segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Mais e mais moeda…

Será que a produção de moeda é a resposta às crises económicas e financeiras? De forma simplista, a maioria das pessoas responderia afirmativamente à questão. Contudo, se pensarmos qual será o efeito de longo prazo desta, tal não seja verdade.
Um dos casos mais mediáticos é a Venezuela, que está numa situação de hiperinflação. Mas como chegou a este ponto? A Venezuela é dos países produtores de petróleo que tem as maiores reservas, sendo esta a fonte mais importante de receita externa do país. Durante anos, o negócio petrolífero foi bem-sucedido, tendo Hugo Chávez injetado a receita do petróleo em programas de bem-estar social. Porém, em 2013, ocorreu a morte de Chávez, sendo o seu sucessor Nicolás Maduro.
Em 2014, o preço do petróleo caiu abruptamente, o que levou a uma queda sucessiva das receitas que, aliada a uma desaceleração da produção, agravou ainda mais a situação económica venezuelana. Por outro lado, o desenvolvimento industrial e agrícola do país nunca foi alvo de preocupação por parte do governo, incluindo o desenvolvimento da indústria do petróleo. Ocorreu a nacionalização de algumas indústrias (cimento e aço), o que, por sua vez, levou empresas do setor privado a substituir a sua produção por importações mais baratas. Inclusive, o governo adotou políticas de controlo de preços, permitindo controlar a inflação artificialmente.
A conjugação das medidas anteriores, aliada ao controlo cambial, levou a uma crescente dependência das importações. Sendo que de modo a manter o financiamento dos programas sociais, inicialmente pagos com o dinheiro das receitas da indústria petrolífera, o Estado viu a sua dívida aumentar.
Em agosto de 2018, Donald Trump, presidente dos EUA, decidiu impor sanções ao país, proibindo transações com títulos de dívida venezuelana. Como a maior parte dos países tem relações financeiras com os EUA, esta sanção imposta dificultou a possibilidade de realizar novos empréstimos e também que o país conseguisse vender ativos e renegociar a sua dívida.
Como referido anteriormente, ao tentar supervalorizar o bolívar (moeda venezuelana), ocorreu uma distorção do valor real da moeda, ocorrendo hiperinflação, ou seja, tornou necessário muita quantidade de moeda para pagar produtos simples, como pão ou papel higiénico.

                               Fonte: sabado.pt


                                   Fonte: FMI
Em paralelo à crise económica, ocorreu e decorre uma crise política. No início de 2014, decorreram imensas ondas de violência e protestos contra o governo de Maduro, sendo que no ano seguinte o governo perdeu o controlo do Parlamento. Em 23 de janeiro deste ano, a crise intensificou-se com a auto-proclamação do oposicionista, Juan Guaidó, como presidente interino da Venezuela, acontecimento muito apoiado por Trump.
Todo este cenário destrutivo levou à fuga dos cidadãos venezuelanos, criando uma das maiores crises migratórias da região. Segundo dados da ONU, esta crise levou à fuga de mais de 2,3 milhões de pessoas. Contudo, o governo declarou o fecho de certas fronteiras, dificultando a entrada de ajuda humanitária no país, de modo a combater a escassez de alimentos e medicamentos.
A nível internacional, em fevereiro do corrente ano, 19 países, incluindo Portugal, reconheceram Guaidó como presidente interino, numa declaração conjunta, com o objetivo de convocar eleições presidenciais democráticas.
De modo a “facilitar as transações comerciais”, a partir do dia 13 de junho foram criadas três novas notas: 10.000, 20.000 e 50.000 bolívares (1,43, 2,87 e 7,19 euros, respetivamente). Contudo, é de salientar que a nota de 50.000 bolívares é superior ao salário mínimo mensal (40.000 bolívares).
O fim da crise venezuelana ainda está longe de terminar, contudo, na minha opinião, um diálogo com respeito mútuo com vista a uma negociação e concessões seria uma solução possível, apesar de ser morosa e bastante complexa.

Isabel Miranda

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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