sexta-feira, 11 de outubro de 2019

O estado da dívida pública portuguesa

Portugal tem, como se sabe, uma das maiores dívidas públicas do mundo, facto que gera constrangimentos em termos das políticas orçamentais que o país pode adotar. Esta realidade faz com que esteja assustadoramente dependente dos ventos que sopram nos mercados internacionais, e particularmente sensível a variações significativas nas taxas de juro. Assim sendo, torna-se imperativo o controlo dos níveis de endividamento nacionais por parte do futuro governo, de forma a evitar um novo desastre económico.
Portugal tem de aproveitar a atual conjuntura (interna e externa) favorável para alcançar, simultaneamente, dois objetivos aparentemente incompatíveis: o da redução do défice (com a possibilidade de existirem até excedentes orçamentais), de forma a seguir uma trajetória de diminuição da dívida; e, por outro lado, fomentar o crescimento económico para que o país se possa progressivamente aproximar do resto da Europa, e a situação económica dos portugueses possa ser melhorada. Um dos grandes problemas da economia portuguesa é precisamente o de conjugar estas duas questões e encontrar respostas que deem solução a ambas, visto ser complicado reduzir a dívida ao mesmo tempo que se tomam medidas de incentivo à economia, ou, pelo caminho inverso, fomentar a economia enquanto se “aperta o cinto”.
Este ponto apenas se coloca devido às más políticas tomadas no passado, que arruinaram as contas públicas e deixaram o país numa situação extremamente debilitada. A dívida pública em percentagem do PIB passou dos 62%, em 2004, para mais de 130%, em 2014 – por outras palavras, duplicou numa década. Apesar da situação económica mundial não ter sido a mais favorável durante este período, a realidade que os números refletem espelha também a incompetência por parte dos governos que lideraram a nação.
Durante esta fase, os governos tentaram duas formas de tentar resolver a crise. Inicialmente, durante o governo chefiado por José Sócrates, o Estado procurou tomar medidas de incentivo ao crescimento[1], o que fez disparar a despesa e, consequentemente, a dívida e as taxas de juro a ela associadas, provocando a necessidade de recorrer a ajuda externa[2]. Numa segunda fase, já com o governo do PSD, apoiado pelo CDS, e com maiores restrições em função do memorando assinado com a Troika, tomou-se a via da austeridade, que procurava domar as contas públicas a todo o custo e inverter a espiral negativa em que o país se encontrava. Nem uma nem outra abordagem demonstraram ser totalmente capazes de lidar com a situação pela qual Portugal passava na altura, com destaque para a primeira, que, através do completo desprezo que demonstrou para com a sustentabilidade no futuro, teve efeitos extremamente nocivos para a economia a longo prazo.
Atualmente, estando a dívida na casa dos 121,5% (2018), Portugal encontra-se ainda longe de uma situação que se possa dizer ser realmente confortável. Sendo verdade que o país tem obtido bons resultados nesta matéria nos últimos anos, estes não são suficientes, e Portugal tem tido bastante mais dificuldades para diminuir a despesa e regressar aos valores desejados de endividamento (recorde-se que o definido pela UE no Pacto de Estabilidade e Crescimento é de 60% do PIB) do que aquelas que teve para os aumentar.
Esta diminuição da dívida em termos relativos tem sido possível devido a uma gestão cautelosa e criteriosa das contas nacionais por parte do atual ministro das finanças, Mário Centeno[3]. Também a atuação do BCE se assume como fundamental ao bom momento das finanças públicas, uma vez que permitiu que Portugal (assim como outros países da UE em dificuldades) disfrutasse de taxas de juro mais baixas. Apesar dos bons indicadores, é necessário procurar fazer mais pela saúde e sustentabilidade de longo prazo da dívida portuguesa.
O próprio crescimento económico português segue na mesma linha: desempenho positivo, acima da média da UE, mas não brilhante, havendo vários países europeus a crescer a ritmos ainda mais acelerados[4]. Com tempos que se adivinham difíceis tendo em conta a constante ameaça de guerras comerciais, a situação do Brexit, e o abrandamento de economias com as quais o nosso país tem fortes relações comerciais, como a Alemanha ou o Reino Unido, Portugal necessitará de tomar também medidas de fomento ao crescimento.
O mais difícil é encontrar uma solução que consigo aliar estes dois pontos – crescimento económico e redução da dívida; responsabilidade que caberá ao futuro executivo. E, em período eleitoral, convém estar atento às propostas de partidos mais populistas, que ameaçam deitar por terra todo o trabalho feito nesta matéria. Partidos como o BE e a CDU, apelam a constantes aumentos do peso do Estado na economia, do investimento público, dos salários e pensões/subsídios sem considerarem as consequências para a economia e para as contas nacionais.
Qualquer que seja a solução governativa, uma gestão mais conservadora e eficiente dos dinheiros públicos, e um cuidado extra para que o défice e a dívida se encontrem sempre em valores sustentáveis parece impor-se. Até porque, caso este controlo não seja feito agora, o problema continuará a assombrar a economia portuguesa no futuro, constituindo um entrave à política orçamental durante longos e difíceis anos.

Diogo Miguel Simões de Sousa Pinto Abreu

Referências:
Dados: Fonte – Eurostat: https://ec.europa.eu/eurostat/data/database


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