domingo, 6 de outubro de 2019

“Trade Wars”: como Trump falha em compreender conceitos macroeconômicos básicos

Desde a campanha eleitoral, o défice comercial com a China tem sido uma das principais preocupações do presidente Trump. Não demorou muito para seu discurso se tornar ações que eclodiram em uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. A guerra comercial tem um nome muito explicativo e consiste no ataque às exportações de um país através de tarifas, a implementação de tarifas é retaliada e o processo se repete.
Os argumentos de Trump contra as práticas de comércio da China são surpreendentemente válidos, tendo em vista a incapacidade do presidente americano de compreender o que os efeitos destas práticas representam. O presidente americano acusa o governo Chinês de artificialmente desvalorizar sua moeda, aumentando a competitividade dos produtos chineses no mercado internacional. Além disso, empresas chinesas são acusadas de roubar propriedade intelectual de seus competidores americanos. Outro problema é o fato de o governo chinês manter relações especiais com empresas nacionais, o que tende a dificultar a entrada de empresas internacionais no mercado local. Todas estas práticas levam de fato a uma competição injusta no mercado internacional e devem ser combatidas por qualquer país que se sentir lesado. Entretanto, as ações de Trump são incoerentes com suas preocupações e os efeitos de uma guerra comercial são dificilmente justificáveis.
As preocupações são duas: o crescente défice na balança comercial entre Estados Unidos e China e trazer os empregos de volta para os Estados Unidos. Primeiramente, o défice tem crescido, especialmente desde a entrada da China na OMC. Esta persistente diferença aponta que os EUA têm perdido produtividade em relação aos chineses. Além disso, assim como diversas economias desenvolvidas, a americana tem migrado para o setor terciário. Caso a intenção do presidente seja realmente reduzir o défice, uma solução eficaz, ainda que possivelmente desnecessária, seria estimular o investimento nos setores que vêm perdendo competitividade. Segundo, os empregos são a questão mais bizarra a ser levantada, isso porque os Estados Unidos têm encontrado taxas de desemprego que vem diminuindo desde a administração anterior e atualmente se encontram historicamente baixas, em 3,6%. A impressão é que o foco não são os empregos mas sim uma intenção motivada por nostalgia de ressuscitar indústrias moribundas, como a do carvão.
Diferente das preocupações do presidente, os efeitos da guerra comercial são extremamente reais e nocivos, não só para a economia americana mas como para a economia global. As tarifas aumentam não só o preço dos produtos taxados mas também de toda a cadeia de produção que os utiliza como insumos. Este aumento de preço atinge o consumidor final, reduzindo o consumo. O problema é que em economias tão grandes como a China e os Estados Unidos esse encarecimento de produtos e insumos atinge níveis globais, enfraquecendo o comércio no resto do mundo. Outro impacto acontece no valor do dólar: devido às tarifas, a oferta da moeda no mercado internacional se reduz, isso porque está sendo captada pelo governo. Esse processo leva à apreciação do dólar, o que serve justamente contra o propósito de Trump, que é reduzir o défice da balança comercial. Provavelmente por isso o presidente tenha demonstrado seu interesse na redução de taxas de juros com intuito de estimular a economia, externando críticas muito fortes ao presidente do FED.
Em meio a declarações polêmicas e práticas protecionistas, se dá a política internacional norte americana. O fato é que Trump tem comprado brigas em diversas frentes e tomado ações que muitas vezes prestam um desserviço aos seus propósitos. Por fim, é difícil prever como vai se dar a resolução dessa guerra comercial uma vez que os dois países não estão interessados em ceder. A única certeza é que a economia global, que caminha para uma crise, aguarda ansiosamente o fim dessa disputa.

Gabriel Costa Mendes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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