quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Mercado de Transferências – Uma "Janela" para Abrir ou para Fechar?

Sendo o mercado de transferências no Mundo do Futebol uma atividade que movimenta um volume de negócios cada vez com maior significado, inclusive “desconhecendo-se” o relativo aos mercados asiáticos, associado à sua importância social e ao carácter crescente dessa atividade, trata-se de um objeto de estudo que, além de atual, parece vir a ter cada vez mais significado do ponto de vista económico.
A forma semelhante com que eram definidos os períodos cronológicos de transferências tornava este mercado regulado pela procura e pela oferta. As variáveis existentes eram seguramente comuns na maioria das transações. Introduzida a variação na variável cronológica ao nível apenas de uma federação e sendo a mesma de importância marcante, verifica-se que o mercado geral sofreu alteração com essa mesma medida, apesar de unilateral.
Os clubes da Premier League (Liga Inglesa) tomaram a iniciativa: a partir de 2018 ,o período de transferências passou a encerrar mais cedo, antecipando agora o último momento possível para consumar uma transferência para a quinta-feira que antecede o início do campeonato e não o final de agosto, como acontecia anteriormente.
Esta medida foi tomada após se verificar um consenso entre os clubes, que afirmaram que uma janela expandida como a anterior provocava instabilidade na equipa e no campeonato. Não obstante, continua a ser permitida a venda/transferência de jogadores da Premier League para outro clube que atue em qualquer outro campeonato, desde que este tenha o mercado aberto. Assim sendo, o objetivo desta medida é acabar com a possibilidade de um jogador alinhar numa equipa e na jornada seguinte alinhar noutra, na terra de Sua Majestade.
Tendo o mercado de transferências de jogadores de futebol um fator especulativo associado, a possível redução do período de negociação/transferência poderia vir a retirar parte desse valor meramente especulativo, obrigando o negócio a ser mais objetivo, mais predefinido, mais assertivo da parte do comprador, tornando o vendedor menos influenciável a rumores. Esses rumores, por vezes, fazem com que o clube não desça a exigências que podem ser irrealistas tendo em vista a possível chegada de "concorrência" na compra do jogador, ou pode em simultâneo haver no mercado global uma transferência "louca" de 100 milhões, o que aumentaria os valores propostos, tentando assim concretizar o que pela dilatação do tempo possa ultrapassar a dita janela e assim impossibilitar a efetivação do negócio.
Recentemente, foi pública uma tentativa de contratação de Bruno Fernandes ao Sporting por parte do Tottenham a rondar os 65 milhões de euros. Essa transferência acabou por não se dar pelo facto do Sporting fomentar nos media a notícia da transferência e ao mesmo tempo atrasar a decisão, na expectativa de ter mais propostas e de maior montante.
A expectativa do aparecimento de ofertas noutros mercados acabou por gorar-se sobretudo porque, habitualmente, nesses mercados de outras ligas as transferências pautam-se por valores inferiores. Assim, o facto do mercado inglês encerrar mais cedo acabou por tirar o efeito de procura que existia até essa data e que naturalmente não foi contrabalançado por propostas de outras ligas, apesar de cronologicamente ainda ser possível realizar transferências.
O que aparentemente é um mercado com maior número de ofertas, atendendo ao desfasamento cronológico, acaba por se traduzir em momentos em que a procura é menor e, portanto, em termos de procura e oferta esse valor acaba por cair.
A sincronia cronológica parece ser necessária para que exista um modelo padrão, e as equipas possam programar e negociar com base no presente, atenuando uma maior imprevisibilidade associada ao desfasamento de prazos internacionais. Assim, talvez o Sporting tivesse aceitado a oferta de 65 milhões por um jogador avaliado no Transfermarkt em 55 milhões (7/06/2019).

André Vila Mendes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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