sexta-feira, 23 de março de 2012

Internacionalização das empresas portuguesas

A máxima de “small is beautifull” é cada vez menos verdadeira no mundo dos negócios.
Com poucos meios humanos, com muita boa vontade, competência e espírito de sacrifício, improvisando aqui e ali, aprendendo com os seus próprios erros, convivendo com o desconhecido, mas agindo com boa fé, deontologia e certos dos seus objetivos, muitos agarraram o desafio da internacionalização (quer dentro de portas, trazendo parceiros estratégicos para as suas unidades em Portugal, ou conquistando um espaço estratégico em novos países, umas vezes criando empresas, outras, adquirindo-as), com coragem e determinação.
De facto, ao longo dos últimos 10 anos, muitas foram as “missões empresariais” organizadas por associações empresariais (AIP, ANJE, CIP), associações de cooperação económica com os PALOP, câmaras de comércio, etc.
Milhares de empresários portugueses participaram ao longo destes anos nessas viagens, tendo contatado muitos mais empresários dos países de destino e feito centenas de levantamentos de oportunidades de negócios.
Como resultado, o investimento português no estrangeiro atinge máximos históricos e a economia portuguesa parece finalmente entrar na onda da globalização que acometeu o mundo a partir dos anos 80.
Estando Portugal integrado na União Europeia, seria talvez de esperar que as empresas portuguesas se expandissem preferencialmente para países dessa zona económica. No entanto, este crescimento da internacionalização das empresas portuguesas tem sido muito diversificado. Desde a Europa de Leste, caracterizada pelos grupos financeiros e de distribuição alimentar; à América Latina, onde os bancos e as empresas de telecomunicações e energia fizeram enormes investimentos  nos últimos anos; passando pela África, onde, apesar das guerras ou talvez por causa delas, as empresas de construção civil muito se têm expandido, até aos Estados Unidos e União Europeia, onde as empresas mais competitivas tais como software, calçado, moldes, embalagens e algumas indústrias de ponta se têm estabelecido através de escritórios de representação ou mesmo de filiais. Assim, por toda a parte as empresas portuguesas se têm instalado.
Mas, para além dos grupos económicos, também as PMEs e os pequenos empresários desenvolveram um enorme movimento de internacionalização. Muitas vezes começaram por estabelecer transações comerciais com novos mercados (o que em Angola, por exemplo, ficou conhecido como o empresário do contentor) e acabaram por estabelecer parcerias com empresários portugueses e locais para o aproveitamento de oportunidades de negócio, arrancando com novas empresas ou adquirindo, nos processos de privatização, empresas locais.
Assim, é pertinente colocarem-se as seguintes questões:
O que é que está por detrás desta onda de internacionalização das empresas portuguesas? O que é que leva as pessoas a ir tão longe?
Ora, no caso dos grupos económicos, a justificação oficial é geralmente a possibilidade de ganhar dimensão (ou massa crítica) aproveitando mercados em grande crescimento para assim poderem concorrer com as grandes multinacionais europeias. Para os pequenos empresários, o objetivo passa geralmente por procurar mercados com um menor grau de concorrência e de exigência, para assim poderem obter aquilo que a entrada na União Europeia veio tornar cada vez mais difícil em Portugal: lucros e crescimento. 
Outra das motivações é a procura de mercados maiores, onde exista espaço para todos, fartos que estão de encontrarem sempre os mesmos concorrentes em todos os clientes que visitam. Não admira por isso que fiquem maravilhados quando encontram mercados onde uma só cidade pode ter o dobro da população de Portugal (por exemplo: São Paulo).
No fundo, todos eles seguem a mesma linha de pensamento que levou centenas de milhares de portugueses a emigrar durante os anos 50 e 60: “Este é o melhor país do mundo para viver, mas é possivelmente o pior para ganhar a vida”; “O mercado é pequeno, as mentalidades também, o meio é fechado está tudo ocupado, os grandes grupos comem tudo ...”. É assim que os empresários se queixam, da mesma maneira que os emigrantes se queixavam da falta de trabalho e de oportunidades.
Assim, Fernando Gaspar, economista, suspeita que ainda vamos ver a história económica a dizer no futuro, que na década de 90 e princípio do século XXI a economia portuguesa substituiu a emigração pela expansão das suas empresas (particularmente das PMEs), encontrando assim uma nova forma de crescimento. O que na verdade seria muito bom pois significaria que deixaríamos de exportar mão-de-obra barata, como nos anos sessenta, e passaríamos a exportar a capacidade empreendedora dos portugueses.
Outro motivo que poderá estar por detrás da internacionalização poderá ser também a resposta que muitos empresários encontraram para as restrições que a Política Agrícola Comum da UE lhes impôs. Uma vez que não podem produzir em Portugal aquilo em que são competitivos, devido às distorções à concorrência impostas pelos alemães e franceses, vão para a América do Sul e África, beneficiando dos apoios disponibilizados pelas instituições financeiras de apoio à cooperação (Banco Africano de Desenvolvimento, Banco Mundial, ...) e lá conseguem fazer aquilo que sabem e gostam de fazer.
Em suma, a internacionalização das empresas é fundamental para o desenvolvimento da economia portuguesa mas, apesar de recorrentemente abordada, estamos aquém de concretizá-la com eficiência. Ainda que esta temática seja prioridade de Governos e Entidades, os resultados ficam aquém do esperado, em parte por causa da falta de continuidade e avaliação de resultados das medidas de apoio adotadas. Atualmente, a internacionalização das empresas portuguesas encontra-se numa fase de expansão, porém, é desenvolvida de forma incipiente e com escassos conhecimentos, exceto no caso das grandes empresas. Revela-se essencial que haja coordenação entre as diversas entidades que apoiam as empresas neste processo através de programas sectoriais ou específicos para produtos selecionados, promovendo sinergias que certamente contribuirão para o aumento das exportações.
Assim, parece-me que há ainda um longo caminho a percorrer no campo do planeamento estratégico.

Joana Cristina Alves Oliveira 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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