sexta-feira, 11 de outubro de 2019

O crescimento exponencial do turismo na Islândia: até quando aguentarão os habitantes locais?

A Islândia tem cerca de 350 mil habitantes e em 2018 o número registado de turistas foi de 2,3 milhões, ou seja, existiram cerca de 6 turistas por habitante. Através destes números, podemos facilmente perceber o porquê de o turismo ser o setor mais importante na Islândia. 

No ano de 2008, a Islândia era o país da Europa mais abalado pela crise. A crise neste país envolveu os 3 principais bancos islandeses e isto levou, posteriormente, à emissão de um decreto pelo poder executivo no sentido de responsabilidade de nacionalização das instituições financeiras, evitando assim o colapso do país. O que se sucedeu foi a desvalorização da coroa islandesa, o caus político e, como solução para o clima de instabilidade que se fazia sentir, o governo decidiu apostar no turismo.

Mas porque se deu este boom no turismo? Foi essencialmente depois das erupções vulcânicas sentidas em 2010 no país que o mundo começou a tomar consciência da realidade exótica da região, não só por causa do acontecimento mas também devido à forte aposta na publicidade por parte do governo local. Sem dúvida que o turismo salvou a Islândia num período delicado e também fez com que os impactos da crise económica se atenuassem. 

No entanto, apesar de, a curto prazo, os efeitos terem sido positivos, a longo prazo, algumas externalidades negativas começam a surgir. Este massivo número de turistas, apesar de favorável ao desempenho económico do país, acarreta muitos efeitos negativos, entre os quais degradação da fauna e flora local e também a perda de identidade do país em termos linguísticos e culturais. 

Parece existir um contrassenso nalgum ponto desta evolução. Até quando se vai sobrepor o interesse económico ao bem-estar dos habitantes locais? Já existem alguns relatos de insatisfação. Os moradores na capital temem perder a sua identidade com a corrente proliferação de hotéis. Para além disso, teme-se a especulação imobiliária devido à crescente procura de acomodação. Como tentativa de solucionar a situação, o governo limitou a quantidade de quartos oferecidos no Airbnb.

Os habitantes acreditam na necessidade de um aumento de guardas florestais e, por outro lado, na imposição de uma taxa de ingresso em parques nacionais, porém, esta proposta foi chumbada em 2015 no parlamento. Mas claro que todas estas medidas exigem verbas.

É inegável a relevância do turismo para este país, no entanto, é preciso dar passos no sentido de preservar e proteger a natureza. A pergunta que resta é: estará a Islândia a caminho de uma “bolha” do turismo ? As previsões apontam para o continuar do crescimento do turismo, porém, a ritmos decrescentes. Não obstante esta situação, existe também uma preocupação com a variação cambial, uma vez que o desempenho do turismo está diretamente relacionado com isso.

Caso a moeda suba muito, a bonança do turismo pode-se alterar. Mas, por enquanto, é expectável o turismo continuar a acontecer em grande escala e as medidas de proteção ambiental aumentarem, sobretudo através da imposição de taxas.
Rita Isabel Leite

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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