quarta-feira, 28 de março de 2012

O crédito malparado em Portugal

As famílias e instituições recorrem ao crédito no sentido de financiarem as suas compras e/ou actividades. Contudo, e ainda bem, nem todos conseguem ver o seu crédito aprovado junto das instituições financeiras, uma vez que, cada vez mais, os requisitos a cumprir para atribuição de crédito estão a estreitar. Durante muito tempo, estes requisitos eram mínimos ao que se atribuíam créditos de valores exorbitantes a quem (muitas vezes) já se conseguia prever que iria ter grandes dificuldades em cumprir com as suas responsabilidades.
É claro que os bancos têm culpa no cartório da situação económica actual, mas não podem ser totalmente responsabilizados pelo problema em questão, uma vez que as famílias e as empresas que contraíram os créditos deveriam ter tomado decisões racionais. Esta situação originou um problema muito grave: o crédito malparado. O crédito malparado corresponde ao montante em dívida de pagamento, por parte das instituições, dos seus financiamentos e obrigações que possuem.
Devido à situação económica que se vive em Portugal, de onde tem resultado um aumento do desemprego e a consequente redução dos rendimentos das famílias que, inevitavelmente, vêem o seu poder de compra diminuído, o malparado tem vindo a crescer. O sobreendividamento, bem como a ocorrência de situações inesperadas como doença, invalidez ou divórcio também impulsionam a situação, forçando empresas e famílias a recorrer à ajuda de instituições de apoio ao consumidor ou a aceitarem processos de canalização financeira de dívidas (aumento do prazo da dívida com redução da prestação mensal).
Contudo, não se pode atribuir apenas às situações acima descritas a culpa do aumento do malparado, dado que mesmo quem trabalha ou recebe pensões tem visto o seu rendimento reduzido devido às novas tabelas de retenção na fonte de IRS. Como se já não bastasse a redução nas deduções fiscais e o aumento da taxa de inflação, agora uma maior parte do vencimento, fica retida e vai directamente para o Fisco. O malparado entre as famílias atingiu, de acordo com dados publicados recentemente pelo Banco de Portugal, este ano, um recorde que se situa nos 4.782 milhões. No caso das empresas, que se vêem a braços com situações muito complicadas sem fim à vista, têm decidido fechar portas. O sector da construção corresponde já a 40% do malparado empresarial devido ao abrandamento da procura de compra de habitação, bem como devido à redução do investimento em obras quer do sector público quer do privado. De acordo com o Banco de Portugal, em Janeiro de 2012, o crédito malparado das empresas registou uma subida de 9% face a Dezembro de 2011 (atingindo os 6.967 milhões de euros) e 53% em termos homólogos (4.958 milhões de euros).
Apesar de a concessão de crédito pelos bancos ter vindo a cair, e Janeiro de 2012 não fugiu à tendência, é certo que a crise tem feito disparar o malparado para valores alarmantes. O valor total de cobrança duvidosa já representa cerca de 5% do total de crédito concedido. O ano de 2012 não começou com números muito animadores, com os indicadores a revelarem que, por exemplo, o crédito malparado na habitação aumentou para 2.146 milhões de euros, mais 45 milhões de euros do que em Dezembro de 2011, segundo dados publicados pela mesma fonte. Isto representa, assim, um agravamento de 40% desde a falência do Lehman Brothers e uma subida de 8% desde que Portugal recorreu ao programa de ajuda financeira externa em Abril de 2011.
O ritmo de crescimento do crédito malparado tem sido alucinante e tem deixado o mercado muito preocupado. Corresponde a um problema de saúde do balanço das instituições bancárias e resolvê-lo é crucial para a economia.

Ema Costa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Sem comentários: