quarta-feira, 28 de março de 2012

A precariedade laboral nos jovens licenciados

Esta geração que se intitula “à rasca”, possivelmente tem motivos para se sentir enrascada. A precariedade laboral que enfrenta é nítida, mesmo quando se tem uma licenciatura ou até um mestrado no CV, inclusivamente sendo um jovem empreendedor, um emprego estável e devidamente remunerado não é um dado adquirido. A precariedade transformou-se num modo de vida que se caracteriza por viver num estado limite quase permanente, vivendo todos os dias com a noção de que, a qualquer momento, tudo se poderá desmoronar. Consequentemente, esta falta de previsibilidade impede os jovens de avançarem para uma autonomia residencial ou de gerarem um agregado familiar próprio. São milhares os jovens licenciados desempregados e, mesmo quando empregados, as condições laborais são muitas vezes sinónimo de pura precariedade.
Os dados fornecidos pelo INE ilustram muito bem esta situação preocupante pela qual o nosso país e a Zona Euro em geral atravessam: em Portugal o número de desempregados com o ensino superior completo ultrapassou os 100 mil no último trimestre de 2011 e a taxa de desemprego dos jovens com idades compreendidas entre 18 a 24 anos atingiu os 35,4%. Mas infelizmente a “sorte” de um emprego não significa estabilidade financeira ou social; vivendo numa permanente incerteza que os recibos verdes transmitem, e não tendo acesso a um programa de assistência médica/social, a impossibilidade de um empréstimo imobiliário ou com qualquer outro para melhorar o seu nível de vida. Assim como o facto de muitos jovens saltarem de estágio em estágio não remunerado de modo a conseguirem um pouco da experiência profissional que muitos empregadores usam como factor eliminatório.
Assim, esta precariedade laboral terá consequências na definição da vida destes jovens, adiando constantemente a ideia de adoptar certos compromissos, como comprar casa, casar ou ter filhos, comprometendo uma economia já em recessão por conta própria. Então, como pode uma economia e uma sociedade em plena recessão avançar e superá-la se certas questões continuam sem respostas? Como pode uma sociedade ser produtiva se está assente na precariedade da geração jovem? Para onde caminha uma sociedade que não aproveita recursos qualificados aptos a trabalhar? Como pode um país avançar numa sociedade cada vez mais exigente e competitiva, se desperdiça constantemente os seus recursos humanos conduzindo-os ao mercado de trabalho desqualificado? Como pode a emigração não ser uma opção tão tentadora?
Apurar culpas e responsabilidades não é de todo fácil. Muitas vezes ela não pertence a ninguém a não ser a todos. Se de um lado se aponta o fracasso das políticas governativas, no outro lado aponta-se o dedo às universidades que insistem em abrir cursos que não encontram saída no mercado de trabalho.
Em época de crise económica, como vivemos actualmente, as empresas evitam fazer investimentos “desnecessários” como a contratação de recursos humanos qualificados, uma vez que estes exigem melhores remunerações. No entanto, são nestes momentos que as empresas precisam de implementar novas estratégias, que necessitam de produzir mais e melhor, que necessitam de dar uma lufada de ar fresco na economia para que assim façam face aos constrangimentos provocados pela crise.
Ao Governo compete a responsabilidade de encontrar meios adequados para fazer face a esta situação, uma vez que o agravamento desta situação pode e está a provocar tensões sociais bastante delicadas e o escoamento de recursos humanos qualificadíssimos para o mercado laboral exterior.
Contudo, estes jovens não podem apenas culpar as entidades anunciadas e devem também esforçar-se para procurar melhores soluções, sempre com a tentativa de superarem todas as barreiras. É uma mudança e um esforço que é necessário envolver a sociedade, os políticos, as empresas e os jovens.
                 
Pedro Filipe Moniz Faria 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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