terça-feira, 8 de outubro de 2019

As medidas ambientais em Portugal

Hoje em dia, todos os cuidados com o ambiente e com o impacto sobre o clima são poucos e muito urgentes, se queremos ser uma geração solidária com os mais desfavorecidos e indefesos, bem como com os vindouros. Neste sentido, é cada vez mais nítida e notória a preocupação das populações, dos governos e das ONG com as questões ambientais e com a extinção de recursos naturais a médio e longo-prazo, gerados pelo excesso de consumo e pela ambição de poder e riqueza.
Os governos de alguns países, entre avanços e recuos, têm vindo a tomar medidas que reduzam o impacto ambiental e estimulado um consumo sustentável. Entre estas, na atualidade, têm tido particular enfoque a redução do consumo de carnes vermelhas, a diminuição do uso do papel e a eliminação do plástico.
O consumo de carnes vermelhas é para muitos considerado extremamente prejudicial para a saúde e, também, para o ambiente, tanto a nível de gastos como a nível de emissões de gases de efeito de estufa (metano e dióxido de carbono). Neste segmento de pensamento, o governo propõe a redução de 50% na produção de carne bovina até 2050 pois, segundo vários estudos feitos em Portugal, por um quilograma de bifes de carne vermelha cortado, incluindo o processo de digestão dos ruminantes e o uso de fertilizantes nas pastagens, são emitidos 27 kg de dióxido de carbono, o equivalente a uma viagem de carro de 146 km. A nível económico, depois de efetuada esta proposta, é de esperar que as carnes vermelhas possam chegar a Portugal a preços mais “competitivos”. Deste modo, estar-se-á a atuar estrategicamente para que baixe o consumo de carnes vermelhas e, simultaneamente, para que não se comprometa o crescimento económico.
Acredita-se que este conjunto de medidas contribua para a liberalização do comércio mundial, e que daí decorre um benefício para a nossa economia, visto que Portugal importa metade da carne que consome, apesar de exportar animais vivos.
Contudo, as medidas de redução da produção e consumo de carne bovina trarão no curto prazo impacto negativo na economia agrossilvopastoril portuguesa, dado que a componente animal tem grande influência nesse sistema. Este ponto de vista é corroborado pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), que mostrou “surpresa e oposição” à redução da produção e consumo de carne bovina, defendendo que a mesma pode “comprometer o crescimento económico”. O presidente da CAP afirmou, com veemência, que o país “tem é de reduzir o que importa e não o que produz”. E defende que, “se as pastagens biodiversas fixarem 500 toneladas de CO2 e emitirem 140, há um balanço positivo”.
E quanto ao plástico e ao papel?  E as preocupações com a vida marinha?
Em outubro de 2018, foi proibido o uso de garrafas, sacos e louças de plástico na administração do Estado. Adicionalmente, o governo visa reduzir o consumo de papel em 25%. Prevê-se que a redução do consumo de papel e demais consumíveis origine a otimização de processos e a atualização de procedimentos administrativos, a par de uma dimensão ambiental de uso eficiente de recursos. A longo prazo, espera-se uma racionalização da despesa pública efetiva acompanhada de mudanças tanto culturais como de hábitos e práticas.
Reduzir a produção e o consumo de plásticos culmina num projeto para a proteção da vida marinha. Nos últimos anos, a poluição marinha tem vindo a agravar-se, sendo disso um bom exemplo o conjunto de notícias que hoje circulam, em especial as de animais marinhos que engolem materiais de plástico que acabam no oceano e das enormes ilhas de plástico no Oceano Índico.
Claramente que a diminuição da produção de plástico e de papel será crucial para preservar o ambiente. Devemos e podemos arranjar soluções mais ecológicas e económicas como, por exemplo, apostar nas tecnologias ao invés do uso de papel, e investir no uso de materiais alternativos aos plásticos em materiais tecnológicos com maior durabilidade que os atuais.
Em suma, é claramente visível que tanto o nosso planeta como o nosso país poderão, de um modo geral, ser caraterizados por terem sociedades consumistas e egoístas, só tomando medidas de vulto adequadas quando o impacto dos desequilíbrios ambientais nos afetam direta e negativamente. A nível ambiental, é crucial que todos mudemos de atitude, para que consigamos dar a volta à situação em que nós próprios nos pusemos, sendo de realçar a particular responsabilidade daqueles que dominam a economia. Espera-se que o resultado da diminuição de materiais poluentes no nosso ecossistema resulte num decrescimento efetivo da despesa pública e num crescimento económico saudável. Isso deverá permitir o recorrentemente anunciado arrepiar de caminho, fazendo a urgente e premente inversão de sentido, colocando-nos, em definitivo, na rota irreversível de um desenvolvimento económico sustentável e de uma sociedade verdadeiramente democrática e solidária com as gerações futuras.

Ana Isabel Gomes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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