domingo, 19 de outubro de 2014

Portugal dos Pequeninos

Após uma crise sem precedentes e o começo da recuperação da mesma, cada vez mais perguntamos o que fazer para impulsionar a actividade económica? A realidade Portuguesa mostra-nos que as PME’s são uma boa decisão pois têm um peso substancial na economia do nosso país, constituindo cerca de 99,9 % do tecido empresarial Português (um total de 1110905 empresas), sendo que cerca de dois terços das mesmas se localizem no Norte do país. Representam ainda cerca de 58,8 % do volume de negócios nacional, bem como empregam cerca de 78,5 % da população empregada portuguesa, segundo dados do INE em 2011.
Não podemos negar a responsabilidade deste tipo de empresas na criação de emprego, mas também no crescimento das nossas exportações e da produção nacional, representando cerca 61,1% do valor acrescentado no nosso país, ou seja, cerca de dois terços do que é produzido em Portugal é através das PME’s.
Contudo, estas enfrentam uma realidade em Portugal desvantajosa, onde a diminuição da procura interna (resultante do aumento da carga fiscal) e a falta de financiamento, bem como a dificuldade no crédito levam a que o número de insolvências e falências deste tipo de empresas tenha crescido cerca de 444,4% desde 2007 no nosso país. 
As dificuldades no acesso ao financiamento resultam principalmente da elevada exposição da dívida destas empresas, dos critérios mais apertados e do elevado nível de imparidade da banca, o que leva a que esta invista preferencialmente na dívida soberana e nas grandes empresas, em detrimento do investimento nestas organizações, especialmente no que toca ao crédito bancário, principal instrumento de financiamento, representando o crédito às PME’s 30% do seu total. Todavia, o nível da dívida deste tipo de empresas ascende, em Junho de 2013, a 167 mil milhões de Euros, o equivalente ao PIB português.
Mas é no financiamento a médio prazo, aquele que é capaz de levar as empresas a inovar, bem como aumentar a competitividade, que existe maior necessidade. Assim, é necessário desenvolver outro tipo de alternativas de financiamento para as empresas. O acesso a fundos comunitários, a dinamização da Bolsa de Valores para as PME, o estímulo do capital de risco, incentivos para os aumentos de capital e a retenção de lucros estão em cima da mesa. É aqui que o Estado pode intervir de forma a proporcionar as mesmas condições do mercado internacional, através do regime tributário simplificado para as PME’s. 
Não é só no acesso ao financiamento que estas empresas possuem dificuldades, as PME’s portuguesas têm das facturas energéticas mais pesadas, bem como o crédito mais caro da zona Euro. Os custos de contexto, como os impostos e a demora que se faz sentir na justiça não ajudam a que estas consigam competir com empresas internacionais da mesma dimensão. Apesar destas complicações, estas conseguem ainda assim competir internacionalmente, através da diferenciação e da alta qualidade dos produtos que apresentam, ou seja, as PME’s portuguesas vêem cada vez mais a inovação tecnológica, a internacionalização e a aposta em capital humano altamente qualificado como o caminho para a longevidade e o crescimento sustentável das empresas.
O domínio destas empresas na maioria dos sectores (excepto o sector da electricidade, informação e das telecomunicações) e a sua capacidade de se adaptar à mudança tornam-nas “o pilar fundamental para o crescimento da Economia Europeia”. Porém, o difícil acesso ao financiamento ao longo dos últimos anos levou a que muitas delas tivessem que fechar as portas. De forma a estimular o sucesso destas empresas é necessário cada vez mais investimento privado e maior facilidade no financiamento, para que seja possível apoiar a criação de emprego e valor acrescentado por parte destas empresas. Não há recuperação económica sem que este “batalhão”  tenha crescimento da facturação e melhorias de rendibilidade, pois o desempenho e o sucesso empresarial destas organizações é, também, o sucesso de Portugal.

Tiago Marques

Fontes:
http://www.publico.pt/opiniao/jornal/a-sustentabilidade-financeira-das-pme-face-aos-desafios-de-financiamento-27364604

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

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