Esta geração que se intitula “à rasca”, possivelmente tem motivos para se
sentir enrascada. A precariedade laboral que enfrenta é
nítida, mesmo quando se tem uma licenciatura ou até um mestrado no CV,
inclusivamente sendo um jovem empreendedor, um emprego estável e devidamente
remunerado não é um dado adquirido. A precariedade transformou-se num modo de
vida que se caracteriza por viver num estado limite quase permanente, vivendo
todos os dias com a noção de que, a qualquer momento, tudo se poderá
desmoronar. Consequentemente, esta falta de previsibilidade impede os jovens de
avançarem para uma autonomia residencial ou de gerarem um agregado familiar
próprio. São milhares os jovens licenciados desempregados e, mesmo quando
empregados, as condições laborais são muitas vezes sinónimo de pura
precariedade.
Os dados fornecidos pelo INE ilustram muito bem esta situação preocupante
pela qual o nosso país e a Zona Euro em geral atravessam: em Portugal o número
de desempregados com o ensino superior completo ultrapassou os 100 mil no
último trimestre de 2011 e a taxa de desemprego dos jovens com idades
compreendidas entre 18 a
24 anos atingiu os 35,4%. Mas infelizmente a “sorte” de um emprego não
significa estabilidade financeira ou social; vivendo numa permanente incerteza
que os recibos verdes transmitem, e não tendo acesso a um programa de
assistência médica/social, a impossibilidade de um empréstimo imobiliário ou
com qualquer outro para melhorar o seu nível de vida. Assim como o facto de
muitos jovens saltarem de estágio em estágio não remunerado de modo a
conseguirem um pouco da experiência profissional que muitos empregadores usam
como factor eliminatório.
Assim, esta precariedade laboral terá consequências na definição da vida
destes jovens, adiando constantemente a ideia de adoptar certos compromissos,
como comprar casa, casar ou ter filhos, comprometendo uma economia já em
recessão por conta própria. Então, como pode uma economia e uma sociedade em plena
recessão avançar e superá-la se certas questões continuam sem respostas? Como
pode uma sociedade ser produtiva se está assente na precariedade da geração
jovem? Para onde caminha uma sociedade que não aproveita recursos qualificados
aptos a trabalhar? Como pode um país avançar numa sociedade cada vez mais
exigente e competitiva, se desperdiça constantemente os seus recursos humanos
conduzindo-os ao mercado de trabalho desqualificado? Como pode a emigração não
ser uma opção tão tentadora?
Apurar culpas e responsabilidades não é de todo fácil. Muitas vezes ela
não pertence a ninguém a não ser a todos. Se de um lado se aponta o fracasso
das políticas governativas, no outro lado aponta-se o dedo às universidades que
insistem em abrir cursos que não encontram saída no mercado de trabalho.
Em época de crise económica, como vivemos actualmente, as empresas evitam
fazer investimentos “desnecessários” como a contratação de recursos humanos
qualificados, uma vez que estes exigem melhores remunerações. No entanto, são
nestes momentos que as empresas precisam de implementar novas estratégias, que
necessitam de produzir mais e melhor, que necessitam de dar uma lufada de ar
fresco na economia para que assim façam face aos constrangimentos provocados
pela crise.
Ao Governo compete a responsabilidade de encontrar meios adequados para
fazer face a esta situação, uma vez que o agravamento desta situação pode e
está a provocar tensões sociais bastante delicadas e o escoamento de recursos
humanos qualificadíssimos para o mercado laboral exterior.
Contudo, estes jovens não podem apenas culpar as entidades anunciadas e
devem também esforçar-se para procurar melhores soluções, sempre com a tentativa
de superarem todas as barreiras. É uma mudança e um esforço que é necessário
envolver a sociedade, os políticos, as empresas e os jovens.
Pedro Filipe Moniz Faria
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