O Barómetro Empresarial permite acompanhar a
evolução mensal do tecido empresarial português e dá a conhecer as suas
dinâmicas e alterações mais relevantes, apresentando mensalmente uma visão
sectorial, regional e distrital dos principais fenómenos empresariais como
constituições, dissoluções, acções judiciais, insolvências e risco empresarial.
Posto isto, constatamos que o número de
constituições diminuiu significativamente face a Janeiro de 2011, descida que
pode ser justificada pelo elevado número de Sociedades Unipessoais constituídas
em Janeiro de 2011 como reflexo das medidas fiscais implementadas no final de
2010, medidas estas que favoreceram o início de negócios nesta forma jurídica,
em detrimento da forma jurídica do Empresário em Nome Individual.
Verifica-se também um aumento relevante de 35% das
dissoluções de empresas, seguindo uma tendência semelhante à registada no
último trimestre de 2011, em que o aumento registado foi de 24.2%.
Em relação às insolvências iniciadas, estas
continuam a aumentar significativamente, seguindo uma tendência de crescimento
acentuado não só ao longo de todo o ano de 2011, mas particularmente no último
trimestre do ano, onde se registou um aumento de 24% no número de insolvências
iniciadas. Nos dois primeiros
meses deste ano registaram-se 973 insolvências em Portugal, um crescimento de
47.8% face aos 658 processos deste género identificados em Janeiro e Fevereiro
do ano passado. Esta tendência surge como culpa da crise, da contracção no
consumo, do aumento do desemprego e da perda de poder de compra dos residentes
em Portugal.
As indústrias alimentares, as empresas de actividades especializadas de
construção, a restauração e as actividades imobiliárias foram os sectores que
mais sofreram com a crise galopante no início de 2012, segundo dados relativos
ao período entre 1 de Janeiro a 29 de Fevereiro, recolhidos pelo Observatório
de Empresas para o Instituto Informador Comercial (IIC), que regista
diariamente os anúncios de acção de insolvência publicados em Diário de
República. Quanto ao sector da restauração e similares, em Janeiro e Fevereiro
deste ano registaram-se 52 insolvências, mais 67.7% que os 31 processos
registados nos dois primeiros meses de 2011, e mais 174% caso a comparação seja
feita com o primeiro bimestre de 2010.
Lado a lado
com as quebras na restauração, também as indústrias alimentares estão a sofrer
com o novo ano. Desde Janeiro já foram registadas 25 insolvências, mais 92.3%
que no mesmo período do ano passado e tantas quanto a soma dos dois primeiros
meses de 2010 e 2011. No caso do comércio, as insolvências estão também a
disparar, com mais 80% de casos no comércio por grosso e mais 59.34% de
insolvências no comércio a retalho, números que excluem as empresas de veículos
automóveis e motociclos. Este aumento das insolvências reflecte-se também no
aumento do crédito malparado destes ramos de actividade económica.
Para além
destes sectores, é de destacar o aumento das insolvências em áreas que até hoje
registavam taxas reduzidas destes processos, como a actividade de reparação de
computadores, que entre 2009 e 2011 não registou mais de seis destes processos
anuais, e que só nos primeiros meses deste ano já registou três insolvências.
Outro exemplo interessante encontra-se nas actividades das sedes sociais e de
consultoria para a gestão, cujas insolvências dispararam 900% em Janeiro e
Fevereiro, observando-se dez casos.
Analisando os dados por distrito, salta à vista o aumento de 200% nas
insolvências registadas na Madeira entre Janeiro e Fevereiro deste ano, com o
registo de 36 casos, contra 12 no mesmo período de 2011. Já nos Açores, o
aumento foi de 25%, com cinco processos. Em Lisboa e no Porto houve mais de 200
insolvências neste período, com o registo respectivamente de mais 45.3% e 67.8%
de casos nos dois primeiros meses do ano. Em Aveiro o salto foi maior, com o
surgimento de mais 85.8% de insolvências, para um total de 85. Destaque pela
positiva apenas para Viseu e Castelo Branco, onde as insolvências caíram 15% e
42,8%, respectivamente.
O facto de os negócios rentáveis serem cada vez mais difíceis de
encontrar é pouco relevante quando comparado com a crescente inacessibilidade
de recurso ao crédito para manter o necessário fluxo de tesouraria,
especialmente quando entre as empresas mais afectadas estão as micro e pequenas
empresas. No caso de empresas com potencial de negócio, a recuperação judicial
poderá sempre ser uma alternativa, sobretudo para as empresas que têm crédito a
receber e podem procurar uma negociação com os credores, tendo em vista a
manutenção da sua actividade comercial.
Telma Valdemar
Azevedo da Silva
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