domingo, 20 de outubro de 2019

Utopia da Educação

        “Education is the best economic policy there is.” Tony Blair tinha razão ao afirmar que a Educação é a melhor política económica que existe. Porquê? É do conhecimento geral que a Economia e a Educação andaram sempre de mãos dadas. Nesta sociedade de informação e de mudança, onde a criatividade e o individualismo habitam, a Educação é um recurso essencial para o desenvolvimento das economias mundiais. E a verdade é que a Educação é um fator relevante nas políticas públicas, com o objetivo de combater a exclusão e preservar os vínculos sociais.
Assim, a Educação e a formação tornaram-se as ferramentas necessárias para o alcance de uma sociedade mais competitiva e em crescimento. Mas será isto mesmo verdade? Será a Educação sinónimo de crescimento económico? E será que isto acontece para todas as sociedades, no sentido de todos os indivíduos adquirirem as mesmas competências consideradas essenciais para entrar no mercado de trabalho atual?
Nenhum país atinge um grande desenvolvimento económico sem ter apostado em capital humano. A verdade é que só podemos atingir um crescimento económico sustentado se não alienarmos uma Educação de qualidade. O grande objetivo das economias atuais é competirem num mundo cada vez mais exigente, isto é, caraterizado por alterações tecnológicas e métodos de produção diferentes. Ter uma economia suficientemente aberta e sustentada na exportação e importação de bens e serviços é sinónimo de crescimento e, para isto ser atingido, é necessária uma mão-de-obra produtiva para levar uma economia a atingir prosperidade e desenvolvimento. E uma mão-de-obra produtiva é conseguida através de políticas que fomentem a Educação nos países.
Contudo, é notório que nem todos os países têm o mesmo acesso à Educação. Mas como é que podemos definir Educação? Educação é apenas aquilo que nos é ensinado em sala de aula? Não! A meu ver, a Educação é uma definição genérica do conhecimento total que um indivíduo possui. Nesta definição de Educação, além da aprendizagem em sala de aula, estão também englobados, por exemplo, os livros que uma pessoa lê, os valores sociais que se assimilam ao longo das suas vivências e as competências transversais que um indivíduo possui.
Nos últimos tempos, devido à crescente competitividade que existe no mercado de trabalho, o elemento diferenciador das pessoas são, necessariamente, as competências transversais. Desta forma, as soft skills tornaram-se a chave para muitos indivíduos colmatarem a sua Educação e apresentarem um currículo mais sólido. E é a par disto que o World Economic Forum divulgou um estudo intitulado “New Vision for Education - Unlocking the Potential of Technology”.
Este estudo baseia-se na seleção de 16 competências que consideram ser as mais críticas do século XXI, num estudo que abarca 91 países. O objetivo desta pesquisa é ver as lacunas existentes entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento e a prova de que há muitos alunos, ao redor do mundo, que não estão a ter a Educação e a fomentar as competências necessárias para atingirem prosperidade no séc. XXI.
Estas competências, em sentido geral, estão divididas em três grupos: as literacias fundamentais; as competências técnico-profissionais e criatividade; e as qualidades de carácter. Para estas soft skills serem objeto de análise foram usados indicadores e índices para a sua mensuração, como, por exemplo, o PISA, o Índice de Criatividade Global e o Índice de Diversidade Cultural.

 

FONTE: New Vision for Education - Report (2015)

Assim, através destas competências podemos efetuar uma comparação entre países. Contudo, não seria sensato compararmos países com diferentes níveis de rendimento, porque já se saberia de antemão que existiriam discrepâncias avultadas. Desta forma, este estudo dividiu os países em 5 Clusters.


FONTE: World Bank

Com a observação gráfica acima, podemos tirar uma conclusão notória entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Ora, os países desenvolvidos (Cluster 1), que incluem países como Estados Unidos e a Alemanha, tendem a ter uma melhor performance, em média, na maioria das competências, em comparação com países em desenvolvimento (Cluster 3), que incluem países como a Turquia e o Brasil. Contudo, é ainda mais desafiador efetuar comparações entre os grupos 4 e 5, que incluem a África Oriental, visto que muitos destes países não fizeram parte dos índices de comparação.
         Algo interessante neste estudo é que podemos fazer uma análise detalhada entre os países com rendimento elevado da OCDE e a sua performance em cada soft skill. De uma forma geral, países como o Japão, Finlândia e Coreia do Sul são os que apresentam um melhor desempenho em praticamente todas as competências.
Desta forma, temos um panorama geral para também concluir que o Chile, a Eslovénia e Israel apresentam os piores resultados deste grupo. Para além de fazermos uma análise vertical, onde encontramos várias lacunas, também existem diferenças horizontais em cada país. Por exemplo, a Polónia apresenta uma boa performance em indicadores relativos às literacias fundamentais, mas apresenta lacunas no pensamento crítico e curiosidade. Desta forma, este gráfico pode servir de retrospeção para cada país, no sentido de cada um ver quais são as competências que tem que aprimorar.


Seria interessante olharmos concretamente para o caso português. Portugal apresenta 49% na classificação percentual do país, em comparação com o mundo. Desta forma, verificamos que Portugal precisa de melhorar, essencialmente, as competências em TIC, ou seja, a habilidade de usar tecnologia e saber criar conteúdo e criatividade. Porém, a nossa classificação não está bem notada e é de salientar que Portugal devia passar por uma reestruturação com base em aumentar as competências consideradas essenciais para um indivíduo se envolver no mundo atual, com facilidade e reconhecimento.



               Posto isto, que soluções é que os países deveriam implementar para colmatar as lacunas existentes nestas competências? A tecnologia educacional tem sido posta em prática, baseando-se em disponibilizar a Educação para um público mais amplo e a um custo muito menor, em aumentar a produtividade dos professores e apostar noutras formas de aprendizagem diferenciada ou disponibilizar uma instrução de qualidade a um preço igualitário. Esta tecnologia educacional pode ser implementada para desenvolver as competências do séc. XXI, como a comunicação, criatividade ou a persistência. Contudo, a tecnologia, que é um recurso em grande expansão na nossa sociedade, mas não colmata todas as lacunas, é apenas um elemento num conjunto vasto de soluções que permite a diminuição das disparidades.
               Em suma, uma aposta na Educação, por parte dos indivíduos, e uma reestruturação das políticas dirigidas ao setor, com vista a uma melhor aquisição de competências essenciais, é a chave para a sobrevivência num mundo altamente competitivo e é um dos maiores desafios que um país tem de atravessar, caso pretenda atingir prosperidade e crescimento económico.

Mariana Azevedo Gomes

Referências:

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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