segunda-feira, 26 de março de 2012

Produtividade: um problema e uma solução

Portugal encontra-se a atravessar umas das mais graves crises de que há memória. Nos últimos 11 anos, ou seja, entre 2000 e 2011, o PIB português cresceu, em média, 0,76%. Para este mesmo período, a Grécia apresentou um valor de 1,68%, Irlanda 2,94%, Espanha 2,22% e a média da EU-15 foi de 1,42%. Contudo, este valor ultrapassa o verificado no caso de Itália, cerca de 0,70% (dados OCDE).
Muitas têm sido as opiniões que se têm feito ouvir sobre qual será a melhor forma, a mais eficaz para que Portugal consiga ultrapassar esta crise que está a deixar muitos portugueses sem emprego, sem casa, sem comida. Apesar das diversas fórmulas que têm vindo a ser apresentadas, todas têm um denominador comum: a produtividade. Há muito tempo que se vem falando desta variável mas nunca as suas consequências foram tão visíveis quanto agora. Portugal tem um dos níveis mais baixos níveis de produtividade da União Europeia.
Segundo dados da OCDE, relativos ao ano de 2010, por ano, os portugueses trabalham, em média, 1714 horas (mais 150 horas do que a média da zona Euro, 174 horas relativamente aos irlandeses e 40 horas relativamente aos nossos vizinhos espanhóis). Contudo, de entre países como Itália, Grécia, Espanha e Irlanda, Portugal apresenta a produtividade mais baixa. Nós produzimos, por hora, cerca de 54,3% do que é produzido nos EUA no mesmo período de tempo, ao passo que os países referenciados anteriormente produzem 74,4%, 57%, 80,1% e 107,9%, respectivamente. Estes são dados preocupantes e devem-nos despertar a atenção. De facto, Portugal tem um nível de produtividade 30 pontos percentuais abaixo da média da zona Euro e sem melhorar esta variável, será muito difícil inverter a actual situação económica que atravessamos.
Não é fácil explicar aos portugueses um congelamento salarial. Aliás, esta medida poderá ser até entendida como um acto completamente reprovável do ponto de vista social. Contudo, e graças ao nosso baixo nível de produtividade, os salários dos portugueses, em termos relativos, têm necessariamente de diminuir. Aliás esta é uma ideia defendida por Paul Krugman (Prémio Nobel da Economia em 2008). Numa recente entrevista ao Jornal de Negócios, Krugman afirmou que os salários relativos portugueses aumentaram graças a “entradas de capital muito grandes que não vão continuar”, razão pela qual defende que “tem de ser feito um ajustamento”.
No entanto, os nossos problemas não se resolvem apenas com esta medida. Portugal tem de aumentar a sua produtividade ou verá os seus salários relativos constantemente reduzidos. Portugal tem de reduzir os seus custos nominais do trabalho (valor que relaciona a variação das remunerações por trabalhador e a produtividade aparente do trabalho). Em 2010, segundo o Banco de Portugal, esta variação foi de -1,3%, enquanto que a variação da Área Euro foi de -0,6%.
Também a fiscalidade tem sido apresentada como potencial aniquilador do empreendedorismo e como um dos principais entraves ao crescimento económico. Contudo, em 2009, a carga fiscal em Portugal foi de cerca de 31% em relação ao PIB e, portanto, inferior ao valor da União Europeia (35,8%). Mas é preciso apostar em capital humano (continuamos a ter recursos humanos pouco qualificados), em inovação, em produtos cada vez mais diferenciados e virados para o cliente. Aumentar a qualidade do que produzimos é, hoje, algo em que as empresas estão a investir para que possam aumentar a sua carteira de clientes, os seus canais de distribuição e, desta forma, a exportação. Aliás, segundo dados do INE, no trimestre que terminou em Janeiro de 2012, a saída de bens aumentou 10,9% e a entrada de bens diminuiu 7%, face ao período homólogo, permitindo, assim, um desagravamento do défice da balança comercial em cerca de 2077 milhões de euros.
Flexibilizar o mercado de trabalho é uma das medidas exigidas pela troika, aquando do resgate financeiro, e uma das que mais discussão tem levantado. No entanto, não é possível criar postos de trabalho num curto espaço de tempo sendo, portanto, necessário tornar mais fáceis os despedimentos, dando mais espaço para contratações.
Estas são algumas das medidas que nos poderão levar a um aumento da produtividade e, consequentemente, que permitirão que Portugal seja capaz de dar a volta a esta crise, saindo reforçado, com mais experiência e com uma maior inteligência e capacidade para enfrentar os ciclos económicos. Aliás, em 2010, Portugal apresentou um crescimento na produtividade do trabalho de 3,2%, superior à média da zona Euro em cerca de 1,4 p. p. (dados OCDE), e espera-se que, após um crescimento do PIB de cerca de -3,20%, este ano, em 2013, Portugal já apresente uma ligeira recuperação registando um crescimento de 0,49%.
Resta apenas relembrar que em Economia tudo é cíclico. Portanto, devemos aprender com os erros e perceber que aumentar a nossa produtividade é fundamental para sejamos capazes de ultrapassar as dificuldades e não estejamos tão vulneráveis perante crises que continuarão a existir.

Ana Rita Machado

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

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