terça-feira, 8 de outubro de 2019

A incerteza no contexto mundial

Segundo o “World Economic Outlook” publicado pelo Fundo Monetário Internacional em julho de 2019, as previsões do crescimento do PIB global são de 3,2% neste ano e 3,5% em 2020. De facto, estas projeções são inferiores às apresentadas em abril.


A revisão negativa das estimativas reflete “surpresas negativas para o crescimento em mercados emergentes e economias em desenvolvimento que compensam surpresas positivas em algumas economias avançadas”. Referem ainda que o “dinamismo na economia global está a ser pressionado pela incerteza política prolongada”, nomeadamente, as tensões comerciais entre a China e os Estados Unidos da América e o Brexit.
Calcula-se que as tarifas impostas entre os EUA e a China provoquem uma redução do PIB global em 2020 de 0,5%.
Para perceber o verdadeiro nível de incerteza, em 2018, Hites Ahir, Nicholas Bloom e Davide Furceri desenvolveram o “World Uncertainty Index” (WUI). Este índice é calculado pela frequência da palavra “incerteza” e variantes nos relatórios da Economist Intelligence Unit de cada país. Estes relatórios examinam e discutem as principais tendências económicas, financeiras e políticas do país.
O objetivo principal da criação do índice era captar o nível de incerteza e as preocupações relativas ao desenvolvimento económico e político de curto e longo prazos. Durante este processo criaram, ainda, um outro índice, o “World Trade Uncertainty Index”, que mede o número de vezes que a palavra “incerteza” aparece próxima de uma palavra relacionada com comércio nos mesmos relatórios.
Os índices estão disponíveis, por trimestre, entre 1996 e 2019. Índices mais elevados indicam um grau de incerteza superior. Através da análise dos dados disponibilizados pelos autores são percetíveis vários fenómenos.
Em primeiro lugar, é de notar que o WUI tem refletido uma trajetória crescente de incerteza, com picos marcados em momentos de tensão mundial, tais como o referendo sobre o Brexit, em 2016, e as eleições presidenciais americanas, em 2017. Também se verifica que o índice iniciou um crescimento acentuado a partir de 2010.


Outro facto interessante é que a incerteza é contra-cíclica, ou seja, a incerteza média é superior em períodos de recessão. Para além desta relação, segundo os autores, o nível de incerteza “está associado positivamente à incerteza das políticas económicas e à volatilidade do mercado de ações“.

         
Quanto à incerteza no comércio, através do Índice de Incerteza no Comércio Mundial (WTU Index), é de notar uma tendência crescente a partir de 2016, com especial destaque para a China, Canadá, França e EUA.

         
Todos estes dados levam-me a algumas interpretações. De facto, a incerteza surge quando os agentes económicos se apercebem do seu conhecimento limitado sobre o presente e o futuro, fazendo com que modifiquem os seus comportamentos. Parece-me, portanto, indubitável que a incerteza das relações comerciais, particularmente entre os Estados Unidos da América e a China, tem um impacto negativo na confiança dos agentes económicos e, consequentemente, na economia global.
A meu ver, uma das principais consequências da incerteza é a redução do investimento, com o adiamento dos projetos, tal como acontece com a criação de emprego. É dificil reverter tanto as decisões de investimento como as de contratação de funcionários, já que impõem custos elevados. As empresas preferem aguardar até ao “momento certo” e garantir que tomam as decisões mais rendíveis. Por outro lado, pode existir uma consequência direta nos consumidores que vão reduzir o consumo, principalmente de bens duráveis, de forma a aumentar a poupança, na incerteza do futuro.
Conclui-se, assim, que a incerteza é um fenómeno crescente, com impactes económicos relevantes e é tão facilmente generalizada que afeta os agentes económicos de todo o mundo. Na minha opinião, deveria haver um esforço global para que deixássemos este clima de incerteza para trás, uma vez que todos seriamos beneficiados.

Nádia Oliveira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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