sábado, 5 de outubro de 2019

OS PORTUGUESES NO REINO UNIDO: REALIDADE OU PESADELO?

Com a chegada do Brexit, o número de portugueses que se candidataram ao estatuto de residentes no Reino Unido duplicou em agosto, desde que Boris Johnson se tornou o novo primeiro-ministro britânico. Johnson assumiu o cargo no final de julho, após a demissão de Theresa May, devido à dificuldade em completar o processo de saída do Reino Unido da União Europeia.
Analisando os dados do relatório mensal do sistema de regularização migratório (ou EU Settlement Scheme) apresentados no gráfico seguinte, podemos, de facto, observar que houve um tremendo salto nas inscrições para esta candidatura: de 12100 inscrições em julho e 11700 em junho, para 24300 em agosto. É ainda importante referir que Portugal é a nacionalidade com o quarto maior número de candidaturas (com 117300 inscrições), logo a seguir à Polónia (240300), Roménia (187600) e Itália (150800).
   


Com o settled status, ou esquema de registo dos cidadãos comunitários, os emigrantes europeus podem-se candidatar ao estatuto de residente permanente, que é obrigatório após o Brexit e que é atribuído a quem vive no Reino Unido, de forma contínua, há pelo menos cinco anos, enquanto que os que vivem no país há menos de cinco anos irão apenas obter um título provisório (pre-settled status) até atingirem o tempo necessário.
E aqui nasce o problema que deixa milhares de emigrantes inseguros. O processo referido anteriormente deve ser completado até 31 de dezembro de 2020 em caso de um Brexit sem acordo, ou 30 de junho de 2021, caso haja uma saída ordeira da União Europeia. Se o residente comunitário vir o seu pedido rejeitado, este irá perder o direito de viver no Reino Unido, ficando assim a viver ilegalmente neste país.
Após o primeiro-ministro britânico, no seu discurso inaugural como novo chefe de governo do Reino Unido, ter garantido que os cidadãos comunitários residentes no seu país terão "a absoluta certeza quanto ao direito de viver e permanecer" depois do Brexit, parecia ser possível a aprovação de uma lei com o objetivo de garantir os direitos destes cidadãos a residir e trabalhar no país em que se encontravam, independentemente do resultado à sua candidatura ao settled status, lei esta apoiada por vários políticos britânicos. No entanto, poucas horas depois, o gabinete de Johnson já garantia que "a lei já existe, já há uma base legal” e que “ O Sistema de Registo de Cidadãos da União Europeia já está em funcionamento e está correr bem".
Vários membros de movimentos de emigrantes portugueses contestaram o seu desaprovamento. Paulo Costa, membro do movimento Migrantes Unidos, afirma que, para além do settled status, "não há nada que nos garanta que os nossos direitos de trabalho, de estudar, de pensões, estejam assegurados e não sejam alterados daqui a quatro meses, portanto, não há garantia nenhuma acerca do que vamos ter, sobretudo agora com a hipótese de sair sem acordo."
O que poderemos esperar então desta situação? A meu ver, o Reino Unido poderá passar por graves problemas económicos devido não só ao Brexit em si mas também devido às enormes mudanças que poderão ocorrer no mercado de trabalho britânico, já que várias empresas e fábricas serão afetadas, e mesmo a libra está a desvalorizar a um ritmo alarmante. Para além do impacto económico, a discriminação contra os emigrantes tem-se tornado uma situação preocupante nos últimos tempos, gerada pelas constantes mudanças no setor político.

Miguel Oliveira

Fontes:


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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