Nos dias de hoje, apenas ouvimos lamúrias, quer na
televisão quer pela boca dos portugueses, o quanto a nossa nação está
deteriorada. O pessimismo está cada vez mais presente nas mentes dos
portugueses. As pessoas apenas querem alcançar o seu bem-estar sem olhar a
meios. Será que a nossa nação se interessa em saber a quantidade de pessoas que
vivem no limiar da pobreza?
A crise está bem presente em Portugal e com a crise vêm
mais preocupações. A ajuda social torna-se mais escassa e com isto o número de
portugueses que vivem no limiar da pobreza aumenta. De acordo com o Inquérito
“Condições de Vida e Rendimento” sobre o ano de 2009, o risco de pobreza dos
portugueses era cerca de 17,9%, isto é, cerca de 18% dos portugueses vivem com
um rendimento monetário líquido abaixo de 60% do rendimento mediano. Em suma,
aproximadamente 20% da população de Portugal não pode viver sossegada sem
pensar nos cêntimos que não tem para gastar.
Neste mesmo ano, a intensidade de pobreza (diferença
entre o limiar de pobreza e o rendimento monetário mediano da população em
risco de pobreza) era de 22,7%. Com este valor é certo que os portugueses
necessitam de ajuda para superar a este problema, por isso as transferências
sociais tiveram um impacto descomunal na redução desta. Sem as transferências
sociais, isto é, vivendo apenas com os rendimentos de trabalho a probabilidade
dos portuguesas viverem com um risco de pobreza, era de 43,4%. Com os
rendimentos de pensões, o risco desceu 17 p.p mas foi com as transferências
sociais que este valor percentual desceu para 17,9%.
Outro grande problema que Portugal enfrenta é a
desigualdade económica entre os rendimentos. E nos dias de hoje essa
desigualdade é cada vez maior. Em 2009, o rendimento monetário líquido
equivalente dos 20% da população com rendimentos mais elevados era cerca de 5,6
vezes o rendimento dos 20% da população com os recursos mais baixos.
Existem sempre desigualdades entre género ou idades,
qualquer que seja o tema e em relação ao risco de pobreza isso também acontece.
Em relação ao género, são as mulheres que vivem com um risco de pobreza mais
elevado, embora seja uma diferença insignificante. Em relação ao grupo etário
são os mais novos (0 aos 17 anos) que possuem um risco de pobreza mais elevado
quer em relação aos idosos (65 ou mais anos) quer aos adultos (18 aos 64 anos).
Em relação à situação de emprego, é obvio, que os empregados vivem com um risco
de pobreza inferior aos desempregados mas os reformados vivem com um risco de
pobreza superior que os desempregados mas inferior aos empregados. E por último
temos os casais dependentes de filhos e os não dependentes e também é notável
que os casais com filhos têm mais despesas, por isso o risco de pobreza é maior
que os casais sem filhos.
Hoje em dia, os mais jovens não dão valor ao que têm, é
claramente uma geração diferente que a geração de há 40 anos atrás. Nos dias de
hoje, muitos jovens não sabem a quantidade de portugueses que sofre de
privatização material ou habitacional e alguns até de privatização extrema. Os
pais fazem de tudo para os filhos não perceberem o que se passa, mas
sinceramente eles deviam dar a entender, aos filhos, a realidade do mundo de
hoje.
Aproximadamente 22% da população portuguesa sofre de
privatização material. Privatização material consiste na impossibilidade da
existência de três dos nove itens por parte de todos os indivíduos que vive em
agregados familiares. A privatização severa é o não acesso de quatro dos nove
itens e em Portugal esse valor é de 9,1%. Um valor inaceitável! Alguns dos nove
itens consiste na capacidade de pagar umas férias (uma vez por ano) fora de
casa, outra é a capacidade de pagar sem atrasos as rendas e outra e a
capacidade de fazer uma refeição de carne ou de peixe pelo menos de dois em
dois dias. Só de pensar que 22% da população portuguesa não têm a
possibilidade, por falta de dinheiro, de executar estes itens é um pouco
doloroso porque existe tanta gente que desperdiça dinheiro.
Em relação à sobrelotação habitacional, esta é elevada
para os mais jovens (22%) e estima-se que em 2009 a sobrelotação
habitacional para Portugal seria de 14,1%. Em relação às privatizações severas
de condição de habitação (condição simultânea de sobrelotação e falta de pelo
menos um, insuficiência das instalações higiénicas) era de 4.7%.
Portugal será sempre um país com diferenças de
rendimentos e com níveis de pobreza elevados, por isso cabe ao governo pensar
em soluções credíveis de maneira a reduzir estes índices e também aos
portugueses ter uma melhor consciência do valor dos bens materiais de cada um e
aos desperdícios feitos por nós.
Dulce Silvana Miranda Matos
[artigo de
opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e
Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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