quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A Cultura e a Criatividade na Internacionalização da Economia Portuguesa

Na última década, a taxa de crescimento média anual das exportações culturais e criativas excedeu os 10%, posicionando-se acima do ritmo exportador da economia portuguesa como um todo (9,8%).
Deste modo, a cultura e a criatividade representam elementos transversais e decisivos no processo de reforço da internacionalização e da competitividade da economia portuguesa. Todavia, têm sido erroneamente menosprezadas pelos decisores políticos. Como tal, a exploração de três grandes sinergias, a cultura, o turismo e a indústria, aliadas à inovação e à diferenciação, constituem o reforço da capacidade de produção de bens e serviços com grande valia à escala global, permitindo ao tecido empresarial português impor-se nos mercados externos, da música ao turismo, do cinema ao calçado, do artesanato à ciência. 
Assim sendo, a sinergia cultural propõe um novo dinamismo de projeção internacional das atividades culturais e criativas, partilhando riscos e custos. Através da colaboração dentro e fora deste setor será possível aceder a informação relevante sobre as oportunidades de internacionalização, adquirir competências e melhorar a abordagem aos mercados externos e explorar a diversidade de programas de apoio à exportação. Adicionalmente, é essencial promover o setor cultural e criativo de forma a fortalecer a exposição, o prestígio e o reconhecimento internacional, reforçar os contactos e vínculos no exterior, potenciar estratégias de comercialização e de marca e explorar novos canais de distribuição. Por fim, é necessário conectar o setor cultural e criativo, desenvolvendo parcerias tecnológicas para a transição digital, de modo a tirar pleno partido da maior plataforma de internacionalização que é a internet. 
Relativamente à sinergia turística, importa a relevância da cultura na atração de turistas e do turismo como plataforma exportadora. De forma a fomentar a internacionalização e a competitividade, é fundamental diferenciar os destinos turísticos, oferecendo experiências únicas, autênticas e originais a nichos de mercado a setores sociais com maior poder de aquisição. De forma adicional, é necessário segmentar, aprofundando a compreensão das caraterísticas e das motivações dos visitantes, de modo a maximizar as potencialidades do destino turístico. Por fim, é fulcral interagir, através da utilização das tecnologias de informação e comunicação, disponibilizando informação personalizada, abrangente e atualizada, de modo a potenciar a inovação nos produtos turísticos. 
Complementarmente, a sinergia industrial propõe um avanço em direção a uma nova especialização e a um novo paradigma competitivo, onde a cultura e a criatividade se juntam ao conhecimento, para oferecer às empresas portuguesas uma combinação original de inovação e diferenciação, suscetível de reforçar a sua competitividade internacional e alargar a exportação de valor acrescentado. Para tal, é necessária uma diferenciação e inovação dos produtos que Portugal vende ao exterior, potenciando a inovação incremental e de índole não tecnológica, optando por uma especialização inteligente, através da concentração dos recursos nas áreas mais promissoras em termos de vantagem comparativa, e optando pelo elemento chave - o design
É também essencial a promoção de ambientes multidisciplinares e a procura de formas de eficiência coletiva onde as organizações culturais e criativas possam colaborar com empresas de outros setores. Importa ainda referir que são necessárias medidas mais eficientes de política pública para incentivar o investimento das empresas em fatores imateriais de competitividade, capazes de gerar bens e serviços inovadores que vençam nos mercados internacionais.
Assim, constata-se que é evidente o papel da internacionalização do setor cultural e criativo e o seu contributo para o reforço da competitividade internacional do turismo e das indústrias nacionais no processo de aceleração da globalização. Apesar dos constantes cortes orçamentais, prevê-se uma otimização dos resultados em termos de emprego qualificado, de criação de riqueza, de exportação de produtos e serviços com valor acrescentado e de sustentabilidade económica e social. Citando Augusto Mateus “Vamos para a globalização com aquilo que somos”. 

Ana Raquel Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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