quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Publicidade menos doce

A publicidade está aí ao virar da esquina e em cada esquina. Diariamente, somos confrontados com inúmeras propagandas chamativas que visam aumentar a nossa procura de bens. O número crescente de anúncios que invadem o nosso dia-a-dia tornam apelativo o consumo, por vezes desnecessário, acabando por ter consequências a vários níveis. Afinal, qual será o impacto das publicidades nas nossas vidas?
O mercado publicitário é fundamental para a economia portuguesa. Permite a criação de riqueza e de empregos, promove a inovação de produtos e serviços, assim como incentiva a concorrência. As campanhas publicitárias proporcionam benefícios para a sociedade, sendo indispensáveis para a divulgação de atividades culturais e de novos produtos, ajudando a promover a responsabilidade social e a alterar modos de vida e mentalidades. Não obstante, nem todas as publicidades são um mar de rosas, podendo ter repercussões negativas.
De acordo com um estudo da Deloitte, o investimento total em publicidade foi cerca de 571 milhões de euros em 2017. Estima-se que este investimento tenha contribuído com aproximadamente 2,5 mil milhões de euros para o PIB português. Ao nível da criação de postos de trabalho, o impacto total do setor da publicidade rondou os 51 250 empregos. É de realçar a evolução média anual de 2,4% neste setor, desde 2012.
A televisão ganhou o primeiro lugar como  meio de propaganda, tendo se evidenciado o aumento de importância da publicidade digital em relação aos outros meios publicitários. Salienta-se que o investimento publicitário não manifesta a mesma magnitude para todas as indústrias, sendo que no topo das posições para os setores que mais beneficiaram em 2017 deste investimento encontram-se o comércio, o setor farmacêutico, a indústria automóvel e os produtos alimentares.
Em relação a este último grupo de bens, uma nova lei aprovada este ano destina-se a colocar restrições aos anúncios publicitários dirigidos às crianças. De modo a incentivar e promover estilos de vida mais saudáveis, os alimentos com excesso de açúcar são um alvo a abater. Assim sendo, as publicidades a produtos alimentares com elevado valor energético, teor de sal, açúcar, ácidos gordos saturados e gorduras tornaram-se vítimas de restrições, estando os anúncios a estes produtos proibidos na televisão, na internet, e na proximidade de escolas e parques infantis. Com efeito, as limitações no mercado publicitário apresentam implicações económicas, sociais e culturais.
Maria João Gregório, diretora do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, declarou que “ A lei tem como objetivo limitar o estímulo ao consumo de alimentos menos saudáveis ou não saudáveis. A verdade é que a investigação científica diz que a publicidade tem impacto no consumo alimentar das crianças, com impacto no seu estado de saúde na infância e depois na idade adulta”.
Será que esta mudança vai ter impactos avultados no setor da publicidade? Do meu ponto de vista, esta restrição levará a mudanças razoáveis na estrutura e no perfil do investimento comercial. Efetivamente, a indústria dos refrigerantes e dos chocolates investe enormes quantias em campanhas publicitárias e desta forma uma parte destes investimentos desaparecerá, tendo consequências na sustentabilidade do setor publicitário. Estas restrições vão empobrecer o mercado, acabando por afetar um vasto elenco de marcas e produtos. Apesar da ausência de valores concretos, naturalmente irá provocar impactos no setor publicitário.
Mas será que as restrições neste setor serão capazes de alterar o consumo dos mais jovens? Na minha perspetiva, esta medida contribuirá eventualmente para a redução do consumo de alimentos empobrecidos em vitaminas. Esta lei é direcionada para controlar a publicidade a alimentos presentes em supermercados, destinando-se a reduzir escolhas alimentares menos saudáveis e a obesidade infantil. A publicidade influencia os comportamentos e as escolhas dos consumidores e por este motivo não publicitar este tipo de alimentos tende a desencorajar os indivíduos na sua aquisição. Apesar destes produtos continuarem presentes na hora de fazer as compras, o facto de não existir um apelo ao seu consumo pode ser considerado um fator relevante para alterar escolhas alimentares.
Em suma, estas restrições colaboram de forma positiva para a moderação do consumo de alimentos menos saudáveis e que acabam por prejudicar a nossa saúde, ajudando a promover um estilo de vida mais saudável. O fim destas campanhas publicitárias cria espaço para o aparecimento de um novo mundo, emergindo anúncios ricos em nutrientes e sabores.

Filipa França da Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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