo dos desempregados, podemos concluir que em Portugal e Espanha a diferença
entre o número de desempregados do sexo masculino e o número de desempregados
do sexo feminino é praticamente inexistente, mas na Irlanda vemos que a
percentagem de desempregados do sexo masculino é maior que a percentagem de
mulheres desempregadas. Na Grécia verifica-se o contrário, ou seja, a
percentagem de mulheres desempregadas é superior à percentagem de homens
desempregados.
Analisando os desempregados menores de
25 anos, vemos que na UE a percentagem é de 22,4%. A Grécia e a Espanha têm um
grande contributo para esta média, já que a taxa de desemprego nesta faixa
etária é de quase 50%. Já Portugal anda à volta dos 35% e a Irlanda aproxima-se
dos 30%.
Vendo a faixa etária entre os 25 anos e
os 74 anos, podemos observar que a taxa de desemprego para a UE é de 8,7%,
caindo quase 14 pontos percentuais de uma faixa etária para a outra. Neste
capítulo a Irlanda e Portugal andam à volta dos 13%, a Grécia dos 18% e a Espanha
tem 21% dos trabalhadores com idades entre os 25 e os 74 anos desempregados.
No caso espanhol, o aumento do
desemprego deve-se à crise no sector imobiliário que começou em 2007, quando as
habitações desvalorizaram quase 40%. Entretanto o Lehman Brothers faliu,
despertando a crise do sector bancário, que provocou uma recessão na economia
espanhola.
No caso da Irlanda, da Grécia e de
Portugal, países que pediram apoio financeiro ao FMI, tiveram que tomar medidas
de austeridade para que consigam cumprir as metas e prazos acordados com a
Troika. Uma das principais medidas que esta exigia era o equilíbrio das
finanças públicas, obrigando estes países a
reduzirem as suas despesas e a aumentarem as suas receitas, na tentativa
de garantirem esse equilíbrio.
O facto de os Governos terem de atingir
esta estabilidade em pouco tempo tornou-se um problema, com cortes em despesas
que eram importantes para os seus contribuintes, mas, por outro lado, o aumento
da carga fiscal sobre estes, de forma aumentar as receitas públicas. Este
aumento fiscal, como o IVA, tem influência directa neste aumento da taxa de
desemprego, isto porque o aumento do imposto sobre o consumo e a redução dos
salários e dos subsídios dos funcionários públicos provoca uma diminuição do
consumo destes, diminuindo o lucro das empresas que terão que suprimir alguns
postos de trabalho para garantirem a sua subsistência.
Mas esta tentativa de diminuição do
défice público tem outra consequência. Os bancos destes países, devido à falta
de credibilidade que têm nos mercados internacionais, terão mais dificuldades
em financiarem-se e ser-lhes-ão cobrados juros mais altos, juros que se vão
reflectir quando uma empresa ou uma família contraírem um empréstimo. As
empresas, como têm lucros menores e as famílias têm rendimentos menores, não
vão investir tanto porque muitas das aplicações acontecem com recurso ao
crédito, e nesta situação elas não conseguem suportar empréstimos, não só
devido aos juros elevados mas também devido à sua condição financeira. Como as
empresas não se conseguem financiar, não vão conseguir inovar, criar postos de
trabalho e crescer, levando a que isso se reflicta no PIB destes países.
Há algumas semanas, assistimos a uma
pequena desavença entre o Ministério das Finanças e o Ministério da Economia,
isto porque, cerca de mil e quinhentos milhões de euros da última tranche proveniente da Troika se
destinava ao financiamento a juros mais baixos das PME’s, mas o montante ainda
não estava disponível porque os ministérios não se decidiam sobre quem deve
gerir este capital. Visto que grande percentagem da empregabilidade oferecida
em Portugal provem das PME’s, acho que era de extrema importância
disponibilizar o mais rápido possível este dinheiro para que elas consigam
criar emprego.
Na minha opinião, é compreensível que
os Estados façam grandes cortes nas despesas e que aumentem a carga fiscal uma
vez que têm que recuperar rapidamente a credibilidade dos mercados, para que se
possam financiar a juros aceitáveis. Mas, os Governos devem pensar que estas
atitudes podem levar a problemas e revoltas sociais graves, o que contribui
para aumentar o desconforto social e pode levar a incertezas nos mercados.
É muito provável que a taxa de
desemprego se agrave nestes países até ao final do ano, mas espero que no
próximo ano esta se reduza e que estes países possam retomar o crescimento
económico a médio-prazo.
José Luís Ferreira
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