terça-feira, 20 de março de 2012

A era das desigualdades

Nos dias de hoje, apenas ouvimos lamúrias, quer na televisão quer pela boca dos portugueses, o quanto a nossa nação está deteriorada. O pessimismo está cada vez mais presente nas mentes dos portugueses. As pessoas apenas querem alcançar o seu bem-estar sem olhar a meios. Será que a nossa nação se interessa em saber a quantidade de pessoas que vivem no limiar da pobreza?
A crise está bem presente em Portugal e com a crise vêm mais preocupações. A ajuda social torna-se mais escassa e com isto o número de portugueses que vivem no limiar da pobreza aumenta. De acordo com o Inquérito “Condições de Vida e Rendimento” sobre o ano de 2009, o risco de pobreza dos portugueses era cerca de 17,9%, isto é, cerca de 18% dos portugueses vivem com um rendimento monetário líquido abaixo de 60% do rendimento mediano. Em suma, aproximadamente 20% da população de Portugal não pode viver sossegada sem pensar nos cêntimos que não tem para gastar.
Neste mesmo ano, a intensidade de pobreza (diferença entre o limiar de pobreza e o rendimento monetário mediano da população em risco de pobreza) era de 22,7%. Com este valor é certo que os portugueses necessitam de ajuda para superar a este problema, por isso as transferências sociais tiveram um impacto descomunal na redução desta. Sem as transferências sociais, isto é, vivendo apenas com os rendimentos de trabalho a probabilidade dos portuguesas viverem com um risco de pobreza, era de 43,4%. Com os rendimentos de pensões, o risco desceu 17 p.p mas foi com as transferências sociais que este valor percentual desceu para 17,9%.
Outro grande problema que Portugal enfrenta é a desigualdade económica entre os rendimentos. E nos dias de hoje essa desigualdade é cada vez maior. Em 2009, o rendimento monetário líquido equivalente dos 20% da população com rendimentos mais elevados era cerca de 5,6 vezes o rendimento dos 20% da população com os recursos mais baixos.
Existem sempre desigualdades entre género ou idades, qualquer que seja o tema e em relação ao risco de pobreza isso também acontece. Em relação ao género, são as mulheres que vivem com um risco de pobreza mais elevado, embora seja uma diferença insignificante. Em relação ao grupo etário são os mais novos (0 aos 17 anos) que possuem um risco de pobreza mais elevado quer em relação aos idosos (65 ou mais anos) quer aos adultos (18 aos 64 anos). Em relação à situação de emprego, é obvio, que os empregados vivem com um risco de pobreza inferior aos desempregados mas os reformados vivem com um risco de pobreza superior que os desempregados mas inferior aos empregados. E por último temos os casais dependentes de filhos e os não dependentes e também é notável que os casais com filhos têm mais despesas, por isso o risco de pobreza é maior que os casais sem filhos.
Hoje em dia, os mais jovens não dão valor ao que têm, é claramente uma geração diferente que a geração de há 40 anos atrás. Nos dias de hoje, muitos jovens não sabem a quantidade de portugueses que sofre de privatização material ou habitacional e alguns até de privatização extrema. Os pais fazem de tudo para os filhos não perceberem o que se passa, mas sinceramente eles deviam dar a entender, aos filhos, a realidade do mundo de hoje.
Aproximadamente 22% da população portuguesa sofre de privatização material. Privatização material consiste na impossibilidade da existência de três dos nove itens por parte de todos os indivíduos que vive em agregados familiares. A privatização severa é o não acesso de quatro dos nove itens e em Portugal esse valor é de 9,1%. Um valor inaceitável! Alguns dos nove itens consiste na capacidade de pagar umas férias (uma vez por ano) fora de casa, outra é a capacidade de pagar sem atrasos as rendas e outra e a capacidade de fazer uma refeição de carne ou de peixe pelo menos de dois em dois dias. Só de pensar que 22% da população portuguesa não têm a possibilidade, por falta de dinheiro, de executar estes itens é um pouco doloroso porque existe tanta gente que desperdiça dinheiro.
Em relação à sobrelotação habitacional, esta é elevada para os mais jovens (22%) e estima-se que em 2009 a sobrelotação habitacional para Portugal seria de 14,1%. Em relação às privatizações severas de condição de habitação (condição simultânea de sobrelotação e falta de pelo menos um, insuficiência das instalações higiénicas) era de 4.7%.
Portugal será sempre um país com diferenças de rendimentos e com níveis de pobreza elevados, por isso cabe ao governo pensar em soluções credíveis de maneira a reduzir estes índices e também aos portugueses ter uma melhor consciência do valor dos bens materiais de cada um e aos desperdícios feitos por nós.

Dulce Silvana Miranda Matos

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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