segunda-feira, 19 de março de 2012

Desemprego na UE

       O desemprego é um ponto muito sensível e muito importante em qualquer sociedade, mas a conjunctura económica pela qual a UE está a passar tem agravado seriamente este indicador.
         Em Janeiro de 2012, a UE registou uma taxa de desemprego de 10,1%, Mais 0,4% que no mesmo período homologo de 2011. Este aumento foi impulsionado por alguns países de leste, como a Lituânia ou a Letónia, mas também pela Espanha e pelos países que foram alvo de um resgate financeiro por parte do FMI. Se analisarmos estes países, veremos que todos eles tiveram um aumento significativo na taxa de desemprego de Janeiro de 2011 para Janeiro de 2012, sendo o caso mais preocupante a Grécia, que neste período viu este indicador aumentar dos 10,7% para os 19,9%.
         Se observarmos estes dados segundo o sexo dos desempregados, podemos concluir que em Portugal e Espanha a diferença entre o número de desempregados do sexo masculino e o número de desempregados do sexo feminino é praticamente inexistente, mas na Irlanda vemos que a percentagem de desempregados do sexo masculino é maior que a percentagem de mulheres desempregadas. Na Grécia verifica-se o contrário, ou seja, a percentagem de mulheres desempregadas é superior à percentagem de homens desempregados.
         Analisando os desempregados menores de 25 anos, vemos que na UE a percentagem é de 22,4%. A Grécia e a Espanha têm um grande contributo para esta média, já que a taxa de desemprego nesta faixa etária é de quase 50%. Já Portugal anda à volta dos 35% e a Irlanda aproxima-se dos 30%.
         Vendo a faixa etária entre os 25 anos e os 74 anos, podemos observar que a taxa de desemprego para a UE é de 8,7%, caindo quase 14 pontos percentuais de uma faixa etária para a outra. Neste capítulo a Irlanda e Portugal andam à volta dos 13%, a Grécia dos 18% e a Espanha tem 21% dos trabalhadores com idades entre os 25 e os 74 anos desempregados.
         No caso espanhol, o aumento do desemprego deve-se à crise no sector imobiliário que começou em 2007, quando as habitações desvalorizaram quase 40%. Entretanto o Lehman Brothers faliu, despertando a crise do sector bancário, que provocou uma recessão na economia espanhola.
         No caso da Irlanda, da Grécia e de Portugal, países que pediram apoio financeiro ao FMI, tiveram que tomar medidas de austeridade para que consigam cumprir as metas e prazos acordados com a Troika. Uma das principais medidas que esta exigia era o equilíbrio das finanças públicas, obrigando estes países a  reduzirem as suas despesas e a aumentarem as suas receitas, na tentativa de garantirem esse equilíbrio.
         O facto de os Governos terem de atingir esta estabilidade em pouco tempo tornou-se um problema, com cortes em despesas que eram importantes para os seus contribuintes, mas, por outro lado, o aumento da carga fiscal sobre estes, de forma aumentar as receitas públicas. Este aumento fiscal, como o IVA, tem influência directa neste aumento da taxa de desemprego, isto porque o aumento do imposto sobre o consumo e a redução dos salários e dos subsídios dos funcionários públicos provoca uma diminuição do consumo destes, diminuindo o lucro das empresas que terão que suprimir alguns postos de trabalho para garantirem a sua subsistência.
         Mas esta tentativa de diminuição do défice público tem outra consequência. Os bancos destes países, devido à falta de credibilidade que têm nos mercados internacionais, terão mais dificuldades em financiarem-se e ser-lhes-ão cobrados juros mais altos, juros que se vão reflectir quando uma empresa ou uma família contraírem um empréstimo. As empresas, como têm lucros menores e as famílias têm rendimentos menores, não vão investir tanto porque muitas das aplicações acontecem com recurso ao crédito, e nesta situação elas não conseguem suportar empréstimos, não só devido aos juros elevados mas também devido à sua condição financeira. Como as empresas não se conseguem financiar, não vão conseguir inovar, criar postos de trabalho e crescer, levando a que isso se reflicta no PIB destes países.
         Há algumas semanas, assistimos a uma pequena desavença entre o Ministério das Finanças e o Ministério da Economia, isto porque, cerca de mil e quinhentos milhões de euros da última tranche proveniente da Troika se destinava ao financiamento a juros mais baixos das PME’s, mas o montante ainda não estava disponível porque os ministérios não se decidiam sobre quem deve gerir este capital. Visto que grande percentagem da empregabilidade oferecida em Portugal provem das PME’s, acho que era de extrema importância disponibilizar o mais rápido possível este dinheiro para que elas consigam criar emprego.
         Na minha opinião, é compreensível que os Estados façam grandes cortes nas despesas e que aumentem a carga fiscal uma vez que têm que recuperar rapidamente a credibilidade dos mercados, para que se possam financiar a juros aceitáveis. Mas, os Governos devem pensar que estas atitudes podem levar a problemas e revoltas sociais graves, o que contribui para aumentar o desconforto social e pode levar a incertezas nos mercados.
         É muito provável que a taxa de desemprego se agrave nestes países até ao final do ano, mas espero que no próximo ano esta se reduza e que estes países possam retomar o crescimento económico a médio-prazo.

José Luís Ferreira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3.º ano do curso de Economia (1.º ciclo) da EEG/UMinho] 

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