sábado, 5 de outubro de 2019

Cartões de crédito - amigo ou vilão

Atualmente, a utilização de cartões bancários é uma das formas de pagamento mais utilizadas no mundo. Nesse seguimento, as instituições financeiras criaram vários tipos de cartões para facilitar a vida aos seus clientes e um deles foi, precisamente, o cartão de crédito. Um cartão de crédito permite que o seu titular faça compras sem a necessidade de ter o dinheiro na conta.
Este método de pagamento veio facilitar as compras às pessoas pois, mesmo não tendo o dinheiro, podem fazer aquela compra que tanto querem ou simplesmente um impulso de última hora, ou seja, “Não deixe para amanhã o que pode comprar hoje!”. De facto, as instituições bancárias promovem este tipo de consumo que, no fundo, é nada mais nada menos que a criação de dinheiro irreal. É, por isso, um adiamento do pagamento pelo usufruto de uma compra mais cedo. Realmente, esta ilusão de que é só comprar e pago mais tarde é de facto um risco para muitas pessoas, pois é preciso saber-se as condições do cartão e se efetivamente se consegue pagar aquele montante em falta. Por outro lado, tem muitas vantagens e um cartão deste tipo, usado com consciência, pode ser um grande aliado.
O Banco de Portugal publicou recentemente a Sinopse de Atividade de Supervisão Comportamental referente ao 1º semestre deste ano e apurou que foram abertos 743287 novos contratos de crédito aos consumidores, o que representa uma diminuição de 3,3% face a 2018. Destes novos contratos, foram iniciados 318304 processos PIERSI (procedimento extrajudicial de regularização de situações de incumprimento), envolvendo 268425 contratos de crédito, o que resulta numa dívida de 614,7 milhões de euros. Estes números indicam um aumento de 6,7% relativamente ao semestre anterior.
A maioria dos contratos de crédito aos consumidores foram os créditos revolving (cerca de 77%), as dívidas de cartões de crédito (58,3%), o crédito pessoal (16,9%) e o crédito automóvel (6,2%). Quanto à resolução das situações de incumprimento, foram regularizados 44,8% dos processos, acima do semestre anterior (41,4%). As soluções encontradas para regularização dos mesmos são, preferencialmente, a renegociação do contrato, o refinanciamento da dívida e a consolidação do crédito.
         Esta tendência de aumento de crédito reflete uma conjuntura económica mais favorável e um índice de uma recuperação e de uma confiança nos bancos por parte dos portugueses. As taxas de juro baixas também têm ajudado a que as pessoas recorram a este tipo de créditos, nomeadamente, créditos pessoais (férias, saúde, educação, compra de equipamentos, entre outros) e ainda a cartões de crédito.
A constante propaganda a que as pessoas estão sujeitas relativa aos créditos concedidos pelos bancos ou outras instituições e a sua fácil acessibilidade são fatores importantes para o aumento dos pedidos de crédito. Hoje em dia, não precisamos de ter o dinheiro para comprar o quer que seja, apenas precisamos de um empréstimo para adquirir o que queremos e mais tarde pagamos, de várias formas, nomeadamente de forma faseada. Em tempos de crise, a desconfiança nos bancos e o receio do futuro fez com que houvesse cautela tanto nos pedidos como na sua concessão, no entanto um dos motivos da crise foi precisamente esse, os créditos e seus incumprimentos.
Neste seguimento, a questão que se impõe é: “Este aumento dos créditos não será um indicativo que as instituições têm de abrandar no que toca à sua concessão?” Pois, nos últimos anos temos vindo a assistir a uma recuperação da economia, a números que são orgulhosamente exclamados pelo governo que revelam, efetivamente, que a economia cresce a um bom ritmo.  Por isso, as pessoas sentem-se mais confortáveis com as suas posições económicas e de uma forma ou outra voltam a repetir alguns “hábitos” pré-crise, em vez de se acautelarem e de se resguardarem para que situações de incumprimento não aconteçam. Importa não entrar em consumismos exagerados nem recorrentes, pois podem ter bastantes implicações.

Ana Catarina Silva Freitas 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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